Ele não estava
totalmente recuperado para um debate na televisão. Não estava
restabelecido de um período no hospital. Sua assessoria apoiou a
resistência, uma vez que sua aparência não era das melhores e eles
sabiam que a imagem em um momento de grande competição era fundamental
como a disputa da presidência. Não asseguravam que pudesse ficar de pé
em frente às câmaras e a população por pelo menos duas horas, e manter a
fala firme, convincente para os eleitores indecisos. É verdade que,
segundo as pesquisas, o número da audiência era muito baixo, mas
decisivos para a escolha do presidente da república. Em um veículo de
comunicação que atingia a maioria esmagadora da população, em horário
nobre de audiência, qualquer deslize, ou casca de banana jogada pelo
adversário seria fatal para as pretensões do candidato. Além disso
também teria que enfrentar um bando de hienas travestidos de
jornalistas, como dizia, prontos para só anotar os erros e amplifica-los
até o inferno. O ambiente era totalmente desfavorável para uma vitória
eleitoral, por isso os marqueteiros de plantão passaram a noite
debatendo a possibilidade de não aparecer e produziram várias desculpas
esfarrapadas para serem divulgadas no horário eleitoral.
Fugir do debate na televisão era outra arma para o adversário. Ainda
mais que ele tinha sido oficial das forças armada, participado de
treinamentos militares e sua presença era o mínimo que seus colegas de
caserna esperavam dele. Um soldado não foge da batalha. Enfrenta. E em
um período de instabilidade política nacional, o mínimo que se poderia
fazer era debater abertamente quais as soluções que tinha no seu
programa de governo para as questões nacionais. Um deles era a inserção
na sociedade de camadas da população marginalizadas, mais pobres, sem
acesso à escola, saúde e melhores salários. Não bastava se apresentar
como um bom homem, casado, com filhos e frequentador assíduo dos cultos
religiosos de sua igreja. Os dois disputavam os votos dos evangélicos e
católicos. Seu aspecto era, de fato, doentio, sua mãe o havia visto em
um noticiário e ligou para ele para saber como estava. De barba por
fazer, realmente parecia fraco, pálido, e sem forças. Como poderia
enfrentar o jovem adversário nessas condições ? O núcleo duro da
campanha recomendava não aparecer em nenhum dos quatro debates
programados pelas hienas das televisões.
O adversário sabia das fraquezas dele. Por isso queria mostra-lo por
inteiro para os eleitores. Repetia que quem o conhecesse não votaria
nele. Poderia reverter as pesquisas eleitorais amplamente divulgadas, o
que dava ao debate na televisão uma importância ainda maior. Além disso,
a imagem do adversário na tevê era muito melhor, sempre sorrindo,
descontraído, abraçado com os seus apoiadores e também acompanhado da
esposa. Ele também tinha uma família no gosto dos conservadores. É
verdade que fez várias mudanças no seu programa de governo para
conquista-los, mas isso se poderia discutir depois do resultado final da
eleição. Ambos estavam de olho nos estados da federação. O mapa do pais
era mostrado nos noticiários pintado de vermelho e azul de acordo com o
resultado das pesquisas mais recentes. O nordeste estava pintado muito
mais de vermelho do que de azul. Diante dessa situação não houve outra
alternativa para Richard Nixon se não debater com John Kennedy quatro
vezes. Os debates foram decisivos para a vitória do democrata que se
saiu melhor no último debate, já nas vésperas da eleição. Foi
determinante para o opositor, Kenedy, que venceu pela incrível
diferença de 0,01 %, zero, virgula, zero um por cento !!! Nixon ganhou
em 26 estados e ainda assim não conseguiu manter os republicanos no
poder. Houve quem duvidasse do resultado e denúncias de fraude foram
divulgadas, coisa incomum naquelas plagas.
Fonte: Jornalista Heródoto Barbeiro / Record News - SP.
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