Muitas pessoas não se lembram em que votaram para deputado nas últimas eleições. Muitas mais não sabem o nome do vereador que conduziram à Câmara Municipal. O instituto do voto obrigatório tem forte dose de culpa nisso, ainda que existam outros fatores políticos e sociais. Uma das razões da baixa credibilidade dos políticos é que fazem promessas mirabolantes e nunca as cumprem. Nem são cobrados por elas. Graças a memória enfraquecida do eleitorado se salvam e conseguem mais um mandato. E depois mais outro. Titulares do executivo também apostam nessa amnésia ampla, geral e irrestrita e abrem o saco das maldades no primeiro ano do governo. Tem três folgados anos para esperar que a poeira se assente e o esquecimento se aninhe na maioria das consciências. Assim a democracia brasileira sobrevive de esquecimento em esquecimento.
Com a expansão das redes sociais e a criação dos nós da comunicação ficou ainda mais fácil recorrer aos arquivos e conferir o que o candidato eleito disse durante a campanha eleitoral. Nem mesmo essa nova tecnologia assusta os políticos. Montam verdadeiros estelionatos eleitorais. Prometem o que não vão cumprir, acusam o adversário de ser a própria representação do Tinhoso. Põem a cara maquiada no horário eleitoral e comparecem aos debates e entrevistas na tevê com um séquito de assessores que faria inveja a Harum El Rachid. Desfilam suas roupas sóbrias, capazes de passar credibilidade para o distinto público. Enumeram as propostas também maquiadas escritas pelo marqueteiro de plantão e nada pode dar errado. E não dá. A reeleição é a recompensa do imenso esforço e do gigantesco gasto bancado pelo empreiteiro amigo.
Uma das hipóteses para esse esquecimento agudo é a água do rio Letes. Segundo a lenda grega quem bebesse sua água esquecia tudo. Devem ter engarrafado o Letes e distribuído pelo país. Só isso explica que um candidato se apropria do programa do adversário e com aquela face de madeira de lei, usa e abusa como se seu fosse. Mesmo que tenha demonizado esse programa na campanha eleitoral. O público, mais uma vez, não se lembra quem prometeu o quê, quem acusou quem. Como acreditar em quem nos disse uma coisa quando era candidato à reeleição, está fazendo o contrário do que disse, e, no entanto, quer que acreditemos que não mentiu? Minha avó dizia que mentira tem perna curta. Alguém mais culto lembrou que não dá para enganar todos ao mesmo tempo sempre. Um dos pecados dos poderosos é que subestimam a inteligência alheia. De tão arrogantes, acham que conseguirão enganar os outros por muito tempo. Ou por todo o tempo. Até que se esborracham. Mas para isso é preciso que o povo para de beber a água do Letes.
Fonte: Herodoto Barbeiro
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