É muito comum falar ou debater sobre a inteligência das pessoas como dom recebido pela própria natureza. Por isso, é também comum dizer que um é mais inteligente que outro e assim por diante. No entanto, pesquisas revelam que o mito do QI (Quociente de Inteligência) não pode ser mais considerado absoluto, o DNA não é tudo. Essa provocação vem da revista The Atlantic. Essa nova interpretação vem de uns anos atrás quando fizeram testes sofisticados, nos USA e Inglaterra, sobre a atividade cerebral do ser humano. Logo em seguida, foram publicados pelo jornal científico Nature.
Essas pesquisas demonstraram a ideia de que o QI da pessoa não seria fixo, imutável. Isto é, não se nasce inteligente. Durante todo o tempo da aplicação dos testes, os pesquisadores constataram resultados bem diferentes entre os estudantes que se empenhavam nos estudos e aqueles que se relaxavam. Além do mais, notaram, também, que os estudantes com ensino escolástico mais sério se tornavam mais perspicazes no aprendizado. Isto mostra que o QI não é discriminado pela sua condição de vida, que poderiam ser pobres ou moradores, por exemplo, em favelas.
De fato, nos Estados Unidos, hoje o QI é utilizado no sistema escolástico quase somente para quem sofre de qualquer problema mental, ou assim chamados especiais, para tentar, desse jeito, identificar, desde criança, os genes potenciais para encaminhar às escolas especiais: institutos que existem no interno do sistema escolar público. Praticamente, põe-se em questão a ’ditadura do QI’. Os Estados Unidos, que por mais de um século confiaram cegamente no QI, agora colocaram tudo isso em discussão, sobretudo quando foi cortado de uma vez por todas na tenra idade.
Com essa plataforma, não podemos dizer, segundo esses pesquisadores, que a pessoa nasce inteligente. Não podemos, com esses testes de QI, catalogar uma criança para escola A, B, C, porque alcançaram um nível superior a 110 ou inferior a ele e, enfim, abaixo de 90. Os psicólogos evolutivos criticam esse método e se questionam: como se pode condenar uma criança que não supera de maneira brilhante um teste que o condicionará para a vida toda? A essa altura, pode-se falar dos limites do QI porque medem somente a capacidade do ser humano de recepcionar noções e de ordena-las em um sistema de conhecimento,mas não dizem nada sobre as outras capacidades essenciais da sua conquista da vida e do trabalho: a criatividade, a capacidade de adaptação a diversas situações de vida, o compromisso, o sentido prático nas opções de vida, a sensibilidade social, a coragem em enfrentar adversidade da mesma vida e assim por diante.
Na medida em que os métodos de análise das capacidades dos estudantes se desenvolveram, com o passar dos anos, se conscientizaram que o QI não é um dado que não se pode discutir, uma sentença definitiva ligada ao próprio patrimônio genético, ou seja, o DNA, com certeza faz parte. Porém, somente até certo ponto. Muitos dizem, se formos catalogar em porcentagem, que todo esse patrimônio genético condiciona até 70 por cento e o resto o completa o trabalho, o ensino, o ambiente onde faz parte. Recentemente nos Estados Unidos se animaram debates, discussões sobre um dado que os deixam particularmente frustrados: o baixíssimo rendimento em matemática dos estudantes do ensino médio.
Essa disciplina é considerada indispensável para poder obter resultados positivos em um mercado de trabalho cada vez mais dominado pela tecnologia. Se os americanos dizem isso, com certeza também nós não estamos muitos diferentes deles: sentimos as dificuldades dos estudantes em dominar a matemática. E aqueles que conseguem se afirmar nisso têm perspectivas superiores. Fechado esse parêntese, os EUA têm uma indústria mais avançada no mundo, porém é superado em matemática pela China e de outros países do sul do mundo. A reação dos pesquisadores perante esse dado é que aquilo que conta não é tanto o DNA, mas a cultura dos chineses em se dedicar a trabalhar com total dedicação e abnegação.
No entanto, os americanos, dizem eles, acomodados pelo grande bem-estar, relaxaram. Justamente dois grandes economistas, Noah Smith e Miles Kimball, disseram na The Atlantic: “Acordai-vos, não é verdade que não possais conhecer a matemática, não vos escondais por trás de um mito”. Assim sendo, fica bem definido que o grande proveito na vida não depende tanto do QI, mas da vontade de querer vencer na vida, de dedicação e trabalhando no duro. Conclusão: a inteligência não é determinada pelo DNA da pessoa, mas pela sua dedicação e empenho de vida: arregaçando as mangas e suando bastante.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.