No último dia 12 de maio, o papa Francisco celebrou uma missa na Basílica de São Pedro, em Roma, com os integrantes da Cáritas Internacional, reunidos na sua 20ª Assembleia Geral, e falou sobre o escândalo da fome no mundo. Na homilia, o santo padre disse: “O planeta tem comida para todos, mas parece que falta a vontade de partilhar com todos, de preparar a mesa para todos e pedir que haja uma mesa para todos. Fazer aquilo que podemos para que todos tenham o que comer, mas também recordar aos poderosos da Terra que Deus chamá-los-á ao juízo um dia e manifestará se, verdadeiramente, procuraram prover comida para Ele em cada pessoa e se trabalharam para que o ambiente não seja destruído, mas possa produzir esta comida.”
Essa foi uma grande advertência para os responsáveis que conduzem a economia do mundo. O papa os define ‘poderosos’ desse mundo porque as decisões deles condicionam de maneira definitiva os rumos do planeta. Nesse sentido, se o nosso planeta vive ameaçado não é por culpa de Deus, mas por vontade de pessoas que ‘favorecem uns e se esquecem de outros’, que por sinal são muitos. Esse egoísmo não tem limites e não tem escrúpulos. Por isso, Bergoglio enfatizou: “Deus chamá-los-á ao juízo um dia”. A nossa má convivência e a deterioração da mesma natureza é fruto de obra humana e para tal pode e deve ser corrigida.
O ser humano tem esse poder de ameaçar a obra da criação de Deus, porque tudo aquilo que Deus criou foi muito bom. Assim sendo, o sucessor de Pedro sente a grande responsabilidade de resgatar a nossa condição de filhos e filhas de Deus em sermos obedientes a Ele e sermos seus colaboradores na sua criação. Os ‘grandes dessa terra’ podem ser grandes perante a sociedade, mas não perante Deus. Eles não podem exercer um poder para si, mas para servir os outros. E a fome e a destruição da natureza são sinais que o serviço desses poderosos da terra não alcança todo mundo, pelo contrário, é reduzido a uns. Isso se chama ‘injustiça’.
Por tudo isso, o papa Francisco na sua homilia afirmou que a Igreja “revela a força do amor cristão e o desejo da Igreja de ir ao encontro de Jesus em cada pessoa, sobretudo quando é pobre e sofre”. A Igreja tem o dever de defender tudo o que é obra de Deus; a Igreja está a serviço de Deus e não dos ‘poderosos desse mundo’ e para tanto ela deve ser abnegada no seu serviço ao seu Senhor. Assim sendo, não pode aceitar certas lógicas do mundo da prioridade do mercado e do lucro acima da obra da criação de Deus.
O papa Francisco, no discurso aos participantes da 38° Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)- 20.06.2013-, salientou: “As iniciativas e as soluções possíveis são numerosas, e não se limitam ao aumento da produção. Sabe-se que a produção atual é suficiente, e, no entanto, ainda existem milhões de pessoas que sofrem e morrem de fome: estimados amigos, isto constitui um verdadeiro escândalo! Então, é necessário encontrar os modos para que todos possam ser beneficiados com os frutos da terra, não apenas para evitar que se alargue o fosso entre os que são mais abastados e aqueles que se devem contentar com as migalhas, mas também e sobretudo para uma exigência de justiça e de equidade, bem como de respeito devido a cada ser humano.”
Palavras fortes do Sumo Pontífice que nos provocam para uma revisão de vida e de existência. Continuando o santo padre: “Pessoa e dignidade humana correm o risco de se tornarem uma abstração diante de questões como o uso da força, a guerra, a subalimentação, a marginalização, a violência, a violação das liberdades fundamentais ou a especulação financeira, que, neste momento, condiciona o preço dos alimentos, tratando-os como qualquer outra mercadoria, esquecendo-se do seu destino primário. A nossa tarefa consiste em voltar a propor, no atual contexto internacional, a pessoa e a dignidade humana já não como uma simples referência, mas como pilares sobre os quais se devem construir regras que sejam compartilhadas; que, ultrapassando o pragmatismo ou os simples dados técnicos, sejam capazes de eliminar as divisões e preencher as lacunas existentes. Neste mesmo sentido, é necessário contrastar os interesses econômicos míopes e as lógicas de poder de poucos, que excluem a maioria da população mundial, gerando pobreza e marginalização, com efeitos desagregadores na sociedade, assim como se deve combater aquela corrupção que produz privilégios para alguns e injustiças para muitos.” O mundo e os governantes devem ouvir e meditar, com urgência, o ensino do papa Francisco.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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