segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A TUA JUSTIÇA, SENHOR, LIVRA-NOS DOS SUBORNOS!

Quanto é difícil nos dias de hoje vivermos transparentes, sem nos contagiar pelo mal! A sociedade, na medida em que se fundamenta sempre mais no deus-dinheiro, no deus-proveito, nos deuses-negócios, torna-se cada vez mais vulnerável no sentido da transparência e da honestidade. Quando falo ‘deus’, com o “d” minúsculo, quero dizer, nesse caso, que essas coisas estão acima de tudo e todos, são as mais importantes na vida. Então, constatando como a nossa sociedade está se apoiando nesses deuses, creio que seja bem difícil vivermos a verdadeira justiça. No final, poderia dizer como é complicado não se deixar contagiar por uma sociedade com esses valores relativos. Portanto, para vivermos com justiça, não nos deixar contagiar pela corrupção, talvez precisaremos rever a impostação de toda a nossa sociedade, como um todo. Nesse sentido, quem nos dá umas dicas para fazer uma ponderada avaliação do nosso ser e ter, é a Sagrada Escritura, através do salmo 25. Veja o que nos diz:

“Fazei-me justiça, Senhor, pois tenho andado retamente e, confiando em vós, não vacilei. Sondai-me, Senhor, e provai-me; perscrutai meus rins e meu coração. Tenho sempre diante dos olhos vossa bondade, e caminho na vossa verdade. Entre os homens iníquos não me assento nem me associo aos trapaceiros. Detesto a companhia dos malfeitores, com os ímpios não me junto. Na inocência lavo as minhas mãos, e conservo-me junto de vosso altar, Senhor, para publicamente anunciar vossos louvores, e proclamar todas as vossas maravilhas. Senhor, amo a habitação de vossa casa, e o tabernáculo onde reside a vossa glória. Não leveis a minha alma com a dos pecadores nem me tireis a vida com a dos sanguinários, cujas mãos são criminosas, e cuja destra está cheia de subornos. Eu, porém, procedo com retidão. Livrai-me e sede-me propício. Meu pé está firme no caminho reto; nas assembleias, bendirei ao Senhor.”

Para melhor compreendermos esse texto literário, precisamos fazer umas considerações da redação do mesmo. Esse salmo se divide em duas partes, onde se evidenciam duas proclamações de inocência. Na primeira parte, que vai até o versículo cinco, o suplicante manifesta a sua convicção de que Deus peneire a moralidade dos seres humanos com grande rigor. Aquilo que vivemos ainda nos dias de hoje, o grande desejo de muitas pessoas é que Deus possa reverter esses comportamentos humanos que não tem moral nenhuma. As pessoas não se entendem mais, cada um age conforme o que achar melhor. Cada um faz a sua moral. Por isso, o ser humano invoca Deus, que sonda no mais profundo o coração, e, assim, lhe revela a capacidade de rejeição do mal. É a rejeição do mal, que o intercessor jura ter cumprido em todos os momentos da sua vida com a maior firmeza: “Entre os homens iníquos não me assento nem me associo aos trapaceiros”. Na segunda parte em que tem a outra reclamação da inocência, “Na inocência lavo as minhas mãos”, revela-se de maneira mais transparente a personalidade daquele que reza. Que sentido tem aqui ‘lavar-se as mãos’? A simbologia desse gesto pertence a todas as culturas como sinal de inocência e pureza. Porém, nesse caso, o suplicante procede de uma maneira diferente, em que não se lava as mãos na água lustral, mas na sua mesma inocência, certificando desse jeito a sua radical pureza interior. Assim sendo, moralmente íntegro, ele pode participar efetivamente ao culto litúrgico, à solene assembleia litúrgica no templo. No entanto, aqueles que não participam do templo, segundo o salmista, são homens iníquos e por isso acrescenta: “com os ímpios não me junto”.

O templo, sendo um ‘lugar’ santo por excelência, é a casa onde Deus se faz presente na história, é a residência terrena de Deus do infinito, é a sede da glória da manifestação do Senhor aos seus. Insistindo, o salmo com a vida do justo é como se fosse o verdadeiro culto grato a Deus, e no espírito da teologia profética é inimigo de todo ritualismo mágico e exterior. E Jesus, fiel ao ensino profético, contesta também Ele em fazer uma liturgia desencarnada. Quantas vezes cristãos, ainda hoje, fazem da liturgia mais teatro, e os corações deles estão longe de Deus? Quantas vezes as celebrações são esvaziadas por não deixar questionar a própria conduta de vida pessoal, comunitária e sociopolítica? É difícil, tendo um comportamento iníquo, louvar e proclamar as maravilhas de Deus! Outro dia, uma pessoa me confidenciou a dificuldade de viver honestamente na sociedade hoje: “Parece que não se consegue fazer nada, nenhum negócio se não aceitar acordos ilícitos!” Creio firmemente que se pode se livrar das injustiças, desonestidades e corrupções, mas precisamos estar do lado de Deus, se comprometer concretamente com Ele, evitando as infinitas palavras.

Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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