domingo, 2 de outubro de 2016

Simplesmente saia para pilotar. E nada mais

O que pode ser mais simples (e inexplicável) do que a sensação de sentir-se vivo pilotando uma moto?

Vamos arrastando a vida até ver o brilho ofuscante dela (do amor?), que se manifesta em carinho, guidão, motor e câmbio. Admiração mútua de paixão mecânica. Nesse momento, a vida nos tira o cabelo, os pelos, e nos deixa pelados, nus, de frente com o terror de gostar deste metal retorcido.

O amor cresce e sabemos que este monstro é bondoso e generoso. Transpiramos o sentimentos de ver as faixas da rua passando. Nos olhamos no espelho e vemos o belo bicho saindo de nós. Outro dia estava em uma florida estrada, e com o perfume de orquídeas este terror se encerrou em um beijo no vento que me arrebatou na madrugada de uma noite comum com um chicote de cepas perfumadas. Comum. Deveria ser, e foi.

Olhava para os instrumentos de minha moto e pensava: nunca se esqueça de mim... Nunca me esquecerei de você. Inexplicável para quem nunca pilotou. O suor, a intensidade, o amor circunscrito, o lindo inexplicável que nos cerca quando estamos juntos. Aliás, o inexplicável é melhor do que as coisas que a física explica e só é belo porque não é explicável. Como explicar as curvas perfeitas e frágeis que fizemos. Sim! Somos todos nós, frágeis que fizemos. Sim! Somos todos nós frágeis, que sabemos olhar e sentir. Belos? Sim? Todos nós que conseguimos perceber isso tudo. Pilotar um moto é tudo isso. A moto, o ser humano e todo o resto que nos cerca com cheiro de vento. O medo, o terror, sempre será ingrediente deste prazer de contornar as curvas da vida. O pilotar de uma moto imita a vida.

Muitos filósofos disseram que a simplicidade é a coisa mais complexa de alcançar. E ela só pode ser atingida através de coisas físicas e mundanas. Pilotar uma motocicleta na véspera de Natal nos faz entender isso. Saia de moto e veja as estrelas que formam o firmamento. Elas dizem: estamos aqui para vocês. Pilote à noite e verá o real prazer de estar vivo.

Outro dia, estava pilotando com meu pai e uma tempestade nos assolou. Granizo, muita água... Terror. Paramos em um restaurante de beira de estrada e tomamos uma bebida quente. Olhei para o céu e nada parecia melhorar. Meu pai tremia de frio. De repente a chuva passou. O frio continuava, mas ele disse: "vamos seguir viagem, as estrelas continuam a brilhar no céu sobre nós sobre nós, e o sol está do outro lado, em breve ele estará esquentando nossos ossos". Fomos em frente com frio e um pouco de medo. O sol nasceu e esquentou nossas almas peladas ao vento. A comunhão, pai, filho, moto e ambientes finamente estavam lá. Se estivesse de carro, provavelmente as coisas seriam diferentes e previsíveis.

Cada vez mais, percebo que o amor está nas coisas impensadas, imprevisíveis e pilotar uma moto ajuda nisso.  Keep Riding!

Fonte: CRÕNICA - Roberto Severo - residente em São Paulo-SP - Revista Motorpress / Motociclismo






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