Dia 8 de novembro de 1986 era para ser uma noite de sábado iluminada e festiva. Mas não foi assim que aconteceu. E, neste trágico dia, infelizmente, meu painho, marca o fim de sua existência, aqui, na terra, com sua esposa amada, à época, uma linda mulher de trinta e poucos anos e suas filhas. Mas quis o destino, ou sei lá quem, que o final deste romance não tivesse um beijo tão desejado dos jovens apaixonados com sua família feliz.
No asfalto, daquela trágica noite de sábado, o destino nos reservou um triste adeus a José Alves da Silva, morto em acidente de trânsito, aos 48 anos de idade, cheio de vitalidade, saúde e alegria... O culpado nunca foi condenado. Já, a família dele, do meu painho, ficou destruída sem seu principal elemento, mas com toda dor, arrancando a nossa alma, tivemos que levantar.
Era imperativo sacudir a poeira e seguir em frente, porque a vida continua apesar das intempéries e tempestades. Apesar dos naufrágios, dos tsunamis, das guerras sangrentas, da violência citadina, que vivemos em pleno Século XXI. A vida segue seu curso normal mesmo quando nossa única vontade é fechar os olhos e dormir profundamente, sem ninguém a nos despertar.
Entretanto, tudo que não queríamos era fechar os seus olhos, meu painho, meu verdadeiro amor, naquele sábado. Hoje, olhando para trás, percebo que são trinta anos sem você, bem mais tempo do que pude estar ao seu lado, aprendendo com o teu amor e tua generosidade. Vem em minha mente agora a música interpretada por Maria Bethânia, composição de Caetano Veloso: “Não quero que o nosso amor / Seja um buraco no não / Mas sinal na trajetória / Da vida e da canção / Marca de queda e vitória / Na palma da mão / Sombra, memória e por vir do coração...”.
Como disse Publio Sírio: "Ninguém pode fugir ao amor e à morte". Eu testemunho: nem o tempo cura a dor de perder um pai e muito menos diminui a saudade de não poder mais ver alguém que tanto amamos. Se existem verdades translúcidas e incontestáveis, esta é uma dessas, porque estas três décadas foram passando, ora lenta e crucial, noutras o relógio deu um salto com a sapiência das águias.
Meu painho, mainha não quis mais outro amor e todo dia fala de você, pensa em tudo que vocês viveram, resmunga, chora ou fica com o olhar perdido. Lú, a sua caçula, cuida dela com todo zelo e amor do mundo. Eu alcei voos para bem longe, mas sempre volto. E, quando volto, às vezes tenho a impressão que está tudo do jeito que você deixou. Mas é só impressão. Nossas vidas sem você deu uma reviravolta gigante. Estamos seguindo. Minha ou nossa (mainha, Lú e eu) certeza: você será sempre o primeiro e verdadeiramente inesquecível amor de nossas vidas.
Seu auxílio e apoio em nossas descobertas, escavações, caminhadas, arrancadas, lágrimas, lutas, derrotas, desânimos, vitórias, tentativas, desistências, tristezas e alegrias nestes trinta anos de sua morte foram insubstituíveis. A cada momento difícil lembrava-me do seu colo. Em cada tristeza ou decepção, me lembrava de sua palavra de ânimo e coragem. E, em cada vitória conquistada, todas nós (mainha, Lú e eu) sentíamos/sentimos sua falta na plateia para comemorar conosco. Não foi nada fácil e até nosso reencontro sei que não será.
Enfim, amadurecemos com as inúmeras contrações e relaxamentos a que nos expusemos para driblar as adversidades e conquistar sonhos, espaços, títulos, amigos, mas, sobretudo, atitude para bem viver e ser feliz, mesmo com sua ausência.
Pode parecer clichê: - Sei que com palavras nunca poderei expressar todo o meu sentimento, meu amor por você. Sei que nenhuma palavra dita poderá traduzir o meu/nosso amor e nossa gratidão por você ter sido um homem e um pai extremamente amável e generoso. Nunca esquecerei seu olhar, azul como o mar, a me olhar e dizer que tudo iria ficar bem. Mas você partiu e fui/fomos obrigada(s) a aprender a viver sem você. Por causa daquela tragédia impiedosa, que lhe arrancou precipitadamente de minha/nossas vida(s). Por tudo que você representa para sua amada Rita, sua caçula Lú e para mim, hoje, para homenagear seus 48 de existência neste mundo e trinta anos de sua morte, valho-me, da superexpressiva letra de Sérgio Bittencourt, imortalizada pela voz de Nelson Gonçalves, que também já não habita neste mundo. “Naquela Mesa Ele Juntava A Gente / E Contava Contente
O Que Fez De Manhã / E Nos Seus Olhos Era Tanto Brilho / Que Mais Que Seu Filho Eu Fiquei Seu Fã / Eu Não Sabia Que Doía Tanto / Uma Mesa Num Canto Uma Casa E Um Jardim / Se Eu Soubesse Quanto Dói A Vida / Essa Dor Tão Doída Não Doía Assim...”.
É meu painho, Naquela mesa (na nossa mesa) está faltando você. Em nossas vidas, seu lugar vazio ficou, mas a vida continua. Por esta razão, no patamar da minha/nossas vida(s) seu lugar continua habitado e ocupado pelo melhor de você e de tudo que você representou. Olho/olhamos para trás e sinto/sentimos saudades. Por outro lado, olho para frente e vejo um amor imensurável que conduziu minha vida e me alimenta todos os dias em busca de novos sonhos, outros ideais.
Por tudo dito e vivido, como não reconhecer sua presença em cada ato da vida de sua Rita, sua Lú ou na minha. Fato lastimável: - você partiu. Entretanto, você não deixou de fazer parte de nossas vidas. Você continua vivo em mim e eu continuo sendo parte de você. Em cada parte de mim existe um pouco de você. Sei que não estarei sozinha jamais. Muito menos estarei distante de você. Sou carne da sua carne e vida da sua vida. Melhor presente, impossível. Melhor lembrança, presente. Faça uma grande festa nesta outra dimensão onde você está. Daqui, nossas preces, uma canção e uma feliz eternidade para você. Com todo nosso amor (Rita, Lú e Dil)!
Fonte:EDILEUSA REGINA PENA DA SILVA é professora Adjunto IV da UFMT. Entretanto, neste momento, é apenas uma filha-órfã, que teve de aprender a viver sem o seu painho. Tudo por causa da violência do trânsito, que desde o século passado, há trinta anos, já matava e continua matando pela imprudência criminosa de motoristas; descaso das autoridades competentes e dos representantes do povo (que não estão representando a ninguém, mas, sim, buscando encher suas contas bancárias do dinheiro público). Portanto, há pelo menos três décadas rogamos por um trânsito que respeite a Vida.
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