Estamos imersos totalmente em uma cultura digital e aquilo que se destaca pode ser classificado de ‘narcisismo’. Por que isso? Constata-se como o individualismo está imperando no nosso meio. Diria um individualismo até exasperado e que se presencia em todos os níveis. Por exemplo, até na fotografia se realiza a famosa ‘selfie’, que permite fazer tudo sozinho, dando a total liberdade de autorreferência e autoexecução. Não só, a tendência da juventude é ter uma forte característica narcisista. Esta, poderíamos dizer, é uma epidemia que, com o tempo, cresce mais e mais.
Nota-se como o ‘eu’ está pronunciado e escrito intensamente e constantemente. Na vida cotidiana, na televisão, nos jornais, nas redes sociais, o ‘eu’ domina tudo. Pode observar como até na política o protagonista é o ‘eu’. É uma realidade, podemos dizer assim, escravizada pelo espelho. Além do mais, estamos nos limites de um ‘narcisismo exacerbado’. As redes sociais estão cheias de informações, às vezes, bem banais, cheias de fotografias e de proclamas. Torna-se público até as sequencias bem pessoais e de vida familiar.
E, depois, mais interessante é ainda quando aparecem muitos ‘like’ e ‘follower’, em que mostram o grau de satisfação dos interessados. Então, é legítimo se perguntar: o que poderá acontecer quando o mecanismo autopromocional de personagens importantes, tipo Messi ou outro, que viraliza, torna-se referência de imitação, também para um jovem de Belém ou de outra cidade da Amazônia?
Já teve a respeito pessoas que tentaram dar uma resposta a tudo isso. Creio que se pode dizer que o ‘narcisismo’ é o encolhimento em si da própria energia vital, isto é, permitir de se enriquecer através do intercâmbio de experiências e, ao mesmo tempo, se colocar em jogo, perdendo em parte algumas certezas. E também o narcisista achando de ser poderoso, pode chegar a negar o limite da morte. Ele é o poderoso! Essa nova cultura digital-tecnológica convida a se restringir sob o aspecto afetivo e, ao mesmo tempo, evitar ter brigas com os outros.
Assim sendo, parece que se projeta a substituir as relações humanas com o investimento dos objetos, porque eles não comprometem a própria personalidade. Desse jeito, a capacidade das pessoas que se sentem totalmente satisfeitas das suas realizações acaba se enfraquecendo ou até se tornam ausentes. Sob o aspecto educativo, por exemplo, quando os pais procuram dar tudo para os próprios filhos, desta forma, evita-se cada conflito, e assim compromete-se o
crescimento psíquico. De fato, tirar dos próprios filhos das provas de responsabilidades e de compromissos contribui a criar gerações auto-gratificadas e autorreferidas.
Com tudo isso, o narcisismo se torna o protagonista na nova realidade cultural em que os relacionamentos se relativizam, fragilizando toda verdade e objetividade. A essa altura, torna-se muito difícil praticarmos os valores comunitários e, sobretudo, praticarmos o ensino e testemunho de Jesus.
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote e doutor em teologia/ Belém-PA.
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