A pior coisa que o ser humano pode experimentar na vida é quando perde a confiança, a esperança. É nesse vazio humano que se sente sem futuro, sem horizontes. Em uma palavra: ‘perdido’. Mas será que tem uma saída pra isso? Têm muitas reflexões sobre isso, muitos conselhos, muitas elucidações até científicas. No entanto, eu ainda insisto, talvez porque sou apaixonado pela Palavra de Deus, que a melhor resposta pra esse ‘vazio humano’ vem mesmo das Sagradas Escrituras. Olhe, por exemplo, esse salmo 26, do Antigo Testamento, com que clareza nos orienta para enfrentar essa pobreza humana:
“O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei? O Senhor é o protetor de minha vida, de quem terei medo? Quando os malvados me atacam para me devorar vivo, são eles, meus adversários e inimigos, que resvalam e caem. Se todo um exército se acampar contra mim, não temerá meu coração. Se se travar contra mim uma batalha, mesmo assim terei confiança. Uma só coisa peço ao Senhor e a peço incessantemente: é habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida, para admirar aí a beleza do Senhor e contemplar o seu santuário. Assim, no dia mau ele me esconderá na sua tenda, ocultar-me-á no recôndito de seu tabernáculo, sobre um rochedo me erguerá. Mas desde agora ele levanta a minha cabeça acima dos inimigos que me cercam; e oferecerei no tabernáculo sacrifícios de regozijo, com cantos e louvores ao Senhor. Escutai, Senhor, a voz de minha oração, tende piedade de mim e ouvi-me. Fala-vos meu coração, minha face vos busca; a vossa face, ó Senhor, eu a procuro. Não escondais de mim vosso semblante, não afasteis com ira o vosso servo. Vós sois o meu amparo, não me rejeiteis. Nem me abandoneis, ó Deus, meu Salvador. Se meu pai e minha mãe me abandonarem, o Senhor me acolherá. Ensinai-me, Senhor, vosso caminho; por causa dos adversários, guiai-me pela senda reta. Não me abandoneis à mercê dos inimigos, contra mim se ergueram violentos e falsos testemunhos. Sei que verei os benefícios do Senhor na terra dos vivos! Espera no Senhor e sê forte! Fortifique-se o teu coração e espera no Senhor!”
Somente para contextualizar esse salmo: manifesta-se uma apaixonada busca do Templo e da sua liturgia. É a partir daí que o suplicante encontra conforto e luz. Como é a sua composição? Desenvolve-se em duas partes. A primeira é marcada pela alegria com dois símbolos que revelam a fisionomia divina. Um é representado pela luz: Deus é luz, isto é, princípio de vida e de criação; e o segundo é Deus defesa e proteção, porque é fortaleza para o fiel. Assim, aparece aqui o templo como lugar de segurança. É no templo que se revela o Senhor, qual ‘rochedo’ estável onde se pode edificar a morada tranquila e segura da vida do ser humano. De
fato, o fiel deseja ‘morar na casa do Senhor’ para ‘contemplar a sua beleza’ no templo.
A respeito disso, nos fala o papa Francisco: “Quando nós, hoje, olhamos para os muitos vales obscuros, tantas desgraças, tanta gente que morre de fome, de guerra, crianças com problemas, tantas.... você pergunta aos pais: ‘Mas que doença ele tem?’ – ‘Ninguém sabe: se chama doença rara’. Quando você vê tudo isso, pergunta: ‘onde está o Senhor? O Senhor caminha comigo?’” É a vida que nos interpela, e nós aonde vamos encontrar as respostas? O salmista nos orienta: encontrando Ele, o nosso Deus. Fazer a experiência da confiança Nele.
Na segunda parte, o salmista no templo suplica com o coração. O que quer dizer isso? É a intimidade mais profunda da vida humana que se abre a Deus. É nessa ação de colocar toda a pessoa na escuta do Senhor que lhe permite compreender a sua condição de servo de Deus. Essa condição de servo não significa ser humilhante, mas exprime a maior dignidade de ser o chamado por Deus e seja ao mesmo tempo o seu colaborador para realizar o projeto de redenção. E o salmo conclui com palavras pronunciadas pelo fiel de total confiança e esperança: “Espera no Senhor!” Para melhor entender essa súplica vejamos o que nos diz sempre papa Francisco:
“Como posso confiar no Senhor se vejo essas ameaças? E quando as coisas acontecem comigo, cada um de nós pode dizer: ‘mas como me entrego ao Senhor?’ A esta pergunta há uma resposta: Não se pode explicar, eu não sou capaz: este é um ato de fé. Eu me entrego. Não sei: não sei porque isso acontece, mas eu confio. Você saberá porquê”. Como o salmista, o papa insiste: “Senhor, ensinai-me a entregar-me nas Tuas mãos, a confiar em sua guia, mesmo nos maus momentos, nos momentos tenebrosos, no momento da morte.” E termina o papa: “Senhor, não Te entendo. Esta é uma bela oração. Mesmo sem entender, me entrego nas Tuas mãos”.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário