Quando
Jesus de Nazaré, no julgamento perante o pretor romano, admitiu ser rei, disse
ele: “Nasci e vim a este mundo para dar testemunho da verdade”. Ao que Pilatos
perguntou: “O que é a verdade”? Cético, o romano obviamente não esperava resposta
a essa pergunta, e o Santo também não a deu. Dar testemunho da verdade não era
o essencial em sua missão como rei messiânico. Ele nascera para dar testemunho
da justiça, aquela justiça que Ele desejava concretizar no reino de Deus. E,
por essa justiça, morreu na cruz.
Dessa
forma, emerge da pergunta de Pilatos – o que é a verdade? -, através do sangue
do crucificado, uma outra questão, bem mais veemente, a eterna questão da
humanidade: o que é a justiça?
Nenhuma
outra questão foi tão passionalmente discutida; por nenhuma outra foram
derramadas tantas lágrimas amargas, tanto sangue precioso; sobre nenhuma outra,
ainda, as mentes mais ilustres – de Platão a Kant – meditaram tão
profundamente. E, no entanto, ela continua até hoje sem resposta. Talvez por se
tratar de uma dessas questões para as quais vale o resignado saber de que o
homem nunca encontrará uma resposta definitiva; deverá apenas tentar perguntar
melhor.
Fonte: Do Livro O QUE É JUSTIÇA?
/ Hans Kelsen – Editora Martins Fontes
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