sábado, 30 de maio de 2015

A FORÇA DO “TÉCNICO-IMPERIALISMO”

O mundo digital é complexo e cheio de desafios. Como compreendê-lo? De que forma a tecnologia influencia a vida das pessoas? Quais as consequências para o nosso cotidiano? Permito-me descrever isso como uma viagem nos meandros dessa nova e poderosa realidade. Uma realidade que se diferencia das outras realidades cognitivas, nascida em contextos bem diferentes daquelas como as ciências físicas, aritméticas e visíveis. A origem dessas redes parte da ausência de visibilidade dos pais-patrões, que aparecem nos organizadores que gerenciam todos os cálculos como em qualquer centro de pesquisa universitário.

O evento digital apresentou grande mudança a respeito da organização dos consumos, do comércio em si, do consenso político e sobre estilos de vida que, no passado, era confiado à antiga mídia. Naturalmente, tudo isso levou também a uma mudança da linguagem de uso comum, qual padrão de convivência social. Tudo isso gerou, também, mais discrepâncias entre gerações etárias. É comum, de fato, ouvir reclamações por parte das pessoas mais idosas a respeito da incompreensão das categorias mais jovens, incluindo as crianças: “Hoje em dia, não consigo, padre, entender mais os meus filhos; antigamente, a gente não agia assim, era totalmente diferente, um convívio mais entendido, mais próximo.”

Outro questionamento muito importante: até que ponto se pode confiar nas informações tramitadas pelas redes sociais? É evidente que as dúvidas sobre as redes são inevitáveis. Isso mesmo! Não temos o verdadeiro nem o falso. Na web, qualquer um pode intervir e modificar a própria notícia e, assim, entrar em um processo de confronto que pode nunca acabar. Todo mundo acha que possui a verdade. Tudo isso, naturalmente, provoca reações e costumes de vida mais diversas. Antes, um centro de referência podia ser identificado em uma instituição ou organização; hoje cada qual é um centro de referência. A “verdade” se encontra em cada um.

Assim sendo, não se pode mais absolutizar a verdade, mas relativiza-la. Reforça-se o poder individual em detrimento do poder comunitário. Perante tudo isso, surgem grandes provocações intelectuais para compreender esse novo mundo digital e sua convivência. De fato, na Web, por sua natureza indeterminada, tudo é ‘dual’, isto é, podem conviver duas afirmações totalmente oposta. Ou seja, a estrutura binária do pensamento, considerado atualmente dialógico, na internet, manifesta-se da mesma maneira em que se manifesta o fluxo de zero-um (0-I), gerando duplas afirmações verdadeira-falsa, e que muitas vezes se eliminam reciprocamente.

Desse jeito, criam-se mais confusão; é, sim, porque tudo isso gera a grande dificuldade em medir simultaneamente duas posições em perfeito contraste e de formular, ao mesmo tempo, a verdade. O ser humano, não tendo capacidade de chegar a uma verdade, vive consequentemente uma relativização do seu ser. Sente-se impotente nas suas definições de finalizações de entendimento. Deste modo, o ‘mundo’ digital muda a vida, a própria comunicação, o trabalho, os negócios, o relacionamento entre as pessoas e a própria religiosidade. Por exemplo, o mercado financeiro é aquele que mais aproveitou da internet, conseguindo grandes vantagens. E se formos analisar a própria política, ela sofreu grandes modificações através da sua organização pelas redes sociais; e, assim, tornando-se a liderança mais presente contemporaneamente em lugares diferentes.

No entanto, tudo isso, toda essa dinâmica e seus efeitos, parece que marcará seriamente a sociedade. Segundo o jornalista e escritor Glauco Benigni, “a interação entre a antiga e a nova mídia leva à progressiva substituição da história, no imaginário coletivo”. No final, esse mundo dominado pelo técno-imperialismo é marcado pelas dicotomias liberdade-controle, verdade-indeterminação, finanças virtual-economia real. Portanto, as conclusões que se chegam são bastante inevitáveis: a grande rede, de fato, já foi e será sempre mais usada para fins que favorecem as elites, revelando-nos, assim, o quanto o mundo almejado pela internet tem atraído de alguma forma as grandes expectativas, sobretudo por razões de ‘lucro’ e de ‘controle’.

Concluindo, quero dizer que não podemos desprezar os benefícios que alcançamos com essa nova tecnologia e creio também que ninguém queira voltar atrás. Mas o técno-imperialismo que avança não é certamente neutro e tanto menos inocente. Por isso, me pergunto: sabemos de fato utilizar essa imensa quantidade de conhecimento que tramita na rede? Sabemos fazer silêncio ao nosso redor? Refletir? Ler um livro sem ser interrompidos do e-mail, sms e Whats App?

Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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