terça-feira, 24 de maio de 2016

Deus é presente ou ausente?

Quantas vezes encontro pessoas que dizem: “Padre, não acredito em Deus... Deus não existe.” Eu, para dizer a verdade, sinto-me à vontade com essas pessoas porque elas fazem essas declarações de maneira teórica e abstrata e, portanto, reconduzível a uma reflexão oportuna para aprofundar positivamente a questão. No entanto, eu tenho medo das pessoas que não dizem nada sobre isso, mas vivem sem sequer se tocar sobre o assunto e conduzem uma vida totalmente ausente da presença de Deus. Para essas pessoas, Deus não existe de fato e, portanto, pra que falar, pra que se ocupar? Ler o salmo 13 das Sagradas Escrituras ajuda a refletir e orientar sobre essa questão tão dramática da vida humana.

Veja o que nos diz o salmo: “Diz o insensato em seu coração: Não há Deus. Corromperam-se os homens, sua conduta é abominável, não há um só que faça o bem. O Senhor, do alto do céu, observa os filhos dos homens, para ver se, acaso, existe alguém sensato que busque a Deus. Mas todos eles se extraviaram e se perverteram; não há mais ninguém que faça o bem, nem um, nem mesmo um só. Não se emendarão esses obreiros do mal, que devoram meu povo como quem come pão? Eles que não invocam o Senhor? Mas irão tremer de pavor, porque Deus está com a raça dos justos; pretendeis frustrar os planos do humilde, mas o Senhor é seu refúgio. Ah, que venha de Sião a salvação de Israel! Quando o Senhor tiver mudado a sorte de seu povo, Jacó exultará e Israel se alegrará.”

O salmo focaliza a questão do ateu. Porém, é bom esclarecer aqui que não se entende como nós entendemos de maneira ideológica e sistemática, isto é como o filosofo Nietzsche apresentou: “Deus é morto”. Aqui o salmo reflete a cultura daquele tempo em que declara um ateísmo prático. Quer dizer, que Deus não está aqui, na história da humanidade. Ele é longe e indiferente no percurso dos seres humanos e do mesmo mundo. O ateu, aqui representado, acha que Deus não diz nada para as pessoas; para ele, que Deus exista ou não, é a mesma coisa, e, portanto, não pode intervir na história da humanidade.

Lembro-me aqui de um fato que me aconteceu anos atrás saindo da Universidade. Naquele tempo, era professor da Pontifícia Universidade Urbaniana do Vaticano. Tinha acabado de dar as aulas e decidi, naquela ocasião, voltar pra casa de pé, contrariando a minha rotina cotidiana de carro. Na metade do meu caminho, encontrei um famoso pintor, meu conhecido, que me entreteve. Disse-me que tinha acabado de chegar de Nova York onde tinha feito uma exposição das suas obras, mas o que mais ele estava interessado não era falar
sobre as suas obras de arte em si, mas da sua vida pessoal. Eu lembro ainda, como se fosse hoje, que de repente parou de falar e me fitou atentamente e depois, suspirando profundamente, exclamou: ‘padre Claudio, eu estou com inveja do senhor, porque você tem fé e eu não tenho. Você acredita e eu não acredito!’

Depois de um momento de silêncio, eu lhe respondi: ‘Deus o ama! Deus sabe tudo e enxerga a sua vida e as suas preocupações. Pode ter certeza de que Deus não o abandona.’ Ele sacudindo a cabeça, como a dizer ‘tomara’, continuamos juntos o retorno de casa, e a certo ponto fez questão de me oferecer um aperitivo em um bar. A história desse famoso artista é a história de muitas pessoas. Quantas pessoas gostariam de ter fé, mas não conseguem! Quantas pessoas também nem gostam de falar de fé e criticam a confiança em Deus, e contestam aqueles que acreditam. O ateu do nosso salmo, não considerando a presença de Deus na história humana, abre espaço no mundo ao poder dos poderosos e arrogantes.

Eles, de fato, tomam conta da realidade, e assim se tornam deuses. Uma multidão se prostra a eles e os seguem. Justamente é isso que Deus não gosta: dessa idolatria. Esse ateísmo pode provocar idolatria, justamente aquilo que o Senhor não aceita de jeito nenhum. O salmista, porém, mostra que Deus é juiz supremo e que enxerga tudo do alto dos céus. Os malvados que devoram o povo, porque tem a certeza de que são os senhores de tudo, Deus isto não tolera, não suporta. Ele entra, sim, na história da humanidade e faz a sua opção: estar do lado dos justos e oprimidos e assim os ateus se espantarão e ficaram perdidos. É Deus que garante a história e não os poderosos desse mundo. Uma história de vida, de salvação. Fazer de conta que Deus não esteja presente entre nós é perder a oportunidade de ter o futuro garantido e cheio de esperança. É Deus o Senhor da nossa história e não os poderosos desse mundo.

Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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