O salmo 17 das Sagradas Escrituras encoraja as pessoas, dizendo-lhes que Deus está com elas e não as abandona. É refúgio para elas. Que coisa bonita saber que Deus está conosco, nos protege. Por isso, àqueles que têm dificuldades para acreditar nisso, pelo menos saibam que esse Deus é de todos e todas. O nosso Deus está acima também das nossas incredulidades. Alguns anos atrás, em um país europeu, a procissão de Corpus Christi passava pelas avenidas de uma cidade e cruzou com casas de prostíbulo. O jornalista que acompanhava a romaria focou umas faixas com essas escritas: “Também nós somos filhas de Deus”. Naturalmente, à vista disso, muitos fiéis que acompanhavam a procissão ficaram chocados. Certamente, Deus não se esquece de nenhum filho ou filha, sobretudo, dos que mais precisam. Essas filhas de Deus, perdidas no mundo, reclamam que também são filhas de Deus. Por questão de espaço, transcrevo somente a parte do salmo que mais me chamou atenção:
“Eu vos amo, Senhor, minha força! O Senhor é o meu rochedo, minha fortaleza e meu libertador. Meu Deus é a minha rocha, onde encontro o meu refúgio, meu escudo, força de minha salvação e minha cidadela. Invoco o Senhor, digno de todo louvor, e fico livre dos meus inimigos. Circundavam-me os vagalhões da morte, torrentes devastadoras me atemorizavam, enlaçavam-se as cadeias da habitação dos mortos, a própria morte me prendia em suas redes. Na minha angústia, invoquei o Senhor, gritei para meu Deus: do seu templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor em sua presença chegou aos seus ouvidos. A terra vacilou e tremeu, os fundamentos das montanhas fremiram, abalaram-se, porque Deus se abrasou em cólera: suas narinas exalavam fumaça; sua boca, fogo devorador, brasas incandescentes. Ele inclinou os céus e desceu, calcando aos pés escuras nuvens. Cavalgou sobre um querubim e voou, planando nas asas do vento. Envolveu-se nas trevas como se fosse véu, fez para si uma tenda das águas tenebrosas, densas nuvens. Do esplendor de sua presença suas nuvens avançaram: saraiva e centelhas de fogo. Dos céus trovejou o Senhor, o Altíssimo fez ressoar a sua voz. (...) Do alto estendeu a sua mão e me pegou, e retirou-me das águas profundas, livrou-me de inimigo poderoso, dos meus adversários mais fortes do que eu.( ...) Os caminhos de Deus são perfeitos, a palavra do Senhor é pura. Ele é o escudo de todos os que nele se refugiam. (...) Exaltado seja Deus, que me salva! (...) Por isso vos louvarei, ó Senhor, entre as nações e celebrarei o vosso nome. (...)”
O fiel perante Deus não lhe resta que dizer “Te amo, Senhor minha força!”, como àquelas mulheres ‘da vida’ que reconhecem a própria condição de filhas de Deus. Esse salmo exalta um Deus transcendente e forte, mas, ao mesmo tempo, próximo e atencioso com as pessoas, como nos testemunhou esse exemplo. Para descrever essa ação de Deus são apresentados vários símbolos da firme permanência, representados pelo rochedo, rocha, escudo, cidadela, isto é, símbolos espaciais, antropomórficos e cósmicos. Nessa extraordinária representação cósmica, Deus se levanta como se fosse um imenso cavaleiro envolvido em um manto escuro, que voa sobre as nuvens: “Cavalgou sobre um querubim e voou”. Evidentemente essa teofania (manifestação de Deus) tinha como objetivo da libertação: “Do alto estendeu a sua mão e me pegou, e retirou-me das águas profundas, livrou-me de inimigo poderoso”. O Deus libertador tira o seu fiel do grande perigo, salvando-lhe a vida.
Perante tudo isso, podemos constatar se a misericórdia de Deus é a raiz da libertação, também a inocência do fiel é a causa que move Deus a intervir em seu favor. E o salmista quis salientar a destruição dos inimigos, que não poderão mais ameaçar o seu fiel. E termina salientando que os estrangeiros se prostram perante o rei messiânico. Assim sendo, não resta, diz esse autor, que aclamar: “Viva o Senhor e bendito meu rochedo”. Refletindo esse salmo, podemos perceber como Deus é efetivamente presente na história da humanidade, sendo o verdadeiro protagonista. É Ele que mantem viva humanidade, libertando-a das ciladas dos seus inimigos. A vida das pessoas está cheia de insídias e ameaças. E se formos meditar com espírito cristão podemos entrever nessa mensagem a vitória de Jesus Cristo sobre as forças do mal e, sobretudo, do grande perigo da morte. A essa altura podemos dizer que a salvação bíblica se revela como ação determinante e definitiva de Deus, mas que tem também um constante e dedicado compromisso do ser humano que busca a Deus.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário