segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O brasileiro gosta de corrupto e bandido?


Após muito refletir, cheguei à  triste conclusão que sim: brasileiro gosta de malfeitores. Não que não tenhamos apreço por pessoas honestas, de bom caráter, que praticam o bem sem olhar a quem, como diz o velho adágio.

No entanto, nossa história (principalmente a recente) está cheia de episódios que descortinam essa face mórbida do caráter da nossa população. 

O leitor se lembra de João Acácio Pereira da Costa, mais conhecido pelo prosônimo de “Bandido da Luz Vermelha”, em razão do filme que fizeram para lhe eternizar? Após passar 30 anos preso por cometer uma série de assassinatos, assaltos e toda sorte de crimes bárbaros, foi solto no final de 1997. 

Ao caminhar pelas ruas, o mesmo era abordado por populares que pediam autógrafos e tiravam fotos com o famoso cidadão. Num piscar de olhos, virou pop star. Não fosse assassinado em Joinville-SC no começo de janeiro de 1998, provavelmente estaria ocupando uma das cadeiras do Congresso Nacional ofertada pelo generoso (e displicente) voto popular.

O mesmo ocorreu com o bandido Ronald Arthur Biggs, que após fugir de um presídio britânico onde estava hospedado por roubar um trem postal, em 1963, refugiou-se no Brasil em 1970, permanecendo no país até retornar à Inglaterra em 2001, quando fora preso.

Durante sua confortável estadia no Brasil, foi tratado como um embaixador da esperteza e da malandragem. Quase foi enredo de escola de samba.

O que dizer de um rapaz atrevido chamado Leonardo Pareja, que começou sua trajetória de fama em setembro de 1995 quando, após um assalto, manteve como refém Fernanda Viana, sobrinha do então senador Antônio Carlos Magalhães. 

Durante as negociações com a polícia, mantinha-se coberto por lençóis de maneira a impossibilitar a atuação de atiradores de elite.

Tocava violão e cantava muito bem.

Após libertar a garota, passou mais de um mês fugindo da polícia e, enquanto isto, dava entrevistas às rádios e televisões, sempre debochando e desafiando as autoridades. Foi até protagonista de um documentário (virou celebridade).

Não fosse sua estranha (e prematura) morte na prisão em 1996, com muita probabilidade hoje estaria apresentando um programa no horário nobre de algum canal de televisão. 
No campo da política os exemplos são ainda mais medonhos. Quantos condenados pela Justiça são eleitos contumazmente para cargos políticos (malandro federal, municipal e estadual).
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No entanto, nada se compara ao caso do ex-governador do Distrito Federal (DF), José Roberto Arruda. O indivíduo foi filmado por um comparsa recebendo dinheiro proveniente de corrupção no seu governo, foi preso e condenado.

Este ano teve o desplante de novamente se candidatar a governador do DF. Para a surpresa de muitos (não minha), as pesquisas demonstravam que o virtuoso sujeito tinha a maior intenção de votos da embotada população do DF.

O caso dele é o mesmo do marido que é flagrado pela esposa num quarto de motel com outra mulher. Diante da vexatória situação, conhecendo as limitações de seu cônjuge, não titubeia e solta: não sou eu quem está aqui! Fui abduzido por um espírito alienígena! E tudo bem. 

Não fosse a Lei da Ficha Limpa que o forçou a renunciar, pois tinha certeza que sua candidatura ia ser barrada pela Justiça Eleitoral, Arruda seria eleito com louvor.

Em nosso estado as coisas não são diferentes. Aliás, são horrendamente iguais.

Quantos candidatos de reputação pra lá de duvidosa estão na preferência de nosso eleitorado. Famílias ditas tradicionais na política (na verdade oligárquicas) capitaneadas por seus patriarcas, não raro “fichas sujas”, defendem seus nacos de poder com primitivismo canino. Não querem largar o osso e muito menos essa veia leitosa do grande hospedeiro: o Estado brasileiro.

Essa cultura do desvalor em tempos antanhos já foi justificada por muitos historiadores, antropólogos e sociólogos como sendo fruto de nossa colonização: a junção da promiscuidade ibérica, da incapacidade africana e da indolência indígena, amalgamadas por esse cristianismo católico, teria forjado nosso caráter coletivo (degenerado, ignorante, clientelista, servilista, favoritista, enfim... corrupto). 

Hoje, como não é politicamente correto se expressar dessa maneira, procuram formas eufêmicas para dizer a mesma coisa.

A verdade é que, hodiernamente, não há mais espaço para jogarmos a culpa nessa herança histórica, pois já se passaram quase duzentos anos de nossa emancipação (independência). Logo, somos crescidinhos demais para não querer enxergar o óbvio: falta vergonha na nossa cara. 

Fonte: Cândido Ocampo é cidadão rondoniense - Tudo Rondônia

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