segunda-feira, 26 de setembro de 2016

DEUS NOS FALA

Evangelho de Lucas 16, 19-31

“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho finíssimo, e que todos os dias se banqueteava e se regalava. Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico. Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico... Até os cães iam lamber-lhe as chagas. Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio. Gritou, então: - Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas. Abraão, porém, replicou: - Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento. Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que, os que querem passar daqui para vós, não o podem, nem os de lá passar para cá. O rico disse: - Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para lhes testemunhar, que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos. Abraão respondeu: - Eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos! O rico replicou: - Não, pai Abraão; mas se for a eles algum dos mortos, arrepender-se-ão. Abraão respondeu-lhe: - Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos.”

Neste trecho do Evangelho, Lucas mostra a problemática das relações entre ricos e pobres. Através desta narração, a parábola não tem como objetivo consolar os pobres com a esperança de um prêmio eterno, mas quer centralizar a questão de por que o rico não se salvou.

De fato, o rico da parábola não hostilizou nem o maltratou, mas simplesmente não teve capacidade de enxergar o pobre Lázaro que estava a poucos passos dele, fora da porta de sua casa.

Com isto, Lucas sustenta a tese de que a riqueza não permite enxergar a verdadeira realidade e, assim sendo, mostra o grande perigo da nossa sociedade: viver como ricos nos pode cegar e nos tornar indiferentes. Construímos muitas ‘portas’ que separam as pessoas, mantem as distâncias entre pessoas pobres e ricas. Assim sendo, muitas pessoas não conhecem a verdadeira realidade aos seus
redores. Lucas nos revela que o pobre tem nome e, no entanto, o rico não tem. O nome Lázaro (que quer dizer “Socorro de Deus”) significa que ele não é um simples pobre, mas é um pobre que espera a vinda de Deus. E este pobre, que está junto de Abraão, quer revelar que a alegria e a felicidade estão em uma relação interpessoal de comunhão.

No entanto, o rico que veio a falecer ficou sozinho, isolado. Entre a realidade fraternal de Lázaro com Abraão e o rico é abissal. Não se consegue superar esta situação. De fato, tudo isto não foi improvisado, mas foi construído através da própria vida do rico. É ele que criou este abismo, esta incomunicabilidade com o pobre Lázaro que estava fora da porta de sua casa. Não precisava ir longe para fazer este encontro porque estava perto, mas a sua vida de rico lhe impediu de fazer a convivência. Para Lucas, a riqueza pode se tornar como uma droga ou um sonífero que disfarça a verdade. Como, portanto, evitar este grande perigo?

Jesus apresenta que a escuta da Palavra de Deus é suficiente para evitar este abismo. O rico pede um milagre, uma ressurreição. Mas, evidentemente, esse tipo de ressurreição não existe. A única ressurreição é aquela de Jesus o Messias. E Jesus o Cristo ressurgido vem para nós nas pessoas dos pobres, dos excluídos, dos que sofrem, dos que tem fome, dos que estão doentes, dos aqueles que choram, dos aqueles que amam e ajudam os outros.

Nenhum fato extraordinário ou prodigioso vai mudar uma vida egoística que leva a morte, mas sim a escuta das Sagradas Escrituras. Estas, sim, nos indicam os caminhos da vida para sempre. Para isso não faltam oportunidades para participar e compreender as Sagradas Escrituras. O viver como ricos nos cega. Concluindo lhe pergunto: Quando os pobres entram em contato consigo percebem algo diferente porque acredita em Jesus? O seu coração busca mais milagres ou a Palavra de Deus?

Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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