Elas já são velhas conhecidas dos brasileiros, mas continuam ganhando novos fãs. Estamos falando da Volkswagen Kombi, que mesmo fora de linha não está fora de moda. A van continua esbanjando versatilidade e, em muitos casos, é mais do que um veículo para fazer carreto. Ainda hoje, a Kombi transporta sonhos e carrega histórias de gente que a transformou em uma verdadeira "casas móvel", totalmente equipada para transportar viajantes e aventureiros para além de qualquer fronteira.
Para encarar o perrengue dessas viajens longas motorizadas, os viajantes recorrem a diversos tipos de customização. Sofá-cama, geladeira, armários, pia e até mesmo chuveiro podem ser inclusos nessa estrutura que vai muito além de um simples carro. As vantagens? Além do clima nostálgico, os preços baixos de peças e também de manutenção.
Customizando sonhos
Ano após ano, a Kombi é listada entre os dez modelos usados mais vendidos. Uma demanda motivada também por quem procura um carro que possa se tornar uma casa sobre rodas e sair da mesmice. É o que diz Rafael Dias, dono de uma oficina especializada em restaurar e customizar vans em São Paulo, como a Kombi.
“Minha primeira Kombi foi um modelo branco de 1996 que passei mais de um ano restaurando. Hoje ela é nosso orgulho e já a apresentamos em vários eventos pelo país. Apesar de termos sido chamados de loucos por muitos amigos, em 2016 veio o primeiro pedido de cliente para fabricar uma kombihome. Aí o negócio começou”, conta Rafael.
Só em 2017, a oficina de Dias customizou 17 unidades de várias versões do utilitário. O espaço é ajustado para atender as necessidades do cliente.
O modelo é comprado e fornecido pelo próprio interessado. A customização oferecido na oficina permite incluir armários, gavetas, camas que viram sofá e geladeira, entre outras funcionalidades. De acordo com Dias, o valor para realzar essas mudanças parte de R$ 14 mil: “Hoje os modelos mais requisitados são os refrigerados a água, por terem mecânica mais moderna e rápida”, diz o empresário.
Dias acredita ainda que o sucesso das Kombihomes será cada vez maior graças aos canais e páginas na internet que mostram as alternativas de uso do veículo: “A demanda deve crescer em 2018 pelo menos 25% em relação a 2017, já que os campistas e adeptos a viagens de lazer buscam cada vez mais esses veículos”, diz.
Desbravando o Brasil
Do Sul ao centro-oeste brasileiro, Azulaide já passou por mais de 20 cidades, entre Santa Catarina, Paraná e Chapada dos Veadeiros (GO). Estamos falando da Kombi Clippers 1995 responsável por levar Tainá Paza do Nascimento e Fernanda Rezini por diversas regiões do país. A dupla possui o canal no Youtube “Aventura de Férias”, onde narram toda essa jornada desbravando o Brasil . “Não estamos dando a volta ao mundo, não somos nômades, temos emprego fixo em nossas cidades, mas estamos sempre viajando com ela aos fins de semana ou quando tiramos férias”, contam.
O projeto começou em 2015, quando elas ainda passeavam de automóvel por aí ou com o mochilão nas costas, registrando tudo nas redes sociais. Em setembro de 2016, porém, Fernanda se desfez de seu carro e resolveu realizar um velho sonho: comprar uma Kombi para transformá-la na nova companheira de viagem da dupla. “Queríamos mostrar como era possível se divertir, conhecer lugares lindos sem precisar se deslocar por grandes distâncias. E a Kombi tinha um custo mais baixo”, contam.
Depois de comprar o van, a dupla passou um ano inteiro economizando para, enfim, transformá-la em casa móvel. Após as adaptações, feitas por elas mesmas, experimentaram o veículo em rotas mais curtas até se sentir seguras e familiarizadas com a sua mecânica. Apenas depois disso, começaram as viagens por distâncias mais longas.
Azulaide se tornou melhor amiga da dupla. “A gente sai para viajar com ela, mas também a usamos para trabalhar, ir ao supermercado e é legal porque ela chama a atenção por onde passa. As pessoas ficam tirando foto e a gente acha engraçado”, dizem.
“Todo mundo tem uma história legal com uma Kombi. Por isso, chamamos muito a atenção de pessoas de todas as idades, que acabam chegando perto e pedem para olhar por dentro. Sempre damos um jeito de mostrar e elas ficam muito suspresas”, dizem as aventureiras. Fernanda e Tainá dizem preferir encostar Azulaide em campings para dormir por não se sentir seguras em parar na rua.
Elas também contam que "as pessoas ficam impressionadas como aquele pequeno espaço é adaptável e não nos falta nada. Temos armários, geladeira, pia e até vaso sanitário. Nossas necessidades estão todas ali”, dizem.
Viagem em família
Há quase um ano e meio Rodrigo Dutra, com a esposa Michele e os filhos Duda, de 4 anos, e Caio, de 18, decidiu adotar “Piluá”, a Kombi 2002 customizada, para desbravar paisagens brasileiras.
Partindo de Marília, no interior de São Paulo, a família já conheceu o litoral paulista, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Goiás. Em junho de 2018 pretendem encarar uma viagem de cinco meses para o nordeste, onde pretendem se manter vendendo brigadeiro gourmet para arcar com os gastos da aventura.
A escolha pelo utilitário da VW foi baseada no preço. Segundo Rodrigo, é possível encontrar peças e manutenção em qualquer cidade por onde passam. Ele, que é serralheiro, leva suas ferramentas onde quer que vá, para prestar serviços e fazer um dinheiro extra.
“Transformamos a Kombi e hoje ela é nossa casa. A gente dorme e cozinha nela. Só para tomar banho procuramos campings ou postos de gasolina, mas nunca deixamos de dormir nela para ficar em hotel”, conta. A perua tem fogão, geladeira, camas de casal e de solteiro, ventiladores e gerador de energia de 12v.
Rodrigo conta que a aventura só foi possível por ter feito economia por quatro anos. Por mês a família chega a gastar R$ 1,8 mil, sendo 70% desse valor referente ao abastecimento da Kombi, que é movida a álcool.
Imprevistos também podem acontecer nas estradas, como quando uma correia do alternador quebrou, como relata Rodrigo: “Mas vale à pena. Desde que compramos a Kombi fizemos mais amigos do que na vida toda. As pessoas ficam curiosas, querem ver”, diz.
O serralheiro incentiva outros aventureiros que queiram aderir às casas móveis: “Tem que encarar, cair na estrada. Pode começar por viagens pequenas como nós fizemos, além de ficar em campings para se acostumar com a quantidade de coisas que é preciso levar junto”.
Além das fronteiras
“É um carro clássico bonito, com história, bom espaço, com manutenção fácil e de valor mais baixo”. Esses foram os principais motivos que levaram o casal Roana Petri Celeste e Anderson Diego Strutz a deixar a cidade de Blumenau (SC) com o yorkshire de cinco anos, Zed, a bordo de uma Kombi.
A família expandiu os horizontes quando decidiu comprá-la há dois anos - um modelo T2, ano 1990, de dois carburadores e 1.600 cc. Na época, a Kombi bem danificada não parecia ter muito futuro ou capacidade para se transformar em uma confortável casa móvel com chuveiro e forno elétrico, pia com filtro, banheiro químico, fogão a gás, geladeira 12V, carregador e até painel solar.
Mas Roana e Diego viram potencial nela. Fizeram toda customização interna, desde móveis até a isolação térmica, deixando só o motor original. Depois de 11 meses de preparação e R$ 21 mil gastos, o casal estava pronto para cair na estrada.
Atualmente parados em Salinas, no Equador, os dois já levaram Zed e a Kombi para conhecer mais de sete países. “Já paramos para dormir em mais de 150 lugares diferentes. Viajamos pelo sul do Brasil, Uruguai, costa e norte da Argentina até Ushuaia. Passamos pela Patagônia Chilena até o Atacama, depois fomos para a Bolívia, Peru e estamos aqui há dois meses”, diz Roana.
O casal não saiu com dinheiro, então costuma faturar fazendo lanches e caipirinhas. Calculam que, por mês, chegam a gastar cerca de R$ 2 mil, a maior parte com combustível. A Kombi faz cerca de 9 km/l em altitudes maiores e 6 km/l nas cidades.
O destino final é o Alasca, no extremo norte-americano. “Se fizéssemos essa viagem com outro tipo de carro acho que o resultado não seria tão certo. A Kombi passa a imagem de ser um padrão mais baixo, de menos dinheiro, então chama muito a atenção e a gente acaba se beneficiando muito”, contam.
Segundo Roana, a Kombi viajante também trouxe muitos amigos e bons encontros pelas estradas, inclusive convites para estadias e outros tipos de ajuda. “Hoje não trocaria a Kombi para viajar em outro carro por tudo o que ela representa e pelas portas que ela abre pra gente”, diz ela. E completa: “Ela tem seus gastos e manutenções, mas é muito pouco o que tivemos que gastar”.
Fonte: AROLINE SASSATELLI COM TEREZA CONSIGLIO - Revista Auto Esporte.
Customizando sonhos
Desbravando o Brasil
Viagem em família
Além das fronteiras
Fonte: AROLINE SASSATELLI COM TEREZA CONSIGLIO - Revista Auto Esporte.
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