domingo, 28 de dezembro de 2014

O Reverso da Medalha

Há várias formas de agir com quem está ficando velho. Às vezes, mesmo levados para um asilo, que pode ser de pequeno, médio e grande porte, demoram tanto para morrer e, para que a fortuna venha para as suas mãos, os filhos resolvem interditar o idoso. Com a interdição, fica provado que o velho não tem condições de gerir seus bens e então passam esse poder para os filhos ou seu responsável.

Os que nada têm não precisam ficar preocupados, pois apenas os deixarão num depósito de velhos, abandonados e sem perceber que os parentes, os filhos, as pessoas que tanto amou não o querem mais. Entanto, ficam chamando por eles, implorando a sua presença e, na maioria das vezes, vão se deteriorando aos poucos, carcomidos pelo cupins do abandono.

Mas os que têm independência financeira estão internados, pagam as suas despesas, não dependem de ninguém, esses é que são as vítimas mais atraentes e candidatos à interdição, pois os seus herdeiros querem provar que os velhos estão gastando a fortuna que lhes pertence e que logo eles não terão mais nada para receber e depois da sua morte ficarão apenas com as dívidas para pagar.

Há pessoas que, quando vão envelhecendo, querem a certeza de ter alguém para cuidar, ajudar, quando impossibilitados estiverem de se locomover ou não tiverem mais a memória, o uso da razão e decidem em cartório a passar os seus bens para um parente a fim de garantir uma velhice tranquila.

Há casos em que deixam a pessoa em uma casa de idosos e se desfazem dos seus bens, vendendo, passando em nome de seus próprios filhos, pior ainda, deixando de assistir ao idoso internado, que, na maioria das vezes, nas instituições passa a viver como indigente.

Pode acontecer, também, que o beneficiário deixe o idoso em uma casa e com a família mude de cidade, depois de alugar os imóveis e colocar o dinheiro no banco, num depósito, e assim passa a viver de rendas. Se continuassem fazendo pelos idosos tudo que fosse necessário, até seria b om eles colocarem o dinheiro para "dar cria", acontece que, às vezes, o jogo é sujo, é bem diferente, e o idoso, numa casa velha, sem manutenção e sem dinheiro para as reformas necessárias, passa a viver em péssimas condições, acontecendo até que o vazamento de água, as infiltrações vão demolindo a casa aos poucos até que nada mais possa a ser feito para recuperá-la e vem a baixo. Numa situação dessas, os  vizinhos, preocupados, dão queixa no serviço social, que toma as providências e conseguem anular a doação e recuperar a maior parte dos bens que julgavam perdidos.

Fonte: Thereza Freire Vieira - Médica Geriatra e escritora, colaborados de jornais e revistas.


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