segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

NATAL ENTRE NÓS

Está chegando mais um Natal. O Santo Natal é revelador de verdadeira comunicação. Uma comunicação para todos, simples e objetiva. Podemos ver nesta circunstância como até as pessoas afastadas da Igreja, ou simplesmente que não se sentem atraídas por uma experiência de fé, conseguem ser absorvidas por este magnífico evento que marcou de maneira definitiva a nossa história. Então, é bom focalizarmos alguns elementos constitutivos do Santo Natal, sob o aspecto da comunicação. Vejamos, por exemplo, como os pastores agiram frente a esta extraordinária realidade. De fato, eles se comportaram como verdadeiros jornalistas, porque não faziam outra coisa senão dar uma boa notícia sem acréscimos de comentários pessoais. Aquilo que viram, transmitiram. Talvez isso poderia nos questionar hoje na nossa profissão de jornalistas, e por que não de comunicadores.

Quantas vezes as notícias não são corretas porque queremos manipula-las com os nossos pontos de vista ou com interesses de corporação ou materiais? Em várias ocasiões, se chega até a não ter escrúpulos na nossa ação comunicativa. No entanto, os pastores daquela época foram bem transparentes em narrar aquilo que viram, e nada mais. Portanto, contando os fatos, precisamos demonstrar a total transparência, e todos somos chamados em causa, porque todos comunicamos, de um jeito ou de outro, para sustentar as nossas relações sociais, comunitárias e familiares. Porém, em muitas ocasiões, quanta falta de transparência em tudo isso! Podem ver que as problemáticas, as dificuldades de se entender, os conflitos que surgem em consequência disso, tornam-se quase como uma denúncia da nossa não correta ação comunicativa. Assim sendo, creio que é necessário imitarmos aqueles pastores.

É verdade que a objetividade é muito difícil aqui, nesse planeta terra, somente lá com Deus, mas ser transparentes é o nosso dever. Aconteceu há alguns anos atrás, na Itália, quando ainda o famoso padre Pio era vivo, um jornalista foi entrevista-lo com exclusividade. Logo que chegou a localidade de Pietrelcina, no convento do frade, encontrando-o, frei Pio, disse-lhe: “Rapaz, mas você nunca falou a verdade?” Certamente, talvez o S. Pio exagerou por aquela ocasião, mas uma verdade foi salientada: contar a verdade não é nada fácil. A história conta que aquele jornalista depois disso se sentiu mais motivado a assumir com mais coragem a sua profissão, sem ter medo de ser transparente, verdadeiro. Hoje em dia estamos vivendo um bombardeio de informações, mas tudo isso nos leva a ter um conhecimento real e verdadeiro da realidade, ou cria mais confusão na nossa cabeça, favorecendo mais conflitos pessoais e sociais? E aquela gruta onde nasceu o Menino Jesus? Que comunicação em tudo isso!

A humildade e a simplicidade revelam um fato extraordinário de Deus que se rebaixa até nós. Pergunto-me se Deus se torna presente na nossa vida com total humildade, por que nós não podemos estar juntos despojados de qualquer arrogância, soberba, altivez? O Altíssimo se faz presentíssimo, não desprezando a nossa realidade, mas pelo contrário, compartilhando conosco o seu grande poder porque é preocupado com a nossa vida. Então, como queremos caminhar com os outros para compartilharmos aquilo que somos? Temos a coragem de nos rebaixar para favorecer os outros? A onipotência do nosso Deus, por incrível que pareça se manifesta nessa capacidade de entrar na nossa vida. Uma verdadeira e transparente comunicação é totalmente humilde porque quer favorecer a vida e, sobretudo, de quem mais necessita. É solidária e fraterna. Não é uma elucubração de palavras e pensamentos, mas de testemunho de vida.

Aquele silêncio recolhido daquela gruta emana uma magnifica e poderosa comunicação: a vida não tem limite. Quantas vezes não sabemos priorizar o silêncio, porque achamos que isto prejudica a nossa fala para comunicar. No entanto, no nascimento, Deus não fez manifestações de praça, barulhos de palavras, não tocaram tambores, ao contrário de nós, quando queremos mostrar algo de importante usamos todos os possíveis meios que estão ao nosso dispor para contar o evento da nossa vida.

Deus prefere comunicar no silêncio, porém nós preferimos comunicar com barulhos. Que diferença! Creio que esta grande solenidade do Santo Natal possa se tornar, para todo um momento para refletirmos como nós podemos aperfeiçoar a nossa comunicação entre nós. Como o Deus que se faz carne nos ensina a sermos mais transparentes nas nossas vidas. Por fim, aquela estrela que indicou a santa gruta nos revela quantas estrelas também na nossa vida, para nos ajudar na nossa peregrinação terrestre? E às vezes pela pouca sensibilidade ao “novo”, determinado pelo excessivo materialismo, nos impede fazer experiência do verdadeiro Natal. Feliz Natal.

Fonte: *Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.




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