Reconheço, com toda a capacidade de entender, que minha vocação cristã partiu de minha mãe. Ela que, com paciente educação, me introduziu à grande caminhada do seguimento de Jesus, o Cristo. E o fez com uma constante educação cotidiana, que ia dos simples exemplos à oração e testemunho de tudo que me dizia. A minha primeira escola da transmissão da fé aconteceu justamente no lar familiar. Essa escola, centralizada na mãe, ninguém conseguiu eliminar em todo o meu percurso educativo cristão. Justamente, nesses dias, o nosso querido santo padre, o papa Francisco, enfatizou essa instância da transmissão familiar à fé: “São as mães, as avós, que transmitem a fé”, disse ele.Francisco continua: “Uma coisa é transmitir a fé e outra é ensinar as coisas da fé. A fé é um dom, não se pode estudar. Estudam-se as coisas da fé, sim, para entendê-la melhor, mas você nunca chegará à fé com o estudo. Ela é um dom do Espírito Santo, é um presente que vai além de qualquer preparação”. Assim sendo, as mulheres se revestem de um grande protagonismo na vida cristã. Não podemos imaginar a nossa vida de fé sem elas. Elas são determinantes em todos os sentidos. De fato, nas nossas igrejas, a presença maciça das mulheres é que faz a diferença dos fiéis.
Às vezes, constatando essa presença feminina na vida da igreja, eu me pergunto: como seria, se as mulheres não estivessem presentes? Uma igreja sem mulheres? É evidente que seria um vazio quase total. Uma lacuna sem fim. É a mulher que é fiel e constante na participação da vida da igreja. É interessante lembrar sempre que Jesus veio através de uma mulher. Nesse sentido o nosso papa nos fala abertamente: “Vem-me à mente esta questão: por que são principalmente as mulheres a transmitir a fé? Simplesmente porque quem nos trouxe Jesus foi uma mulher. Foi o caminho escolhido por Jesus. Ele quis ter uma mãe: o dom da fé também passa pelas mulheres, como Jesus passou por Maria”.
Por tudo isso, precisamos reconhecer que as mães, avós e tias deveriam ser mais protagonistas nas estruturas da vida eclesial para fortalecer, de fato, a transmissão da fé. Como elas são determinantes na vida familiar, poderão ser também na vida eclesial. Porém, o papa alerta também: “Devemos pensar hoje se as mulheres têm a consciência do dever de transmitir a fé.” Uma sociedade como a nossa, às vezes, a superficialidade da vida, da convivência, torna mais difícil essa vocação da transmissão da fé. O apóstolo Paulo convida a guardar a fé, evitando “os vazios mexericos pagãos, as fofocas mundanas.”
Por isso, o papa Francisco insiste que “todos nós recebemos o dom da fé. Devemos custodiá-lo para que ele pelo menos não se dilua, para que continue a ser forte com o poder do Espírito Santo”. E justamente a fé é custodiada quando reacende este dom de Deus. Continuando o santo padre: “Se nós não temos esse cuidado, a cada dia, de reavivar este presente de Deus que é a fé, a fé se enfraquece, se dilui, acaba por ser uma cultura: ‘Sim, mas, sim, sim, eu sou um cristão, sim...’, uma cultura, somente. Ou a gnose, um conhecimento: ‘Sim, eu conheço bem todas as coisas da fé, eu conheço bem o catecismo’. Mas como você vive a sua fé? E esta é a importância de reavivar a cada dia este dom, este presente: de torná-lo vivo”.
Contrastam “esta fé viva” - diz São Paulo - duas coisas: “o espírito de timidez e a vergonha”: “Deus não nos deu um espírito de timidez. O espírito de timidez vai contra o dom da fé, não deixa que cresça que vá para frente, que seja grande. E a vergonha é aquele pecado: ‘Sim, eu tenho fé, mas eu a cubro, que não se veja muito... '. É um pouco daqui, um pouco de lá: é a fé, como dizem os nossos antepassados, água de rosas. Porque eu tenho vergonha de vivê-la fortemente. Não. Esta não é a fé: nem timidez, nem vergonha. Mas o que é? É um espírito de força, de caridade e de prudência. Esta é a fé”, afirmou o papa.
O espírito de prudência - explica o Papa Francisco - é “saber que nós não podemos fazer tudo que queremos”. Significa buscar “as estradas, o caminho, as maneiras” para levar avante a fé, mas com prudência. “Peçamos ao Senhor a graça” - conclui o Papa – “de ter uma fé sincera, uma fé que não é negociável, segundo as oportunidades que surgem. Uma fé que a cada dia procuro reavivá-la, ou pelo menos peço ao Espírito Santo que a revive e assim dê um grande fruto”. Terminando, peçamos para todas as mães que continuem firmes e fortes na transmissão da fé no nosso Deus, nosso salvador.
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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