O abraço carinhoso e fraterno que recebi do papa um ano atrás poderia representar o símbolo do novo jeito de ser Igreja. O gesto ocorreu dentro da capela Santa Marta, onde participei da missa celebrada por Francisco. Eu me senti como um irmão do pontífice e fiquei bem a vontade junto dele. É isso que ele quer de nós: que saibamos ir ao encontro do próximo, como amigos e irmãos. O olhar do papa me causou impacto, sintonia e inibiu formalidades. Sem receios e temores, típico do encontro entre superior e subalterno, pude viver momentos intensos de fé e eclesialidade. Esse encontro foi inesquecível para mim.
Tudo isso significa muito para minha vida. Sempre acreditei e apostei em uma Igreja que não se preocupa tanto em fiscalizar, determinar, fazer prevalecer normas, mas que escuta, que quer estar próxima das pessoas, ser acolhedora. Incluir e não excluir. Desde quando o papa Francisco foi escolhido, ele demonstrou esse ser da Igreja. A partir da escolha de seu nome, privação de ostentação de poder, todos os seus pronunciamentos e sua ação pastoral e doutrinal marcaram uma Igreja que prioriza o amor e a acolhida de braços abertos. Uma Igreja despojada e rica em amar. O exemplo do papa é cativante!
Achei interessante a declaração em uma coletiva de imprensa ao término do último Sínodo dos Bispos, em outubro, em Roma, do bispo da Bélgica, dom Van Looy: “É o fim do julgamento sobre as pessoas. É o fim de uma Igreja que julga e o início de uma Igreja que escuta, que fala. Temos agora uma Igreja de ternura para as pessoas. Poderia ser o início de uma Igreja nova.” Com certeza, todo mundo percebe o quanto o papa Francisco nos faz respirar mais intensamente o Evangelho. O acolhimento como verdadeira e bela notícia; notícia de esperança, de confiança em um Deus que é para todos, sobretudo, para os excluídos da vida da Igreja.
“Sabe, padre, eu sou recasado e impedido de receber os sacramentos, mas agora sou feliz de saber que o papa e a Igreja se interessam por mim. É confortador saber que não somos excluídos.” A declaração desse irmão agora se tornou comum no meio dos fiéis e não fiéis, em maneira unânime, aplaudindo com entusiasmo o papa Bergoglio. Isso não é só no Brasil, mas em qualquer parte do mundo. O povo se entusiasma com mensagens e novas perspectivas de vida. E com razão, veja, por exemplo, essas palavras do papa Francisco: “O primeiro dever da Igreja não é aquele de distribuir condenações ou anátemas, mas é aquele de proclamar a misericórdia de Deus”.
Parece-me ver Jesus no meio das multidões que prega a esperança e a confiança em um Deus que ama. Um verdadeiro Pedro que assume a herança de Jesus Cristo em conduzir “seu povo para as verdes pastagens”. Mensagens como essas alimentam esperança, vontade de buscar ardentemente a Deus. O ser humano se sente perdido quando não consegue ter respostas na sua vida e em particular discernir algo que possa perscrutar verdades de vida. Continuando Francisco: “Uma Igreja viva não usa módulos pré-fabricados.” O nosso querido papa nos mostra que a Igreja não pode ser fechada, ter medo de arriscar para promover as filhas e os filhos de Deus.
Encurtar os espaços que nos dividem e nos separam do nosso Deus. É nessa aproximação que podemos dar maior sentido à nossa vida, compreende-la. Toda a humanidade quer vida e o papa Francisco vai ao encontro apressadamente desse anseio. Por isso ele brada: “Que a beleza da novidade cristã, às vezes, é coberta da ferrugem de uma linguagem arcaica ou simplesmente incompreensível e avançar para uma Igreja dos pobres em espírito e dos pecadores em busca do perdão e não somente dos justos e dos santos”. Não só. Ele acrescenta: “Para uma Igreja que não tem medo de sacudir as consciências anestesiadas ou de se sujar as mãos discutindo animadamente francamente sobre a família”.
Francisco é um papa que quer estar próximo do seu rebanho, que quer “cheirar as ovelhas” para protegê-las até o fim. Um papa que não tem medo de nada porque ele tem a plena consciência de estar cumprindo a vontade de Deus. É Pedro! Fiel a missão que lhe foi confiada. Assim, podemos perceber que a Igreja, com o papa Francisco, torna-se revolucionária da ternura. Portanto, “os integrantes delas não podem ter corações fechados que muitas vezes se escondem até por trás dos ensinamentos da Igreja ou por trás das boas intenções, para se assentar sobre a cátedra de Moisés e julgar, algumas vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas”, concluiu Francisco. O amor de papa Francisco é a garantia do amor de Deus para conosco.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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