Jair Bolsonaro, candidato considerado de extrema direita por veículos internacionais,
foi eleito presidente do Brasil neste domingo (28) e deixou o mundo
atônito. Como pode o país líder da América do Sul, dono da oitava maior
economia do mundo, dar essa guinada tão retumbante à direita?
Com 57,7 milhões de votos,
o candidato do PSL chega ao poder com maior legitimidade que sua
antecessora eleita em 2014. Ele teve 55,13% dos votos válidos contra
44,87% de Fernando Haddad (PT), escolhido por 47
milhões de eleitores. Em 2014, Dilma Rousseff teve 54,5 milhões de votos
e Aécio Neves (PSDB), 51 milhões — 51,64% contra 48,36%.
O
cenário que possibilitou a eleição do capitão reformado do Exército com
retórica autoritária vem se desenhando há pelo menos 5 anos. Em 2013, a
revolta "contra tudo que está aí" se materializou nas Jornadas de Junho, série de protestos iniciados pelo aumento de 20 centavos nas passagens do transporte público de São Paulo.
Mas
não era só pelos 20 centavos, como diziam os manifestantes de então. A
seguir, os 6 fatores que levaram à vitória de Bolsonaro:
1. Antipetismo
O Partido dos Trabalhadores permaneceu 14 anos no poder. Teria ficado
até mais se Dilma Rousseff não tivesse sido apeada do poder por
impeachment após ser julgada por suas manobras fiscais ilegais.
Nessa década e meia, o partido esteve envolvido em 2 graves escândalos de corrupção: o mensalão, descoberto em 2005, ainda no primeiro mandato do ex-presidente Lula, e o propinoduto da
Petrobras, descoberto pela Operação Lava Jato, deflagrada em 2014 pela Polícia Federal.
Como
estava no governo, o PT acabou sendo associado mais diretamente com os
esquemas, muito embora vários partidos da base aliada e até da oposição
participassem.
A retórica lulista do "eu não sabia", tanto para o
mensalão quanto para o petrolão, foi alimentando a raiva pelo partido
que outrora se vendia como baluarte da ética e já então caía na vala
comum das legendas marcadas pela corrupção.
Pelo
menos desde 2014, Jair Bolsonaro se posiciona mais claramente como
inimigo do PT. Mesmo tendo votado de forma semelhante ao partido na
Câmara em diversas ocasiões, o militar praticamente se autoproclama
"metralhador de petralhas", detonador das esquerdas.
2. Rejeição à política tradicional
O governo de coalizão, com suas trocas de nacos do Estado por tempo
de TV em campanha, atingiu o seu ocaso com a campanha de Dilma em 2014.
Foi um dos maiores tempos de televisão graças à maior coligação
eleitoral recente. PT e MDB estavam juntinhos, assim como o PP. Todos,
partidos investigados pela Polícia Federal. E numa chapa com dinheiro sujo. Adversários histórico do PT, o PSDB, de Aécio Neves, também mergulhara no mar de lama.
"A
classe política foi absolutamente devastada com a Lava Jato. Tem uma
total destruição dos líderes políticos, crise de credibilidade do
Congresso Nacional, partidos e lideranças", analisa Lucas de Aragão,
sócio e direto da Arko Advice, empresa de análise política, em
entrevista ao HuffPost Brasil.
"É quando aparece um outsider,
que assim se vende, e a sociedade aceita", engata Aragão. Refere-se a
Bolsonaro, que, a despeito dos 27 anos de Câmara Federal, não foi
considerado pelo eleitorado membro do clã da "velha política". Pelo
contrário, frequentador dos porões do baixo clero. Dono de uma porção de
frases de efeito que o tornavam nada além de uma caricatura.
Mas o
sujeito exótico foi ganhando cada vez mais holofotes, ainda mais após
defender o impeachment de Dilma na Câmara com homenagens a um
torturador. Imprevisível, Jair Bolsonaro se apresentou como o
antissistema.
3. Vontade de mudança
O esgotamento com a política tradicional levou os brasileiros a almejar mudanças. Na busca pelo novo, pelo desconhecido.
Não é coincidência que no 1º turno o Senado brasileiro teve 85% de renovação. Das 54 vagas em disputa, 46 foram ocupadas por nomes novos.
Nomes
tradicionais como de Romero Jucá (MDB-RR) e Eduardo Suplicy (PT-SP)
ficaram de fora. À direita ou à esquerda, cartolas da velha política
foram rejeitados.
Essa vontade de mudar foi decisiva para formar o tsunami pró-Bolsonaro que elegeu a 2ª maior bancada da Câmara Federal. O PSL também conseguiu fazer, além do presidente, 3 governadores estaduais.
4. Crise Econômica
Os erros na política econômica de Dilma produziram inflação
galopante, juros altos e o mais duro e resiliente reflexo da recessão: o
desemprego. Apesar de Temer ter mudado a rota petista, o brasileiro continua se queixando do bolso.
Para
Lucas de Aragão, da Arko Advice, Bolsonaro conseguiu endereçar o
problema da economia ao enfatizar na campanha sua agenda liberal. "O
eleitor brasileiro é maduro e muito pragmático, capaz de eleger um
doutor de Sorbonne, que é o FHC, e 4 anos depois um líder sindical que
não tinha escolaridade formal [Lula], porque ele julga que essa é a
pessoa adequada para prover o melhor para o País naquele momento",
explica.
5. Criminalidade
O Brasil tem cerca de 60 mil homicídios por ano. No ranking de
competitividade do Centro de Liderança Pública, 19 dos 27 estados caíram
nos indicadores de segurança pública. O medo e a insegurança fazem
parte da rotina dos brasileiros.
"Bolsonaro diz que não vai dar
margem para a bandidagem, vai diminuir idade penal de 18 para 16 anos e
vai armar áreas rurais para defender propriedade", enumera Aragão sobre
pontos da narrativa de Bolsonaro contra a criminalidade. "Ele consegue
se conectar com o eleitor."
O desejo por uma solução simples para
um problema complexo alimenta a esperança no rigor e na disciplina de um
ex-militar, que quer cadeia para criminosos — e não "direitos humanos".
6. WhatsApp
O Bolsonaro de hoje é certamente uma cria das redes sociais. Sua rede
de apoio construída no WhatsApp é uma das mais aguerridas. A professora
da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Letícia Cesarino diz
que o presidente eleito inaugurou no Brasil o "populismo digital".
"A campanha dele é sem precedentes no uso populista das plataformas digitais, em especial o WhatsApp", explicou, em entrevista ao HuffPost Brasil. "Os eleitores tomaram o lugar do Bolsonaro na campanha digital, principalmente depois do atentado que o candidato sofreu."
O
esfaqueamento no dia 6 de outubro certamente mudou o curso de sua
campanha, levando-o para longe dos debates na TV e para perto dos
eleitores em lives e sequências de tweets constantes.
Em todas as redes, fake news como esta e esta foram plantadas pela militância pró-Bolsonaro. O jornal Folha de S.Paulo também denunciou que empresas pagaram por pacotes de mensagens contra o PT pelo WhatsApp.
Fonte: MSN
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