segunda-feira, 11 de abril de 2016

Coluna do Heródoto - TODOS DE OLHO

O jornalismo investigativo se  integrou globalmente. As empresas e plataformas de informação já tinham se globalizado no início do Século 21. Agora deu mais um passo para frente. Veículo, plataformas nas redes sociais, jornalistas se juntaram para produzir conteúdo de interesse público global. Com isso o acesso às fontes, documentos, investigações ganharam uma força nunca vista. Não se trata de um único veículo investigar e divulgar, mas uma soma deles e os resultados setoriais são imensos. Os alvos escolhidos são a corrupção, a lavagem de dinheiro, o tráfico de drogas, o tráfico de escravos, terrorismo ou dinheiro obtido ilegalmente e que saiu de um determinado país e foi parar nos cofres e contas secretas dos paraísos fiscais. Certamente esse recurso é aquele que falta na ponta de atividades essenciais como saúde, educação e saneamento básico. Esse rastreamento e divulgação feito pela mídia espalhada pelo mundo é muito mais importante do que o controle de capitais legais que circulam de um pais para outro em busca de oportunidades de ganho. Isto tem a ver com as altas taxas de juros pagas por alguns governos. Em suma essa andança do capital tem pelo menos duas vertentes, uma pró mercado, anti Estado e a outra reguladora do mercado, inspirada nos estudos de Keynes.

No passado os veículos internacionais de maior credibilidade publicavam reportagens inéditas e construídas com suporte próprio. Durante o período da ditadura brasileira  havia um controle nos aeroportos internacionais sobre revistas e jornais impressos no exterior. Vez ou outra uma edição era proibida no Brasil e a publicação ficava na alfândega. Esconder era mais grave como contrabandear uma garrafa do legítimo scotch.... A revista alemã, Der Spiegel,  publicou uma reportagem sobre treino na selva amazônica onde os soldados eram amarrados em uma cruz de madeira para aprender a resistir a dor e não falar com o inimigo. Foi  uma fuá. E a revista apreendida. Já no período atual,em plena democracia, as publicações ora são elogiadas pelas reportagens ora acusadas de serem pontas de lanças do capital internacional. Por isso já passaram  o Finantial Times, Time, The New York Times – quem não se lembra da reportagem do Larry Rohter – El País, entre outros. O caso mais emblemático recente é a The Economist com uma capa do Cristo Redentor decolando como um foguete e mostrando a decolagem do Brasil rumo a se tornar uma das grandes potências econômicas do mundo. Meses depois a mesma The Economist publicava na capa o Cristo/foguete descontrolado e embicando na baia de Guanabara.

 A publicação do Panamá Papers é fruto dessa integração jornalística global. Começou com o Wikileaks e as contas do Santander da Suíça. O conjunto multinacional de jornalistas foi além das denúncias de John Perkins e de Steven Hiatt.  Estes já haviam denunciado como alguns países do mundo ganhavam dinheiro escondendo o dinheiro sujo. Panamá, Ilhas Virgens, Suíça, Liechtenstein, ilhas Jersey e outros atraiam esses capitais com a contrapartida de sigilo total, facilidade de fluxo de entrada e saída e acima de tudo não perguntar ao depositante a origem do patrimônio. Uma boa parte dessas fortunas são administradas por off shores, empresas e escritórios, que na maior parte das vezes, se reduzem a uma maçaroca de papéis guardados no cofre de um banco. Esses chamados paraísos fiscais começaram a se tornar purgatórios quando as grandes potencias identificaram que o dinheiro que financiava ataques terroristas transitavam por lá. Aí mudaram de atitude e passaram a pressionar os depositários. Não foram movidos por questões éticas e morais ou repúdio quanto a origem do dinheiro. Contudo, há um novo protagonista nesse cenário: o conjunto global dos jornalistas investigativos. Os cidadãos do planeta estão sendo informados como nunca aconteceu antes. E não há cartel de comunicação capaz de impedir o trânsito das notícias nas redes sociais. É o advento de uma nova era na comunicação global.  

Fonte: Heródoto Barbeiro - Record News / São Paulo-SP


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