Conhecido desde sua fundação pela coerência programática e aliança ideológica incondicional entre seus pares, o Partido dos Trabalhadores chegou a 2015 surrado por um 2014 que começou a mostrar as entranhas de uma legenda rachada entre Dilmistas – os seguidores da presidente da República – e Lulistas, o séquito fiel ao ex-poderoso comandante em chefe da nação. Entre eles, as duas maiores estrelas hoje do PT se aceitam, se admiram, discutem, embora nos bastidores se estranhem também, contam aliados próximos, o que é natural no jogo do Poder. Fato é que inevitavelmente o PT passou a escancarar sua inédita autofagia aos holofotes do País.
E isso causou consequências. Drásticas e imediatas. O ex-apenado e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, mal saiu da cadeia, publicou em seu blog recados de que a economia vai mal porque o governo erra na política de juros e aumento de impostos. Uma semana antes, a ex-ministra da Cultura Marta Suplicy já dera o seu, em entrevista ao Estadão: em outras palavras, o PT acaba se continuar assim.
Ela sabe o que acontece das hostes à cúpula do partido, e em especial referiu-se veladamente a este racha entre dilmistas e lulistas. Marta já não se dava bem, sem segredos, com o chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante, seu rival direto na disputa pela prefeitura ou governo de São Paulo. Além das críticas na entrevista ao governo, já saíra soltando veneno contra a presidente Dilma na nota oficial de seu pedido de demissão.
Foi Marta escancarar o embate interno para Paulo Vannuchi, o fiel escudeiro de Lula, vir a público dizer o que pensava em gabinetes fechados: Ela agiu de maneira sórdida, disse em entrevista.
Aliás, outro que usou entrevista para desabafar contra o jeito Dilma de ser, o então ministro Gilberto Carvalho, o olheiro de Lula no Palácio do Planalto, mandou na lata que faltava competência ao governo. E quem governa? A chefe na sala colada à dele. Foi chamado às falas e demitido dias depois da entrevista, em conversa ríspida com a comandante em chefe. Ele negou, negou veemente a demissão, que se confirmou no último dia do ano.
Sobe a cortina e luz no palco petista: em cena, a disputa pela indicação do candidato a presidente do País e do controle do partido a partir de 2018. Desde já, fica evidente que Dilma, ao imprimir o seu modelo de governo com sua equipe 100% escolhida por ela, torna-se uma figura de peso dentro do PT para indicar um candidato, ao passo que Lula, se não for candidato, também o fará. Obviamente Lula e Dilma não disputarão (espera-se) esse troféu de quem vai escolher o candidato; mas, voltemos ao teatro petista, o embate entre dilmistas e lulistas vai colocar fogo no palco.
Lula pode bater no peito e falar em alto e bom som, do jeito que gosta: Nunca antes na história deste País o PT brigou tanto pela imprensa.
OAB x Dirceu
Após o Conselho Federal segurar e empurrar para São Paulo o caso, a seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil deu seguimento à tramitação de um processo de cassação da carteira de advogado José Dirceu – protocolado quando era apenado, há mais de ano.
A OAB deu prazo de 15 dias, a partir do último dia 16, para Dirceu apresentar sua defesa, e então marcará o julgamento.
Ainda cumprindo pena, agora em regime aberto, Dirceu conta com o registro para advogar e até como credencial para consultoria – pela revelação de sexta, a atividade de abre-portas no governo para empreiteiras amigas tem rendido milhões.
Fonte: Coluna Esplanda - Brasília/DF
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