O salmo 27 das Sagradas Escrituras é o canto que nos dá esperança de vida. Em que consiste isso? É a chegada da Palavra de Deus como resposta verdadeira aos problemas do cotidiano do fiel. É Ela que resolve as vicissitudes da humanidade; é Ela que derrota o sofrimento e abre horizontes de vida até perante a morte. O intercessor, nesse caso, invoca Deus, porque o silêncio Dele é sinônimo de morte e abandono, e, por isso, quer escutá-Lo. E quanto silêncio hoje! Leia atentamente quanto o salmista proclama com toda confiança:
“É para vós, Senhor, que ergo meu clamor. Ó meu apoio, não fiqueis surdo à minha voz; não suceda que, vós não me ouvindo, eu me vá unir aos que desceram para o túmulo. Ouvi a voz de minha súplica quando clamo, quando levanto as mãos para o vosso templo santo. Não me deixeis perecer com os pecadores e com os que praticam a iniquidade, que dizem ao próximo palavras de paz, mas guardam a maldade no coração. Tratai-os de acordo com as suas ações, e conforme a malícia de seus crimes. Retribuí-lhes segundo a obra de suas mãos; dai-lhes o que merecem, pois não atendem às ações do Senhor nem às obras de suas mãos. Que Ele os abata e não os levante. Bendito seja o Senhor, que ouviu a voz de minha súplica; nele confiou meu coração e fui socorrido. O Senhor é a minha força e o meu escudo! Por isso meu coração exulta e o louvo com meu cântico. O Senhor é a força do seu povo, uma fortaleza de salvação para o que lhe é consagrado. Salvai, Senhor, vosso povo e abençoai a vossa herança; sede seu pastor, levai-o nos braços eternamente.”
O que observamos nesse interessante hino? Nota-se uma evidente simbologia que se opõe àquela da palavra e do silêncio. Aqui o ser humano grita ‘socorro’ com toda a sua força para Deus. No entanto, Deus parece indiferente perante o drama que está vivendo o autor desse salmo. O drama humano que está passando, esse fiel, leva-o a gritar com toda a sua força na invocação, erguendo até as mãos. O corpo todo é contrito na sua oração. De repente, quebrando o silêncio divino, a Palavra do Senhor intervém para salvá-lo. Assim, o fiel, perante essa experiência de ajuda, sente-se fortalecido e a sua boca se enche de palavras de alegria e de júbilo. Esse Deus que parecia calado, insensível ouviu a voz do suplicante. Desse jeito, os ímpios, que o ameaçam porque não respeitam a Aliança, enquanto ofendem a Deus e não respeitam os pobres, são derrotados. Aqueles que se prodigam a fazer o mal se afastam de Deus e assim não pertencem ao povo de Deus. É verdade também que Deus não pode estar indiferente perante a ação injusta dos ímpios. Afastar-se de Deus equivale afastar-se da vida, e desse modo a morte reinará. Isto quer dizer que o ser humano se sente sozinho, perdido nos meandros do cotidiano.
Achei interessante a fala do Papa Francisco sobre o que estamos refletindo: “A oração com a dor e a angústia”, o fiel “confia dor e angústia ao Senhor». E nisto, o Papa nos recorda Cristo: com efeito, “Jesus conheceu esta oração no Horto das Oliveiras, quando a sua angústia era muita e a dor lhe fez suar sangue, e não repreendeu o Pai: “Pai, se quiseres, livra-me disto, mas seja feita a tua vontade”. Acrescentou: “muitas vezes rezamos, pedimos ao Senhor, mas às vezes sabemos chegar precisamente àquela luta com o Senhor, até às lágrimas, para pedir a graça”.
A oração – disse Francisco – faz milagres. Além disso, falou: “A oração dos fiéis muda a Igreja: não somos nós, papas, bispos, sacerdotes, religiosas, quem leva a Igreja em frente, são os santos! Os santos são aqueles que têm a coragem de acreditar que Deus é o Senhor e que pode fazer tudo”. E concluiu insistindo a interceder Deus para que “nos dê a graça da confiança na oração, de rezar com coragem e também de despertar a piedade, quando a perdemos, e ir em frente com o povo de Deus ao encontro com ele”. É nessa dimensão de confiança no Deus da vida que podemos experimentar a maravilha da vida que temos nas mãos. É essa confiança que nos dá o poder de discernir a força irresistível do nosso Senhor entre nós. Encontrei nesses dias, aqui na Itália, uma pessoa que perdeu tudo na vida, até as pessoas mais queridas da família; vive praticamente peregrinando e de ajuda. Porém o que mais me impressionou na sua narração foi como ele confia totalmente em Deus, como ele invoca, reza constantemente Deus. É essa oração que lhe permite sorrir, enxergar além dos graves problemas. Garantiu-me: “A minha vida vai muito além da provisoriedade dessa terra, da minha total pobreza e miséria”.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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