É na ótica de Deus que poderemos construir uma convivência mais justa e fraterna. Quem não se lembra da história de Zaqueu? Uma vez que se encontra com Jesus, ele conseguiu se libertar de toda a sua ganância e devolveu tudo aquilo que roubou. E não só, mas também doou parte de seus bens. Jesus, Deus, derrubou o poder dinheiro e libertou o filho de Deus. Quanto hoje precisamos viver essa grande verdade: Que Deus consiga derrotar todo esse poder do dinheiro. Isso pode acontecer, na medida em que consigamos nos encontrar com Ele. O salmo 75 das Sagradas Escrituras nos ajuda melhor nesse sentido.
"Deus se fez conhecer em Judá, seu nome é grande em Israel. Em Jerusalém está seu tabernáculo e em Sião a sua morada. Lá ele quebrou as fulminantes flechas do arco, os escudos, as espadas e todas as armas. O esplendor luminoso de vosso poder manifestou-se do alto das eternas montanhas. Foram despojados os guerreiros ousados, eles dormem tranquilos seu último sono. Os valentes sentiram fraquejar suas mãos. Só com a vossa ameaça, ó Deus de Jacó, ficaram inertes carros e cavalos. Terrível sois, quem vos poderá resistir, diante do furor de vossa cólera? Do alto do céu proclamastes a sentença; calou-se a terra de tanto pavor, quando Deus se levantou para pronunciar a sentença de libertação em favor dos oprimidos da terra. Pois o furor de Edom vos glorificará e os sobreviventes de Emat vos festejarão. Fazei votos ao Senhor vosso Deus e cumpri-os. Todos os que o cercam tragam oferendas ao Deus temível, a ele que abate o orgulho dos grandes e que é temido pelos reis da terra."
Somente para contextualizar, este salmo é um hino de vitória do Deus de Israel em Sião, pouco depois a conquista da “cidade santa” por parte de Davi e a trasladação da arca a Jerusalém. Deus triunfa contra os poderosos, os valentes para salvar os pobres. Deus aniquila os instrumentos de poder que exaltam as pessoas. O salmo se divide em quatro estrofes. A primeira, dos versículos de 2 a 4, mostra a força vitoriosa de Deus que quebra todas as armas dos inimigos do seu povo. A verdadeira libertação vem pelas “mãos” de Deus. Na segunda estrofe, versículos de 5 a 7, numa cena de guerra, Deus é apresentado qual grande triunfador. Ele com o seu esplendor luminoso despoja os guerreiros ousados. Segue a terceira estrofe, versículos de 8 a 10, onde Deus o “terrível” proclama lá do céu o juízo sobre a humanidade que a deixa apavorada. Assim, o pobre e oprimido logo que assistem esse julgamento que deixa totalmente apavorados os ímpios, pervertidos, sabem que o processo da história vai mudar. Os poderosos serão humilhados e rebaixados.
Por fim, a quarta estrofe, versículos de 11 a 13, mostra que toda a terra é envolvida na adoração desse Deus “terrível” e “justo”. Assim sendo, Deus não é fonte de medo, mas qual raiz de justiça para todos e, sobretudo, em relação aos “reis da terra”. E o papa Francisco nos ajuda a entender melhor pela homilia feita na missa na casa Santa Marta no Vaticano: "Deus permanece com os justos e nunca os abandona".
"Uma mãe corajosa, com marido, três filhos, menos de 40 anos e um cancro que a obriga permanecer na cama. Por quê? Uma mulher idosa, pessoa com a oração no coração e com um filho assassinado pela máfia. Por quê?” (...) "Os pensamentos de tantas pessoas cuja fé convicta e arraigada é colocada à prova pelos dramas da vida. Por que é que isto acontece? Que proveito temos em guardar os mandamentos de Deus enquanto os soberbos progridem praticando o mal, desafiam a Deus e não são castigados?” (...) "Quantas vezes vemos esta realidade em muitas pessoas más, em pessoas que fazem o mal e parece que na sua vida tudo vai bem: são felizes, têm tudo o que querem, não lhes falta nada. Por quê Senhor? É um dos muitos porquês.”
Continua o papa Francisco: "proclama 'bem-aventurado' o homem que não entra no conselho dos ímpios" e que "encontra a sua alegria na lei do Senhor". "Agora não vemos os frutos desta gente que sofre, desta gente que carrega a cruz, como aquela Sexta-feira Santa e aquele Sábado Santo em que não se viam os frutos do Filho de Deus Crucificado, dos seus sofrimentos. E tudo o que fará, será bem feito. E o que o diz o salmo sobre os ímpios, sobre aqueles que nós pensamos que vai tudo bem? ‘Não são assim os ímpios, mas são como a palha que o vento disperde. Porque o Senhor acompanha o caminho dos justos, enquanto o caminho dos ímpios perece".
E citando a parábola do rico: "O curioso daquele homem é que não se diz o nome. É somente um adjetivo: é um rico. Dos ímpios, no Livro da Memória de Deus, não há nome: é um ímpio, é um trapaceiro, é um explorador... Não tem nome, somente adjetivos. Ao invés, todos os que buscam caminhar na via do Senhor estarão com seu Filho, que tem o nome, Jesus Salvador. Mas um nome difícil de entender, inclusive inexplicável para a provação da cruz e por tudo aquilo que Ele sofreu por nós".
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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