Movimentos
sociais organizados em centros urbanos são frutos do processo da revolução
industrial. No final do século 18 iniciou-se uma mudança no modo de produção
com o advento das “fabricas”. Para que produzissem o necessário para o consumo
interno e para exportar para o mundo colonial elas se organizaram umas próximas
das outras, e a produção foi dividida entre os primeiros operários, ex-
artesãos. Isto aconteceu ao meio de um êxodo rural e o inchaço das cidades
inglesas. Os nobres cercaram suas terras para criar carneiros e ganhar dinheiro
com a lã. Os camponeses tinham duas opções, ou viver ao longo das estradas ou
ir para as cidades e vender a sua mão de obra por um preço vil. Para agravar
ainda mais a situação, os industriais incentivaram o desenvolvimento de
máquinas que substituíam os artesãos. Com isso ganhavam em produtividade e em
estoque para a exportação. Um novo tear automático significava demitir os
miseráveis que trabalhavam nas fábricas fétidas. O operário Lud liderou um
movimento contra essa situação. Ele e seus seguidores elegeram como grandes
vilões de sua infelicidade as máquinas. Passaram a atacar as fábricas e
destruí-las. Mesmo organizados não conseguiram impedir o processo de
mecanização. No dizer do historiador Hobsbaum"era uma mera técnica de sindicalismo de
operários no período que precedeu a revolução industrial e as suas primeiras
fases operárias".
Já no século 19 os operários ingleses lutavam por outras conquistas
sociais. Exigiam a participação na condução da vida social, política e
econômica do país. O movimento foi liderado pela Associação dos Operários de
Londres. Longe de ser uma organização revolucionária, relacionaram uma série de
reivindicações como o voto universal masculino, secreto e em cédula. Eleições
anuais com a participação no parlamento. Igualdade eleitoral com a
nobreza e a burguesia, entre outras reivindicações. A Associação listou tudo em uma Carta, e os
cartistas se organizaram para pressionar o parlamento. Houve grossa
pancadaria nas ruas de Londres e o exército inglês foi chamado para combater os
insurgentes. Depois de muito sangue derramado as propostas foram sendo uma a
uma gradativamente aceitas pelo parlamento. Diante disso o interlocutor, a
Associação dos Operários, desapareceu. Outras apareceram sob a forma de
sindicatos.
O Estado precisa identificar na sociedade os interlocutores do desejo de
parte da população. Sejam associações, sindicatos, centrais sindicais, partidos
políticos ou líderes sociais. Sem esses atores para promover uma negociação há
sério risco de conflito social, que se sabe como começa e não se sabe como
termina. Movimentos sem lideranças conhecidas ou organizadas são sintomas que a
população não acredita mais nem nos representantes no Congresso, nem nos
sindicatos, nem nas associações que poderiam representa-los. Em alguns
casos recentes o Estado foi tomado de surpresa, e reagiu com a violência e os
tumultos se espalharam. Manifestantes contam hoje com a comunicação das redes
sociais, os panfletos eletrônicos que são emitidos e compartilhados aos
milhões. Os exemplos mais atuais foram os protestos nas ruas de São Paulo, as
manifestações contra a Copa do Mundo, os bloqueios de estradas pelos
caminhoneiros e os quebra-quebras quando o transporte público não funciona.
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