Estranha democracia seria a nossa se não pudéssemos expressar
opinião no leito vulgar das ruas e no underground das redes sociais.
Desqualificada seria nossa democracia se ministros do STF, congressistas,
jornalistas e veículos de comunicação fossem imunes à crítica, como pretendem.
E note-se: cobram essa imunidade, sem conceder reciprocidade, enquanto criticam
todos, especialmente a sociedade e o presidente da República.
A vitória de Bolsonaro aprofundou a cisão política entre os
brasileiros. Gerou uma onda nacional e internacional de inconformidades e
aplausos a que nem o papa ficou imune. Ainda que Bolsonaro fosse o príncipe
perfeito, coisa que nunca foi, a onda se formaria. Valeriam contra ele (como
escrevi outro dia) as razões expostas pelo lobo ao cordeiro, narradas por Esopo
há 25 séculos. O fato quase milagroso de haver vencido a eleição presidencial
nos dois turnos, sem dinheiro e sem tempo de TV, parece nada haver ensinado a
olhos cegos e ouvidos surdos, sobre as razões dessa vitória.
Um dia será necessário fazer a necropsia da capacidade de
análise que em 28 de outubro de 2018 morreu de morte súbita, sem flores nem
amores. Houvesse sobrevivido, teria facilmente reconhecido o fato de que aquela
data assinalou uma opção democrática do eleitorado por posição política em
quase tudo divergente da que hegemonizara o país desde a Constituinte de 1988.
Cinquenta e sete milhões de eleitores optaram por combate à impunidade e à
criminalidade, por rigor da lei penal e pela celeridade dos processos penais, por
educação sem partido, pela proteção da família e da inocência das crianças,
pelo direito de defesa, contra a ditadura do politicamente correto e contra o
socialismo que nos quebrou enquanto se instalava. Em consonância com a posição
unânime da mídia, a maioria do eleitorado de 2018 quis expurgar de nossas
práticas políticas à compra de votos para proporcionar ao governo apoio
parlamentar.
Em vão! A maior parte do Congresso e do STF, ao longo de todo
o ano de 2019, evidenciou querer outro presidente e outro programa. A “maioria
de conveniência” do Supremo continuou em seu afã de amestrar a opinião pública.
A maioria do Congresso emitiu todos os sinais de uma enferma nostalgia pelas
anteriores práticas políticas, pelos cargos, pelas emendas, pelas oportunidades
de negócio. Em sucessivos atos de vingança contra a Lava Jato, ampliaram de
modo criativo e infatigável as notórias dificuldades da persecução penal.
Legalmente inocente imaculada como anjinhos de Rafael, a fina flor da corrupção
corre mundo mentindo sobre o Brasil.
No dia 15 de março, as ruas expressarão seu repúdio a esse
turismo despudorado, a essa ideologia que desejam impor sem voto. Maldiremos,
também, a retórica espertalhona que tenta confundir o repúdio a certos membros
das instituições com repúdio às próprias instituições. Paradoxalmente, querem
que isso valha para si, mas não serve à instituição da presidência quando eles
mesmos atacam o presidente. Dá-me a virtude da paciência, Senhor!
A prova dos nove do que aqui está dito seria juntada aos
autos do processo histórico se o presidente repetisse as práticas anteriores e
comprasse 300 unidades de voto parlamentar do bocão, ou do centrão. A bom preço, até os anjinhos de Rafael
voltariam para a gaiola.
Fonte: Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Postagem sugerida pelo Colaborador do Blog o Amigo e Motociclista Tasso / Porto Velho.
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