sábado, 1 de outubro de 2011

Mentiras de cada dia

Não há mentira que se sustente com alguma verdade

Como vai?  -- perguntaram-nos várias vezes por dia. E nós, invariavelmente, respondemos que vamos bem, ainda que nos retorcemos de dor-de-barriga.  Sabemos que quem nos perguntou quis apenas fazer um cumprimento forma, ainda que sem vontade de nos cumprimentar.  E nós, ainda que sem vontade de responder, temos na ponta da língua sempre a mesma resposta, ainda que não seja verdadeira.  Nossas relações humanas do dia a dia só conseguem funcionar bem com esse troca-troca da mentirinhas e hipocrisias.  Se fôssemos dizer a verdade, as coisas se complicariam.  Um jornalista de Munique, Jurgen Schimiender, resolver provar isso.  Passou 40 dias sem mentir.  Foi agredido, insultado, perdeu amizades e quase se separou da mulher, por dizer somente a verdade, nada mais que a verdade.  E escreveu um livro, relatando a desastrada experiência de abolir a falsidade.  Imaginem que ele se manteve firme até no pôquer!  Fico pensando se não tevce que dormir no sofá em vez de jantar fora na noite do aniversário de casamento, porque a mulher lhe perguntou o que achava da maquiagem.  Que resposta damos, sempre que alguém, querendo nos agradar, termina uma frase com um gostou?
Segundo o mentirômetro de pesquisadores, nós, humanos, mentimos cerca de 200 vezes por dia.  Cá entre nós, tem gente que ultrapassa essa da média   -- políticos, vendedores, publicitários, maridos infiéis, esposas infiéis (acrescentei) ....e, acrescentará o leitor, jornalistas. Acredito piamente que o leitor esteja errado quanto a nós jornalistas.....E é óbvio que há uma relação direta em alguns casos: quando mais arrogante, mais vezes irá mentir por dia.  O irônico é que quanto mais dona-da-verdade é a pessoa, mais vezes terá que mentir para manter a fama.  E, sabemos todos, mentira puxa mentira.,  Não há mentira que se sustente com alguma verdade.  A mentira vai se cercando de uma corrente de mentiras que deixa o autor tão  distante da primeira , que  acaba se enredando.
Deve ser por isso que vicejam nas bocas as palavrinhas: Com certeza! Sem dúvida! Claro!  - mesmo que no fundo não  tenhamos certeza de nada,m estejamos cheios de dúvidas e nos sintamos no escuro, querendo ver a questão com alguma clareza.  Até a língua já incorporou a hipocrisia rotineira: quando dizemos Pois não!  Estamos discordando com um sonoro Não"  As pequenas falsidades parecerm servir para manter a paz.  Será que nos entederiamos pacificamente se nossa boca só conseguisse dizer a verdade?

Fonte: Alexandre Garcia/Revista Avianca/in magazine.

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