domingo, 18 de março de 2018

CONHEÇA HISTÓRIAS DE QUEM TRANSFORMOU A CLÁSSICA KOMBI EM UMA CASA SOBRE RODAS PARA VIAJAR

Elas já são velhas conhecidas dos brasileiros, mas continuam ganhando novos fãs. Estamos falando da Volkswagen Kombi, que mesmo fora de linha não está fora de moda. A van continua esbanjando versatilidade e, em muitos casos, é mais do que um veículo para fazer carreto. Ainda hoje, a Kombi transporta sonhos e carrega histórias de gente que a transformou em uma verdadeira  "casas móvel", totalmente equipada para transportar viajantes e aventureiros para além de qualquer fronteira.
Para encarar o perrengue dessas viajens longas motorizadas, os viajantes recorrem a diversos tipos de customização. Sofá-cama, geladeira, armários, pia e até mesmo chuveiro podem ser inclusos nessa estrutura que vai muito além de um simples carro. As vantagens? Além do clima nostálgico, os preços baixos de peças e também de manutenção.
Customizando sonhos
Ano após ano, a Kombi é listada entre os dez modelos usados mais vendidos. Uma demanda motivada também por quem procura um carro que possa se tornar uma casa sobre rodas e sair da mesmice. É o que diz Rafael Dias, dono de uma oficina especializada em restaurar e customizar vans em São Paulo, como a Kombi.
“Minha primeira Kombi foi um modelo branco de 1996 que passei mais de um ano restaurando. Hoje ela é nosso orgulho e já a apresentamos em vários eventos pelo país. Apesar de termos sido chamados de loucos por muitos amigos, em 2016 veio o primeiro pedido de cliente para fabricar uma kombihome. Aí o negócio começou”, conta Rafael.

Só em 2017, a oficina de Dias customizou 17 unidades de várias versões do utilitário. O espaço é ajustado para atender as necessidades do cliente.
O modelo é comprado e fornecido pelo próprio interessado. A customização oferecido na oficina permite incluir armários, gavetas, camas que viram sofá e geladeira, entre outras funcionalidades. De acordo com Dias, o valor para realzar essas mudanças parte de R$ 14 mil: “Hoje os modelos mais requisitados são os refrigerados a água, por terem mecânica mais moderna e rápida”, diz o empresário.

Dias acredita ainda que o sucesso das Kombihomes será cada vez maior graças aos canais e páginas na internet que mostram as alternativas de uso do veículo: “A demanda deve crescer em 2018 pelo menos 25% em relação a 2017, já que os campistas e adeptos a viagens de lazer buscam cada vez mais esses veículos”, diz.
Desbravando o Brasil
Do Sul ao centro-oeste brasileiro, Azulaide já passou por mais de 20 cidades, entre Santa Catarina, Paraná e Chapada dos Veadeiros (GO). Estamos falando da Kombi Clippers 1995 responsável por levar Tainá Paza do Nascimento e Fernanda Rezini por diversas regiões do país. A dupla possui o canal no Youtube “Aventura de Férias”, onde narram toda essa jornada desbravando o Brasil . “Não estamos dando a volta ao mundo, não somos nômades, temos emprego fixo em nossas cidades, mas estamos sempre viajando com ela aos fins de semana ou quando tiramos férias”, contam.

O projeto começou em 2015, quando elas ainda passeavam de automóvel por aí ou com o mochilão nas costas, registrando tudo nas redes sociais. Em setembro de 2016, porém, Fernanda se desfez de seu carro e resolveu realizar um velho sonho: comprar uma Kombi para transformá-la na nova companheira de viagem da dupla. “Queríamos mostrar como era possível se divertir, conhecer lugares lindos sem precisar se deslocar por grandes distâncias. E a Kombi tinha um custo mais baixo”, contam.
Depois de comprar o van, a dupla passou um ano inteiro economizando para, enfim, transformá-la em casa móvel. Após as adaptações, feitas por elas mesmas, experimentaram o veículo em rotas mais curtas até se sentir seguras e familiarizadas com a sua mecânica. Apenas depois disso, começaram as viagens por distâncias mais longas.
Azulaide se tornou melhor amiga da dupla. “A gente sai para viajar com ela, mas também a usamos para trabalhar, ir ao supermercado e é legal porque ela chama a atenção por onde passa. As pessoas ficam tirando foto e a gente acha engraçado”, dizem.

“Todo mundo tem uma história legal com uma Kombi. Por isso, chamamos muito a atenção de pessoas de todas as idades, que acabam chegando perto e pedem para olhar por dentro. Sempre damos um jeito de mostrar e elas ficam muito suspresas”, dizem as aventureiras. Fernanda e Tainá dizem preferir encostar Azulaide em campings para dormir por não se sentir seguras em parar na rua.
Elas também contam que "as pessoas ficam impressionadas como aquele pequeno espaço é adaptável e não nos falta nada. Temos armários, geladeira, pia e até vaso sanitário. Nossas necessidades estão todas ali”, dizem.
Viagem em família
Há quase um ano e meio Rodrigo Dutra, com a esposa Michele e os filhos Duda, de 4 anos, e Caio, de 18, decidiu adotar “Piluá”, a Kombi 2002 customizada, para desbravar paisagens brasileiras.

Partindo de Marília, no interior de São Paulo, a família já conheceu o litoral paulista, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Goiás. Em junho de 2018 pretendem encarar uma viagem de cinco meses para o nordeste, onde pretendem se manter vendendo brigadeiro gourmet para arcar com os gastos da aventura.
A escolha pelo utilitário da VW foi baseada no preço. Segundo Rodrigo, é possível encontrar peças e manutenção em qualquer cidade por onde passam. Ele, que é serralheiro, leva suas ferramentas onde quer que vá, para prestar serviços e fazer um dinheiro extra.

“Transformamos a Kombi e hoje ela é nossa casa. A gente dorme e cozinha nela. Só para tomar banho procuramos campings ou postos de gasolina, mas nunca deixamos de dormir nela para ficar em hotel”, conta. A perua tem fogão, geladeira, camas de casal e de solteiro, ventiladores e gerador de energia de 12v.
Rodrigo conta que a aventura só foi possível por ter feito economia por quatro anos. Por mês a família chega a gastar R$ 1,8 mil, sendo 70% desse valor referente ao abastecimento da Kombi, que é movida a álcool.

Imprevistos também podem acontecer nas estradas, como quando uma correia do alternador quebrou, como relata Rodrigo: “Mas vale à pena. Desde que compramos a Kombi fizemos mais amigos do que na vida toda. As pessoas ficam curiosas, querem ver”, diz.
O serralheiro incentiva outros aventureiros que queiram aderir às casas móveis: “Tem que encarar, cair na estrada. Pode começar por viagens pequenas como nós fizemos, além de ficar em campings para se acostumar com a quantidade de coisas que é preciso levar junto”.
Além das fronteiras
“É um carro clássico bonito, com história, bom espaço, com manutenção fácil e de valor mais baixo”. Esses foram os principais motivos que levaram o casal Roana Petri Celeste e Anderson Diego Strutz a deixar a cidade de Blumenau (SC) com o yorkshire de cinco anos, Zed, a bordo de uma Kombi.

A família expandiu os horizontes quando decidiu comprá-la há dois anos - um modelo T2, ano 1990, de dois carburadores e 1.600 cc. Na época, a Kombi bem danificada não parecia ter muito futuro ou capacidade para se transformar em uma confortável casa móvel com chuveiro e forno elétrico, pia com filtro, banheiro químico, fogão a gás, geladeira 12V, carregador e até painel solar.
Mas Roana e Diego viram potencial nela. Fizeram toda customização interna, desde móveis até a isolação térmica, deixando só o motor original.  Depois de 11 meses de preparação e R$ 21 mil gastos, o casal estava pronto para cair na estrada.
Atualmente parados em Salinas, no Equador, os dois já levaram Zed e a Kombi para conhecer mais de sete países. “Já paramos para dormir em mais de 150 lugares diferentes. Viajamos pelo sul do Brasil, Uruguai, costa e norte da Argentina até Ushuaia. Passamos pela Patagônia Chilena até o Atacama, depois fomos para a Bolívia, Peru e estamos aqui há dois meses”, diz Roana.

O casal não saiu com dinheiro, então costuma faturar fazendo lanches e caipirinhas. Calculam que, por mês, chegam a gastar cerca de R$ 2 mil, a maior parte com combustível. A Kombi faz cerca de 9 km/l em altitudes maiores e 6 km/l nas cidades.
O destino final é o Alasca, no extremo norte-americano. “Se fizéssemos essa viagem com outro tipo de carro acho que o resultado não seria tão certo. A Kombi passa a imagem de ser um padrão mais baixo, de menos dinheiro, então chama muito a atenção e a gente acaba se beneficiando muito”, contam.
Segundo Roana, a Kombi viajante também trouxe muitos amigos e bons encontros pelas estradas, inclusive convites para estadias e outros tipos de ajuda. “Hoje não trocaria a Kombi para viajar em outro carro por tudo o que ela representa e pelas portas que ela abre pra gente”, diz ela. E completa: “Ela tem seus gastos e manutenções, mas é muito pouco o que tivemos que gastar”.

Fonte: AROLINE SASSATELLI COM TEREZA CONSIGLIO -  Revista Auto Esporte.

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