Quando as pessoas conseguem fazer uma experiência que vai além do seu “eu” e se projetam na busca de Deus, a vida passa a ter mais sentido. Certa vez, antes de celebrar a missa da esperança de um jovem morto brutalmente, tive um encontro com um senhor que me deu esse testemunho: “Padre, a minha vida mudou totalmente, quando descobri o que era o mais importante pra mim. E como aconteceu? Eu era bem sucedido economicamente. Naturalmente, trabalhava muito e, ao mesmo tempo, viajava pelo mundo inteiro para os meus negócios. Com tudo isso, prejudiquei a minha família. Era pouquíssimo presente. Um belo dia, voltando de uma viajem do exterior, minha esposa me largou. Aí, entrei em pânico. E me perguntava: ‘Agora? O que eu faço? Aonde vou fundamentar a minha felicidade?’ Tudo fugia da minha vida. Aí, comecei me questionar sobre em que eu apostava na minha felicidade! Eu vi, praticamente, que toda aquela minha corrida para ter cada vez mais dinheiro, bens materiais, tudo passava; não garantia nada. De fato, a minha esposa me deixou; e os meus filhos? Era uma pessoa triste, não era feliz. Aí, eu caí em mim e disse: ‘onde posso me segurar naquilo que não passa, isto é, que fica para sempre?’ Depois de participar de experiências comunitárias religiosas, comecei a entender que aquilo que nunca passa na minha vida era a busca de Deus. Entendi que antes eu apostava a minha vida naquilo que tudo passava. Então, tinha que fazer uma mudança radical. O que eu fiz, padre? Chamei meu pai e disse-lhe: ‘Pai, a minha mansão quero que seja destinada para os meus filhos e também aquela conta seja para eles. O resto, pai, quero doa-lo para quem mais precisa’. Comecei, a partir daí, a apostar na busca daquilo que não passa, que fica para sempre: Deus. Lembrei-me daquela passagem do evangelho em que Jesus recomendou ao jovem rico de doar os seus bens aos pobres e de segui-Lo para ser feliz para sempre. De fato, aquilo que antes fazia era uma aposta exclusivamente nos bens materiais e, portanto, tudo passava e nada ficava. Era infeliz. No entanto, quando comecei apostar no eterno, em Deus, ninguém conseguia me tirar porque era para sempre. Hoje em dia, padre, vivo numa comunidade religiosa e sou feliz, porque consegui fazer da minha vida uma aposta para aquilo que nunca passa: Deus.”
Nesses dias, vendo o que o nosso papa Francisco disse, citando o apóstolo Paulo sobre “não acolher em vão a graça de Deus que se manifesta agora”, entendi que o pontífice quis mostrar que cada um de nós deve estar preparado para acolhe Jesus Cristo. Foi justamente como o senhor que me abordou no final da missa soube, através de um fracasso familiar, que reviu a própria vida, e se questionou, recomeçando tudo de novo. E o questionamento dele se tornou a ‘graça’ para a sua vida. Por isso, disse o papa Francisco que os
cristãos devem estar sempre preparados para acolher o ‘dom de Deus’, essa sua ‘graça’, livres ‘do barulho mundano’.
Disse Francisco: “É o escândalo do cristão que se diz cristão que vai à igreja, vai à missa aos domingos, mas vive não como cristão, mas como mundano ou pagão. E quando uma pessoa é assim, provoca escândalo. Quantas vezes ouvimos nos nossos bairros, nas lojas: ‘Olha aquele ou aquela, todos os domingos na missa e depois faz isso, isso e isso …’. E as pessoas se escandalizam. Isto é o que Paulo diz ‘Não acolher em vão.’ E como devemos acolher? Antes de tudo, é o ‘momento favorável. Nós devemos estar atentos para entender o tempo de Deus, quando Deus passa por nosso coração”.
Portanto, uma vida que não se deixa tomar conta pelas paixões, para se tornar um momento favorável de ‘graça do Senhor’, “distanciando todo barulho que não vem do Senhor, afastando as coisas que nos tiram a paz”. Acrescenta o santo padre Francisco: “Ser livre de paixões e ter um coração humilde, um coração manso. O coração é protegido pela humildade, pela mansidão, nunca pelas lutas e guerras. Não! Este é um barulho: barulho mundano, barulho pagão ou barulho do diabo. O coração em paz! ‘Evitamos dar qualquer motivo de escândalo para que o nosso ministério não seja criticado’, disse Paulo. Mas, pelo contrário, fale do ministério e do testemunho cristão para que não seja criticado.”
E termina Francisco: “Mas essas coisas são feias e eu devo custodiar o meu coração para acolher a gratuidade e o dom de Deus? Sim! E como faço isso? Continua Paulo: Com a pureza, sabedoria, magnanimidade, benevolência e espírito de santidade. A humildade, a benevolência e a paciência que olham somente Deus e têm o coração aberto ao Senhor que passa.” É Deus que nos garante o eterno e a nossa felicidade.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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