sábado, 24 de janeiro de 2015

A VERDADEIRA LIBERDADE

A partir dos assassinatos de Paris, reinauguram-se jornadas de discussão sobre o tema da liberdade, a de pensamento e a de expressão. Discussões são coisas boas, a serem saudadas, liberdades também.

Todos opinam que a liberdade não pode ter limites, nem os que seriam sugeridos pelo atual governo, por exemplo, na sua sanha por controlar a informação pública brasileira, nem qualquer outro.

Os exageros, quando afrontando algum princípio previsto em lei, devem seguir o caminho dos tribunais, os outros não podem ser limitados. Isso é o que se depreende dos debates desses últimos dias.

Pois bem, sejamos livres: se desejo comparar a gravidade do ato bárbaro contra os jornalistas, com várias atrocidades cometidas por estados organizados, os 100 mil mortos pela invasão dos EUA ao Iraque, o uso do napalm no Vietnã, do fósforo branco na última guerra do Líbano, o lançamentos de duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, como muitos mais graves que a ação dos citados extremistas em Paris, isso é viável? Não seria taxado de alguma coisa que diminua os argumentos que apresento, e que evite a sua análise e discussão?

O que se deve entender, nessa nova margem estabelecida pelo atentado ao Charlie Hebdo, é que o tema liberdade não pode ser relativizado, não se pode considerar que os limites dos jornalistas franceses (ou a falta de) não possam ser entendidos a qualquer pessoa e a qualquer tema de interesse mundia, ou seja, tudo.

Existe, portanto , uma nova noção de liberdade, onde se deve permitir, com obrigatoriedade, que as atrocidades cometidas por governos, aliados ou não, de esquerda ou de direita, simpáticos a nós ou ão, pór qualquer característica, sejam citadas, conjuradas, protestadas e banidas. Note-se que todas essas manifestações, que pretendem uma consciência coletiva contra os extremistas, não incluem os entes oficiais, que tem cometido, sob qualquer ângulo, os piores atentados contra o planeta e seus habitantes.

Quando se pregam as liberdades, poucos se lembram das contrariedades que sentirão com "certas" liberdades. Nesse caso, leitores, a regra do jogo está clara, os limites não existem mais.

Fonte: Renato Soares Gutierrez - Médico / Jornal O Estadão do Norte


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