Não basta comprar um a moto: o consumidor deve se educar para poder usufruir corretamente de sua "máquina e não se colocar em situações de risco
Aprender ou melhorar a maneira com que um individuo conduz seu veículo pode ser traduzido em "segurança para si e para os demais que dividem o mesmo espaço". Digo "pode" porque a mesma informação também é utilizada para a melhoria do desempenho e, dependendo do meio em que se promove a pilotagem, pode ser contraproducente.
É vital entender que as duas formas de pilotagem - a segura e a de desempenho - se encontram em lados opostos da mesma moeda. É impossível promover a pilotagem segura sem sacrificar o desempenho, assim como não é possível imaginar a obtenção de alto desempenho sem algum detrimento da segurança.
A partir deste entendimento, vislumbras-se que a eficiência se encontra exatamente entre esses dois aspectos da pilotagem, apontando, inclusive, para a interdependência entre as suas formas antagônicas. Forma-se aí um paradigma, pois a busca por segurança envolve a exploração dos limites de desempenho de um veículo, para entendimento de suas capacidades. Sem isto não é possível produzir uma ação eficiente e segura nos controles - principalmente em situação emergencial - por pura falta de conhecimento. Uma vez adquiridos os parâmetros, aplicam-se as normas de condução segura, privilegiando o convívio com outros veículos e pessoas e objetivando uma relação de cordialidade, respeito e eficiência no deslocamento.
DE QUEM É A RESPONSABILIDADE?
Tal trabalho de instrução deveria sera plicado pelo Estado, uma vez que este é o certificado de capacitação da direção veicular, através da CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Este papel, no entanto, é outorgado em lei às autoescolas, às quais compete preparar os futuros motoristas e motociclistas. Infelizmente, os valores se encontram deturpados - e o que as autoescolas oferecem como "treinamento" (ao invés de realmente instruir um indivíduo a utilizar seu veículo) objetiva, principalmente, a aprovação em um ridículo exame imposto pelo Estado. Atualmente, todo o percurso do exame de moto é executado em primeira marcha - e o candidato que mudar para a segunda é eliminado. Pior ainda é a inexistente demonstração de aptidão no uso dos freios - procedimento critico na condução de qualquer veículo: imagine, então, um um tipo que depende tanto do equilíbrio como a moto. Ora: se a exigência para demonstração de habilidade é ínfima, obviamente, o preparo para cumprir esta exigência também o será.
Estima-se que cerca de 40 mil vidas são perdidas no trânsito brasileiro a cada ano. E há quem acredite que este número seja bastante superior. Nem mesmo um estatística decente nós temos. Organizações internacionais posicionam o Brasil em quinto lugar no ranking de maior quantidade de mortes no trânsito, tornando-se evidente ser este, há muito tempo, um problema epidêmico. Por alguma razão, provavelmente escusa, esses números não são amplamente divulgados pela média e a maioria das pessoas acaba aceitando tais perdas como "tragédias da vida moderna".
NÃO PRECISAVA SER ASSIM
Chamem-me de "inconformista", mas não posso aceitar esta situação como um "fato da vida". Principalmente porque é possível diminuir essas perdas com uma educação mais técnica e menos política de quem opera um veículo - seja de duas, quatro ou de mais rodas.
No que diz respeito às motos, esta imensa lacuna existente entre a realidade do trânsito e o treinamento oferecido pelas entidades oficiais tem sido preenchida por profissionais que, em sua maioria, oferecem treinamento bem mais completo e condizente com a realidade. Infelizmente, como em qualquer setor comercial, oportunistas encontram brechas e se instalam, deturpando valores e ideais. Cabe ao leitor apuara quem realmente oferece treinamento qualificado e separar esses profissionais dos gatunos que vendem apenas uma ilusão ou "glamour".
Naturalmente, este texto poderia ser classificado como "propaganda" - uma vez que, pessoalmente, ministro um curso de pilotagem para motociclistas; mas, me pergunto: por que não divulgar? Ao menos, assim, as pessoas terão certeza de que esse tipo de serviço existe, e que não estão totalmente abandonadas a soete. Neste mar de números e corporações, poucos se preocupam com a qualidade de vida que deixarão para os seus e para a sociedade; a maioria só está interessada em quanto dinheiro terão no bolso. Afinal de contas, isto é um negócio, não? Em minha opinião, não é - eu e meus colegas somos responsáveis por aprimorar motociclistas que sentem não estar preparados para conduzir seus "brinquedos". E esta tarefa deve ser exercida com o máximo de foco e atenção. Literalmente, vidas dependem disso.
Com o avanço da tecnologia surgem motos mais potentes delicadas de se operar. Além disso, empresários inescrupulosos inundam o mercado com produtos de qualidade duvidosa, acenando ao consumidor com promoções, prestações baixíssimas e toda a sorte de "vantagens" para vender suas mercadorias, mas sem preparar o consumidor para operar tais veículos. Obviamente, isto não é problema deles. Não? Será mesmo?
Caro motociclista: finalizo com a veemente recomendação de que você se instrua colhendo todo tipo de informação a que puder ter acesso - faça uma triagem, adapte à sua necessidade e desenvolva a experiência gradualmente - mas faça algo a respeito! Não permita que sua vida se transforme em uma mera estatística por banalizar um processo complexo como a pilotagem motociclística.
Fonte: Nenad Djordejevic - campeão brasileiro de moto-velocidade e instrutor de curso de pilotagem - Revista Moto Adventure
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