quinta-feira, 16 de agosto de 2018

SENHOR, CHEGUE ATÉ VÓS O MEU CLAMOR!

A vida das pessoas não se resume somente em alegrias e glórias, mas também em sofrimentos e dores. Quantas lágrimas desceram e descem de rostos humanos, dia e noite? Nisso sou testemunho. É nesses contextos que o homem e a mulher, na maioria das vezes, se dirigem a Deus. Clamam por Ele. Invocam Ele de todo coração. Os filhos e filhas de Deus reconhecem, assim, a própria limitação e buscam o Altíssimo qual seu socorredor. O salmo 101 das Sagradas Escrituras nos vem ao encontro, descrevendo a oração de um pobre aflito que desabafa toda a sua angústia perante o Deus Altíssimo. Leia atentamente.

“Senhor, ouvi a minha oração, e chegue até vós o meu clamor. Não oculteis de mim a vossa face no dia de minha angústia. Inclinai para mim o vosso ouvido. Quando vos invocar, acudi-me prontamente, porque meus dias se dissipam como a fumaça, e como um tição consomem-se os meus ossos. Queimando como erva, meu coração murcha, até me esqueço de comer meu pão. A violência de meus gemidos faz com que se me peguem à pele os ossos. Assemelho-me ao pelicano do deserto, sou como a coruja nas ruínas. Perdi o sono e gemo, como pássaro solitário no telhado. Insultam-me continuamente os inimigos, em seu furor me atiram imprecações. Como cinza do mesmo modo que pão, lágrimas se misturam à minha bebida, devido à vossa cólera indignada, pois me tomastes para me lançar ao longe. Os meus dias se esvaecem como a sombra da noite e me vou murchando como a relva. Vós, porém, Senhor, sois eterno, e vosso nome subsiste em todas as gerações. Levantai-vos, pois, e sede propício a Sião; é tempo de compadecer-vos dela, chegou a hora... porque vossos servos têm amor aos seus escombros e se condoem de suas ruínas. E as nações pagãs reverenciarão o vosso nome, Senhor, e os reis da terra prestarão homenagens à vossa glória. Quando o Senhor tiver reconstruído Sião, e aparecido em sua glória, quando ele aceitar a oração dos desvalidos e não mais rejeitar as suas súplicas, escrevam-se estes fatos para a geração futura, e louve o Senhor o povo que há de vir, porque o Senhor olhou do alto de seu santuário, do céu ele contemplou a terra; para escutar os gemidos dos cativos, para livrar da morte os condenados; para que seja aclamado em Sião o nome do Senhor, e em Jerusalém o seu louvor, no dia em que se hão de reunir os povos, e os reinos para servir o Senhor. Deus esgotou-me as forças no meio do caminho, abreviou-me os dias. Meu Deus, peço, não me leveis no meio da minha vida, vós cujos anos são eternos. No começo criastes a terra, e o céu é obra de vossas mãos. Um e outro passarão, enquanto vós ficareis. Tudo se acaba pelo uso como um traje. Como uma veste, vós os substituís e eles hão de sumir. Mas vós permaneceis o mesmo e vossos anos não têm fim. Os filhos de vossos servos habitarão seguros, e sua posteridade se perpetuará diante de vós."

É um salmo de desabafo de um pobre cansado e angustiado. É uma descrição bem detalhada das misérias humanas e dos sofrimentos corporais. Focaliza a solidão desse pobre fiel, levando-o a quase um espectro fúnebre. Ao mesmo tempo, salienta uma grande hostilidade de inimigos que fazem graça dele e o amaldiçoam. Perante ele, há uma mesa com alimentos amargos, cinzas – símbolo dos pêsames e da penitência-, e lágrimas: “cinza do mesmo modo que pão, lágrimas se misturam à minha bebida”. O alimento aqui representa simbolicamente uma vida sustentada pela dor e sofrimento. Uma vida amarga.

Assim, o fiel se dirige ao seu Deus, fazendo uma profissão de fé. E a partir daí renova a sua esperança elevando hinos de felicidades. Tudo isso lhe permite renascer tanto espiritualmente quanto fisicamente pelo resto da sua vida. Sendo assim, demonstra-se que a oração do suplicante é feita de dimensões pessoais e que refletem também as questões de vida comunitária. O Senhor, Criador de tudo, aquele que supera o tempo e o espaço, sempre acompanhará os seus fiéis. Portanto, este salmo nos revela a unidade da oração. Uma oração que integra a pessoa e a comunidade, as questões pessoais e aqueles do povo. Na oração, não se separa a pessoa do resto da realidade. E além do mais, uma oração que é sempre animadora, que combate a solidão e o abandono do ser humano, dando espaço a um horizonte de esperança não obstante tanta ‘tempestade’. Nesse perfil suplicante que cresce uma dimensão humana repleta de um olhar de vida eterna.

Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote, doutor em teologia, mestrado em missiologia e comunicador.

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