quinta-feira, 21 de abril de 2016

O SENHOR É O NOSSO LIBERTADOR

O grito da humanidade! O grito de cada pessoa! O ser humano se sente fragilizado em sua peregrinação terrena. Ele busca respostas e ajuda perante os tormentos da vida. E, às vezes, tudo é em vão. Parece que tudo está perdido. Como ir além disso? O que fazer? O Salmo 6 de Davi, do Antigo Testamento, da Sagrada Escritura, nos dá uma resposta para isso. Leia atentamente:

“Senhor, em vossa cólera, não me repreendais; em vosso furor, não me castigueis. Tende piedade de mim, Senhor, porque desfaleço; sarai-me, pois sinto abalados os meus ossos. Minha alma está muito perturbada; vós, porém, Senhor, até quando?... Voltai, Senhor, livrai minha alma; salvai-me, pela vossa bondade. Porque no seio da morte não há quem de vós se lembre; quem vos glorificará na habitação dos mortos? Eu me esgoto gemendo; todas as noites banho de pranto minha cama, com lágrimas inundo o meu leito. De amargura meus olhos se turvam, esmorecem por causa dos que me oprimem. Apartai-vos de mim, vós todos que praticais o mal, porque o Senhor atendeu às minhas lágrimas. O Senhor escutou a minha oração, o Senhor acolheu a minha súplica. Que todos os meus inimigos sejam envergonhados e aterrados; recuem imediatamente, cobertos de confusão!”

Nesse salmo, enfrenta-se a doença do corpo. A doença que faz tremer, que abala a vida. O câncer que destrói o ser humano, o pranto do desespero, a solidão da vida, a velhice, as traições dos amigos e, sobretudo, o grande perigo da morte. Tudo isso constitui a dramaticidade humana. Ao ser humano, segundo o salmo, não resta que clamar para o seu Deus: salva-me Senhor! O salmista nos induz a fazer essa experiência única de apelo a Deus, porque é Ele que nos vem em socorro.

Uma vez, eu estava visitando uma comunidade de freiras para realizar um documentário audiovisual vocacional e me deparei de improviso em um quarto, onde estava uma irmã acamada por causa de um câncer em fase terminal. Próximo da cama dela, estavam duas irmãs, uma de cada lado da cama, segurando as mãos da enferma. Estava sofrendo muito, muito mesmo. E eu no canto do quarto assistia em profundo silêncio esse “Jesus crucificado”. Um belo momento, perante os gemidos de dor da irmã doente, as duas coirmãs exclamaram: “Coragem, irmã, aguenta mais um pouco, aguenta, aguenta, depois tudo isso vai passar!”

Fiquei impressionado diante desse clamor de fé. Deus, em questão de tempo, teria libertada a irmã de todas aquelas dores infernais que a doença lhe tinha provocado. Naquele meu silêncio, me identifiquei
com esse quadro bem humano de dor e solidariedade de um lado e do outro de confiança em Deus salvador da nossa pobre história. Essa imagem me acompanha ainda hoje na minha peregrinação terrestre. Não consigo esquecer. Aprendi, de fato, como confiar em Deus. Confiar com a realidade que a gente experimenta no dia-a-dia. Qualquer situação que a gente enfrente, de alegria ou de dor, é uma oportunidade de viver essa confiança no Senhor, reconhecendo-O como o verdadeiro autor da nossa vida.

O suplicante desse canto reconhece a sua condição de pecador e por isso faz o grande apelo ao amor de Deus. A misericórdia de Deus é que garante esperança de vida para sempre e ajuda a ter coragem de enfrentar os desafios da mesma vida terrestre. O mal e a angústia parecem que prendem o ser humano, não o deixam livre de jeito nenhum. Tudo isso, dá uma sensação que queira destruir a pessoa igual a uma tempestade.

Continua o salmista dizendo que os olhos se turvam e esmorecem por causa de tudo isso. As lágrimas marcam a vida como resposta a dor, ao sofrimento. Perante tanta dor e solidão, não resta o grito de contestação ao Senhor Deus: “Senhor, até quando?” Trata-se aqui de um corajoso e ousado clamor a Deus que revela toda a desesperação do suplicante que confia em Deus com todas as suas forças. Acredita, o autor desse salmo, que Deus misericordioso não pode se contradizer no seu amor, pelo contrário, Ele não vai abandonar os seus filhos e filhas e nem puni-los.

E justamente o salmo conclui com “o Senhor atendeu às minhas lágrimas”, demonstrando assim que aquela dor e sofrimento deixam o lugar à certeza que Deus socorre a sua obra prima que é a pessoa. A fé tem uma força enorme que muda a dor em alegria, o desespero na confiança. Ensina-nos esse salmo que a oração é uma importante dimensão da vida das pessoas que ajuda a enxergar a vida com horizontes infinitos. Nesse sentido, consegue ir além do abandono e do sofrimento; discernir uma vida que não se perde. Uma vida que é votada para a verdadeira libertação.

Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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