quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

HISTÓRIA - Instalação do Município de Porto Velho

Cem anos de instalação do município será comemorado pela Prefeitura de Porto Velho


A Fundação Cultural (Funcultural) confirmou a programação alusiva aos 100 anos de instalação do município. As comemorações iniciam na sexta-feira, 23 e encerram no sábado, 24. “Serão dois dias de muitas atividades para marcar essa data tão importante para o município. E toda ela será desenvolvida aqui na sede da Funcultural”, adiantou o presidente da instituição, Marcos Nobre. No dia 23, a partir das 16h, será feito o lançamento o I Encontro do Fórum Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Velho. O evento visa tratar sobre tombamento material e imaterial da cidade e também dialogar com as entidades e os ativistas que lutam pela preservação do patrimônio histórico de Porto Velho, além de prestar esclarecimentos sobre o assunto. 

No sábado, 24, acontece a parte festiva da programação. Os eventos que acontecem na Funcultural iniciará a partir das 18h. A programação que ocorrerá dentro do projeto “Espaço Béra”, consta de exposição fotográfica, exibição de filmes e documentários e shows musicais com Sílvio Santos e Silvinho e Ernesto Melo & Fina Flor do Samba. O município de Porto Velho, localizado à margem direita do rio Madeira, foi criado em 02 de outubro de 1914 pelo governador do Amazonas, Jonathas de Freitas Pedroza, com a sanção da Lei n. 757, aprovada pela Assembleia Legislativa amazonense. A instalação do município ocorreu no dia 24 de janeiro de 1915, com a posse do maranhense Fernando Guapindaia de Souza Brejense (1873-1929), major de engenharia do Exército, como superintendente do Município de Porto Velho, cargo equivalente ao de prefeito.

Guapindaia havia sido nomeado pelo governador Jonathas Pedroza, no dia 24 de dezembro de 1914. Junto com ele também foram empossados os intendentes (vereadores) José Jorge Braga, Luzitano Corrêa, Manoel Félix, Antônio Sampaio e José Camargo. 

Origem do nome

Porto Velho foi criada por desbravadores por volta de 1907, durante a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Em plena floresta amazônica, e inserida na maior bacia hidrográfica do globo, onde os rios ainda governam a vida dos homens. Fica nas barrancas da margem direita do rio Madeira, o maior afluente da margem direita do rio Amazonas. Desde meados do Século XIX, nos primeiros movimentos para construir uma ferrovia que possibilitasse superar o trecho encachoeirado do rio Madeira (cerca de 380 km) e dar vazão à borracha produzida na Bolívia e na região de Guajará Mirim, a localidade escolhida para construção do porto onde o caucho seria transbordado para os navios seguindo então para a Europa e os EUA, foi Santo Antônio do Madeira, província de Mato Grosso.

As dificuldades de construção e operação de um porto fluvial, em frente aos rochedos da cachoeira de Santo Antônio, fizeram com que construtores e armadores utilizassem o pequeno porto amazônico localizado 7 km abaixo, em local muito mais favorável. Em 15 de janeiro de 1873, o imperador Pedro II assinou o Decreto-Lei nº 5.024, autorizando navios mercantes de todas as nações subirem o rio Madeira. Em decorrência, foram construídas modernas facilidades de atracação em Santo Antônio, que passou a ser denominado Porto Novo.

O porto velho dos militares continuou a ser usado por sua maior segurança, apesar das dificuldades operacionais e da distância até Santo Antônio, ponto inicial da estrada de ferro. Percival Farquar, proprietário da empresa que afinal conseguiu concluir a ferrovia em 1912, desde 1907 usava o velho porto para descarregar materiais para a obra e, quando decidiu que o ponto inicial da ferrovia seria aquele (já na província do Amazonas), tornou-se o verdadeiro fundador da cidade que, quando foi afinal oficializada pela Assembleia do Amazonas, recebeu o nome Porto Velho. Hoje, a capital de Rondônia.

Barbadoes Town

Após a conclusão da EFM-M (em 1912) e a retirada dos operários, a população local era de cerca de 1 mil habitantes. Na época, o maior bairro do lugarejo era onde moravam os barbadianos — Barbadoes Town — construído em área de concessão da ferrovia. As moradias abrigavam principalmente trabalhadores negros oriundos das ilhas britânicas do Caribe, genericamente denominados barbadianos. Ali residiam pois vieram com suas famílias, e nas residências construídas pela ferrovia para os trabalhadores só podiam morar solteiros. Era privilégio dos dirigentes morar com os familiares. 

Com o tempo passou a abrigar moradores das mais de duas dezenas de nacionalidades de trabalhadores que para cá vieram. Essas frágeis e quase insalubres aglomerações, associadas às construções da Madeira-Mamoré foram a origem da cidade de Porto Velho. Muitos operários, migrantes e imigrantes moravam em bairros de casas de madeira e palha, construídas fora da área de concessão da ferrovia.

Assim, Porto Velho nasceu das instalações portuárias, ferroviárias e residenciais da Madeira-Mamoré Railway. A área não industrial das obras tinha uma concepção urbana bem estruturada, onde moravam os funcionários mais qualificados da empresa, onde estavam os armazéns de produtos diversos. De modo que, nos primórdios havia duas cidades: a área de concessão da ferrovia e a área pública. 

De acordo com o historiador Anísio Gorayeb, foi criada então a Rua Divisória, que era onde é atualmente a avenida Presidente Dutra. “Nela havia uma cerca dividindo a cidade em duas partes. Uma parte era domínio americano, visto que os americanos eram detentores da concessão da ferrovia e outra parte era domínio do município. O lado leste da Rua Divisória era administrado superintendente do município e o lado oeste pelos diretores da EFMM”, afirma. Na área da railway predominavam os idiomas inglês e espanhol, usados inclusive nas ordens de serviço, avisos e correspondência da Companhia. Apenas nos atos oficiais e pelos brasileiros era usada a língua portuguesa. 

Cada uma dessas povoações tinham comércio, segurança e, quase, leis próprias. Com vantagens para os ferroviários, face a realidade econômica das duas comunidades. Até mesmo uma espécie de força de segurança operava na área de concessão da empresa, independente da força policial da província do Amazonas. Essa situação gerou conflitos frequentes, entre as autoridades constituídas e os representantes da Railway. Embora as mortes a lamentar durante sua construção tenham sido muitas, a “Ferrovia da Morte”, como chegou a ser denominada a Estrada de Ferro Madeira Mamoré é, na verdade a ferrovia da vida, para Porto Velho e seu povo. A importância da EFMM para a formação da cidade pode ser medida pelo texto da lei de sua criação, aprovada pela Assembleia Legislativa do Amazonas, que diz: 

Art. 2º. O Poder Executivo fica autorizado a entrar em acordo com o governo Federal, a Madeira-Mamoré Railway Company e os proprietários de terras para a fundação imediata da povoação, aproveitando na medida do possível, as obras do saneamento feitas alí (sic) por aquela companhia, e abrir os créditos necessários à execução da presente lei.

Nos seus primeiros 60 anos, o desenvolvimento da cidade esteve umbilicalmente ligado às operações da ferrovia. Enquanto a borracha apresentou valor comercial significativo, houve crescimento e progresso. Nos períodos de desvalorização da borracha, devido às condições do comércio internacional e a inoperância empresarial e governamental, estagnação e pobreza. Ainda de acordo com informações do historiador Anísio Gorayeb, a primeira eleição no município de Porto Velho só aconteceu em dezembro de 1916, quando foi eleito o médico Joaquim Augusto Tanajura. Este, por sua vez, assumiu o município no dia 1º de janeiro de 1917, para uma gestão no período de 1917/1919. Joaquim Tanajura foi eleito novamente em 1922, para um segundo mandato no período de 1923/1925.

Fonte: Por Joel Elias - Tudo Rondônia

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