Algumas organizações não entenderam que a sociedade e o mundo mudaram. Querem continuar agindo como antigamente. Partiam do princípio que não há má noticia que dure mais 24 horas e se tiver uma boa assessoria de imprensa, pode desaparecer antes. Acima de tudo tem grossas verbas publicitárias que podem amolecer o tom das reportagens desfavoráveis e, em alguns casos, simplesmente dissuadir o veículo a publicá-la. Foi assim no passado, por que não pode ser assim no presente? Em última instância existe o judiciário com o seu cipoal de recursos e leis que podem ser utilizados como uma ferramenta por um competente departamento jurídico. O importante é que a má conduta seja esquecida na gaveta de algum órgão público, ou no arquivo morto dos computadores dos jornalistas, ou simplesmente atirada em uma lata de lixo. O aparelho fiscalizador do Estado, seja fiscal, ambiental ou de outra natureza qualquer é permeável ás pressões políticas e podem ser acomodados de forma bastante diversificada. A Operação Lava Jato tem demonstrado isso. Por trás da má conduta alguém ganha alguma coisa. Ou a organização com a expansão de seus lucros e a remuneração dos acionistas, ou os que facilitam o fluxo das investigações para o arquivo morto. Perde a sociedade. Perde o meio ambiente. Perde a civilização. E, no longo prazo, perde a organização que se julga impune e fora do julgamento da história.
Graças a esse cenário uma empresa de mineração constrói uma lagoa de contenção. Os dejetos são acumulados sem qualquer preocupação com a vida dos que vivem a jusante de uma ameaçadora montanha líquida de lama fétida. Não há fiscalização para avaliar se há segurança caso a barragem não dê conta. Tudo se resolve em uma conversa gratificante entre fiscais e gestores. O Estado é cego quando se trata de criar qualquer iniciativa econômica rotulada de crescimento, ou desenvolvimento ou ainda pagadora de impostos. Tudo o mais é reduzido a um segundo plano. Ameaçar populações e o meio ambiente com uma avalanche de lama é menos grave do que empacotar 800 gramas de feijão e escrever no rótulo o peso de um quilo. Para o Estado, conduzido pelos políticos caçadores de votos e perpetuação no poder, isso é muito mais grave. Tudo pode se arranjar se a justificativa é aumentar a produção de água tratada nem que para isso seja necessário invadir e depredar áreas protegidas ou tombadas. Uma minoria da opinião pública acompanha essas ações de grande corporações. Só quando ocorre uma tragédia é que outra parte se sensibiliza com a gravidade dos danos. Quando viu o rio se tornar pastoso e a foz no mar ocre. Que caminhos essa tragédia percorreu até ocupar espaços nos veículos de comunicação?
Corporações, não importa de que natureza, não são unidades autônomas. Fazem parte de um sistema que alteram e são alteradas por ele. Há uma interação indissolúvel. Elas constroem o seu ambiente de negócios a partir de múltiplas interatividades como ambiente social. Por isso quando desponta a contradição entre o que divulga em seus custosos relatórios de sustentabilidade e os danos sociais que provoca, elas perdem reputação. Se não perder valor em bolsa, se não cair a remuneração do acionista, se a botton line for positiva, nada a temer. Porém se reputação pesar no balanço anual, é preciso fazer algo urgentemente. Os gestores foram ensinados que construir boas reputações é um trabalho árduo e que exige tempo. Sabem que com o advento das mídias sócias muito mais agente têm a sua disposição dispositivos de emissão de mensagens. Com isso um desmatamento, uma represa pestilenta, ou um faxineiro lavando a calçada de um sofisticado condomínio em um bairro nobre da cidade ganham o mesmo destaque. O que é diferente é o impacto que essas três diferentes ações provocam no ambiente da cidadania e dos negócios.
Fonte: Heródoto Barbeiro - Record News / São Paulo-SP.
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