'Eu não sou um dos times em campo, eu sou o juiz', diz Moro
O juiz federal Sérgio Moro, da
Operação Lava Jato, disse na noite desta segunda-feira, 8, que o interrogatório
do ex-presidente Lula – marcado para a próxima quarta, 10 -, ‘parece um pouco
extraordinário, mas é um ato natural no processo penal’. Moro se disse ‘um
pouco preocupado com toda essa expectativa em cima desse ato, quando na
realidade é algo absolutamente normal dentro do processo’.
As forças de segurança pública do
Paraná estimam que 50 mil manifestantes vão invadir Curitiba. Lula vai depor
como réu em ação penal do caso triplex – o imóvel que a Lava Jato diz ser dele,
o que é negado por sua defesa.
“Depois que começou a Lava Jato
parece que sou juiz há três anos, mas na verdade estou na carreira desde 1996”,
disse Moro na abertura do 1.º Congresso do Pacto Pelo Brasil, em Curitiba,
evento organizado pelo Observatório Social do Brasil.
“Já tive vários processos, talvez não
tão rumorosos, mas difíceis e igualmente interessantes”, relatou o juiz da Lava
Jato que, em março de 2016, mandou conduzir coercitivamente o ex-presidente
Lula para depor no inquérito da Polícia Federal. Na ocasião, grupos a favor e
contra o petista partiram para o confronto nas ruas de São Paulo.
“Não raramente gerava expectativa (os
casos que passaram por suas mãos), muitas vezes eu me frustrava porque se
pensava que aconteceria algo e não acontecia nada de muito relevante.”
Moro lembrou do interrogatório do
empreiteiro Marcelo Odebrecht, um dos réus da Lava Jato. “Nessa Operação Lava
Jato eu lembro, acho que 2015, gerou-se uma grande expectativa antes do
primeiro interrogatório do presidente do Grupo Odebrecht. No entanto, quando
ele foi depor em juízo foi um ato absolutamente banal, sem qualquer demérito em
relação a ele. Mas foi algo que não entrou nos anais dos grandes momentos
judiciais da história da humanidade.”
O juiz observou que o interrogatório
‘é meramente a oportunidade que o acusado tem de se defender no processo,
acusado que pode ser inocente, pode ser culpado’.
“O juiz, basicamente, faz perguntas,
o acusado responde com direito ao silêncio e pode até faltar com a verdade.
Nossa legislação não prevê crime de falso testemunho para o acusado que vai a
juízo e não fala a verdade. Diferente do sistema norte-americano, onde o
acusado depõe se a defesa requer e aí é obrigado a falar a verdade, sob pena de
perjúrio.”
Moro disse que no Brasil o rito é
diferente do aplicado nos EUA. “No Brasil o acusado tem a possibilidade até de
faltar com a verdade, sem ter qualquer penalização.”
O juiz da Lava Jato foi às redes
sociais nesta segunda, 8, para apaziguar os ânimos. Com receio de ‘conflitos,
confusão’ nas ruas de Curitiba ele gravou uma mensagem em que pede aos
apoiadores da Lava Jato que evitem manifestações no dia do interrogatório do
principal réu da Lava Jato.
“Não é um confronto, o processo não é
uma guerra, uma batalha, uma arena. Em realidade, as partes do processo ali são
acusação e defesas. Não o juízo. O juiz não é parte do processo.”
“Me preocupa esse clima de confronto
em relação a algo que pode ser extremamente banal.”
Ele procurou esvaziar a grande
expectativa em torno do interrogatório do ex-presidente.
“Nada de conclusivo vai sair nessa
data. O juiz profere julgamento depois ainda da fase de instrução, nada é
resolvido na audiência de interrogatório do acusado. Não estou falando isso
para baixar a audiência dos canais de TV. Toda essa expectativa não se
justifica.”
Nesse instante de sua fala, Moro
ouviu uma pergunta sobre o vermelho da gravata que está usando no evento.
“Como? Isso aqui? Vermelho de fraternidade”, respondeu, arrancando risos da
plateia.
Ele falou sobre sua mensagem gravada
para as redes sociais. “Há dois dias relutei muito em faze-lo, acho que foi bem
recebido, muitos me criticaram. Falei publicamente que não via razão para as
pessoas saírem às ruas (na quarta, 10) e fiz essa mensagem especialmente para
aquelas pessoas que têm saído às ruas para manifestar seu apoio a essas
investigações e a esses processos contra a corrupção. Sem entrar em cores
partidárias, vários saíram às ruas nos anos anteriores para protestar contra a
corrupção e dar apoio a essas investigações e me preocupou (o fato de) parte
dessas pessoas, equivocadamente nessa data, sair às ruas em manifestação de
apoio. Esse apoio é muito importante, mas para essa data em particular a preocupação
principal é com o bem estar de cada um.”
A quem apoia a Lava Jato, o juiz fez
um apelo. “Não há necessidade de sair às ruas para enfrentar situação de risco.
Melhor que seja um jogo de torcida única. Se querem prestar apoio à
investigação naquela data melhor evitar confronto. Eu não sou um dos times em
campo, eu sou o juiz. Não torço para nenhum time ali. Preferível que fiquem em
casa, independente das suas preferências.”
“Fico satisfeito se algumas pessoas
deixarem de ir às ruas e deixarem de ser expostas a situações de risco.”
Fonte: MSN
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