O budismo é caracterizado por ser a religião do caminho do meio. Ele reúne
uma série de comportamentos éticos que podem orientar pessoas que professam
outras religiões. Pode também sinalizar o melhor caminho para a sociedade e
dentro dela as profissões. O jornalismo é uma delas, ainda que religião e a
prática de informar não se confundam. Sabedoria e valor juntos proporcionam
boas reportagens, para isso e preciso contar sempre consigo mesmo e a sua
inteligência. Reportagens devem ser feitas sem pressa e para isso o
jornalista precisa aprender a gerir o seu próprio tempo. É necessário não
esquecer que os fatos também têm o seu lado bom e precisam ser mostrados.
Isto tudo não impede que se aja com um grão de audácia em busca de histórias
que possam contribuir para informar corretamente a sociedade e contribuir
para a sua melhoria. Por isso não se pode deixar nada pela metade, assim a
disposição é de fazer o difícil, fácil. E isso não é fácil. Escrever fácil é
difícil. Ainda assim é um desafio diário que o jornalismo enfrenta no dia a
dia e cujo objetivo é atingir, sensibilizar, encantar, incomodar o seu
público.
Outro caminho ensinado pelo budismo é a busca constante do domínio da
paixão, do controle do ego. Muitas vezes este prega peças incríveis, cria
situações imaginárias, produz decisões apressadas e julgamentos sem qualquer
base material. O equilíbrio e a sobriedade desaparecem. A reputação some e o
público percebe que o jornalista perdeu a integridade. Assim é importante
saber escolher, e manter uma distância saudável dos extremos, sejam eles do
bem ou do mal. O primeiro passo esse caminho é treinar para conhecer a si
mesmo, um conselho tão antigo como Sócrates e o Buda, aliás contemporâneos,
ainda que distantes um do outro em milhares de quilômetros. Essa disposição
abre o caminho para a prática diária da humildade, e o reconhecimento dos
erros cometidos. Ela é uma das rédeas do ego, e ajuda a não se deixar levar
levianamente sobre o que dizem os bajuladores de sempre. Estimula a escrever
apenas o necessário para o desenvolvimento da reportagem, percebe o lado bom
da história, e não se perde em longos parágrafos de egolatria ou informações
que só atrapalham o público.
A meditação budista é uma prática diária que pode ser feita em casa, na
redação ou a caminho de uma reportagem.É o esteio de tudo. Ajuda a
controlar a ansiedade e colabora decisivamente para o dia de trabalho.
Impede que a mente crie expectativa que não vai poder cumprir e aponta
sempre para a moderação. Entende que o seu sucesso é o sucesso de todos e
que ninguém faz jornalismo sozinho. É uma construção coletiva, ainda que,
comumente, apareça apenas um nome ou um único rosto no vídeo. Ensina a
conviver com todos independente da maior ou menor simpatia de membros do
grupo, e a dizer sim ou não apoiado no que julga justo. O budismo é também
a prática da adaptação ás mudanças, ajuda a criar espírito crítico e a
combater a ignorância, ou seja entender a situação como ela realmente é e
não o que aparentemente demonstra. Estas práticas ajudam a escalar postos na
carreira sem pisar nas costas dos outros ou detratar os concorrentes. Enfim
as práticas éticas do budismo cabem perfeitamente no conjunto ético que o
jornalista escolhe para chamar de seu.
Fonte: Heródoto Barbeiro - escritor e jornalista da RecordNews e R7.com
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