domingo, 29 de março de 2020

QUAL O NÍVEL DE COMPREENSÃO HOJE?

Estou me conscientizando, com o passar dos anos, sobre o quanto é difícil para as pessoas exercerem o ato de ‘pensar’. Fala-se muito, muitos slogans e pouca capacidade de fundamentar um próprio discurso para dar uma razão a tudo isso. Toda vez que posto um artigo nos grupos do WhatsApp, ou outros, posso compreender, conforme as reações, o nível de recepção das mensagens. Nesse sentido, posso tentar nuclear as múltiplas compreensões. Têm uns que nem ‘respondem’, outros publicam frases ou mensagem ‘pre-confeccionadas’ e, enfim, outros ainda que ‘tentam esboçar’ umas respostas que nada há com o argumento tratado.

De qualquer forma, nota-se um certo vazio de recepção da mensagem, um vazio que deixa pensar nas tantas dificuldades para compreender uma análise temática. Tentando entender a partir dos vários núcleos de recepção, podemos dizer que o grupo do ‘silêncio’ ou foge do argumento ou não consegue acompanhar o raciocínio. No entanto, o grupo que publica mensagens pré-confeccionadas representa tentativas de respostas que são estranhas ao argumento e, por fim, aqueles que tentam participar com considerações copiadas sobre o argumento tratado revelam que não entenderam o argumento explanado. Que significa isso? É evidente que, às vezes, o tema desenvolvido pode ser até difícil, mas o que me faz pensar é que, se as pessoas têm dificuldades de compreender uma reflexão escrita, como pode entender uma sociedade tão complexa como a nossa? Se tiver dificuldade de fazer uma análise de uma reflexão, como pode fazer uma análise de um quadro da situação sócio-política e religiosa, por exemplo?

É evidente que estamos perante um quadro educativo que denota uma precária compreensão da realidade e do ser humano. Por que se chegou assim? Creio que um dos fatores que influenciaram isso foi a transformação total da nossa cultura. Passamos de uma cultura da ‘caneta’ para uma cultura do ‘celular’, e a educação, em todo o seu complexo, ficou parada ainda na cultura da ‘caneta’. Parece que a educação está parada na alfabetização de saber ler e escrever, esquecendo-se dos novos alfabetos que surgiram com a vinda da nova cultura do ‘celular’. É urgente essa educação dos novos alfabetos para fazer uma atenta e séria leitura das novas mensagens da atual realidade.

De outro jeito, surge o grande risco de exclusão do verdadeiro conhecimento e, assim, favorecendo a manipulação da verdade. Eu tenho a impressão hoje em dia de estarmos longe da liberdade. Aquela escravidão presente nos séculos passados se tornou realidade também nos nossos dias. Assim sendo, como podemos debater a nossa realidade sem as ferramentas necessárias da nova cultura do ‘celular’?  E o papa Francisco deseja: “promover um encontro mundial no dia 14 de maio de 2020, que terá como tema “Reconstruir o pacto educativo global”. O mundo contemporâneo está em transformação contínua, vendo-se agitado por variadas crises. Vivemos uma mudança epocal: uma metamorfose não só cultural mas também antropológica, que gera novas
linguagens e descarta, sem discernimento, os paradigmas recebidos da história.”

Fonte: Padre Claudio Pighin -  Sacerdote e doutor em teologia - Belém-PA.



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