A falta de justiça é o grande mal de nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo o nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação. Esta afirmação foi feita em 1914, no senado, pelo jurista Rui Barbosa. Ele estava preocupado com a impunidade, uma sensação que só aumentou desde então. Não só para os que se envolvem com grandes assaltos aos cofres da mãe pátria distraída como para quem comete crimes comuns, como assaltos ou assassinados. Há uma atmosfera que crimes não são punidos e quem tem advogados pagos em dólar tem muito mais chances de escapar das grades, manter o seu patrimônio e se alguma coisa der errado, cumprir pena em casa.
A injustiça desanima o trabalho, a honestidade, o bem, cresta em flor os espíritos dos moços, semeiano coração das gerações que vem nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar se não na estrela, na fortuna, no acaso, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas. Com essa frase Rui define bem o ambiente brasileiro do Século 21. Mal sabia ele que tudo o que constatava não era só da sua época, mas do futuro do seu próprio país. Em linguagem atual, é o liberôgeral, vamo que vamo, deixa de ser burro, aproveita, trabalhar é para trouxa, quero me dar bem, o povo que se exploda, sou mas quem não é, e por aí vai.
E nessa destruição geral de nossas instituições, a maior de todas as ruínas, é a ruína da justiça, colaborada pela ação dos homens públicos, pelo interesse dos nossos partidos, pela influência constante de nossos governos, prossegue Rui Barbosa. É como se estivéssemos vendo uma reprise que se repete sem cessar a cada ano. Um pesadelo que não acaba nunca, e que destrói a esperança de muitos que acreditam em uma sociedade mais justa e democrática. Cai por terra, derrubada pela ética, o método que os fins justificam os erros. Patinamos anos e anos nos mesmos erros e nunca chegamos ao fim. Eles não largam o osso nunca. Os fatos mais recentes comprovam isso. É do mesmo discurso de Rui Barbosa : De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. Para onde ir?
Fonte: Jornalista Herodoto Barbeiro - São Paulo/SP
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