A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou ontem, por unanimidade, a reclassificação do canabidiol - derivado da maconha - como medicamento de uso controlado e não mais como substância proibida. A maior parte dos diretores da agência ressaltou que não há relatos de dependência relacionada ao uso de canabidiol e que há diversos indícios registrados na literatura científica de que a substância auxilia no tratamento de enfermidades como a epilepsia grave.
De fato, estudos conduzidos em diversos países, entre eles EUA, Reino Unido, Canadá e Israel, têm mostrado efeitos benéficos no tratamento da esclerose múltipla, dores neuropáticas, enjoos provocados por quimioterápicos e epilepsia multifocal e de difícil controle.
A decisão põe fim a uma discussão que vinha se arrastando havia um tempo, desnecessariamente, gerando uma grande angústia em milhares de pessoas que sofrem de doenças como mal de Parkinson, autismo, esclerose, câncer e síndrome de Dravet.
O assunto chegou a ser debatido amplamente pelo Senado no ano passado, em meio à discussão da regulamentação da maconha. Nos debates, pais de crianças com recomendação médica de uso de derivados da maconha relataram o sofrimento de seus filhos e a dificuldade para obtenção dos produtos - trazidos à margem da lei em viagens ou comprados com amparo de decisões judiciais. Mesmo parlamentares contrários à regulamentação mais ampla da produção, comércio e uso da maconha se manifestaram a favor da legalização da importação de medicamentos à base de derivados da droga, para tratamento de doenças graves.
Possivelmente, o que mais pesou em todo o debate e motivou a reclassificação da substância pela Anvisa foi o fato de o canabidiol não causar dependência, não ter efeitos colaterais e apresentar efeitos terapêuticos potenciais, além de não ter efeitos adversos prejudiciais registrados.
Sem dúvida, com a decisão, a Anvisa corrige uma classificação que estava inadequada. Não havia por que deixar milhares de pessoas sofrendo, enquanto há um remédio disponível.
Paralelamente à liberação, contudo, é preciso continuar aprofundando os conhecimentos científicos do uso desta substância, para que se extraia o máximo benefício e se minimize ou anule qualquer risco dessa utilização.
Fonte: NOSSA OPINIÃO - Jornal O Estadão do Norte
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