O candidato à presidência da república é teimoso. Ou ingênuo. As pesquisas eleitorais mostram que tem pouquíssimo apoio e nem de perto chega ao líder do ranking. Este é carismático, fala o que o povo quer ouvir, e tem apoio de importantes líderes nacionais. Sua biografia é sua principal agenda de campanha, afinal foi o presidente do Brasil e sob o seu governo ocorreram mudanças nunca vistas neste país. Uma de suas características é a de ficar ao lado dos trabalhadores e combater as oligarquias encasteladas no poder desde que a república foi instituída por um golpe de estado no final do século 19. Suas bandeiras estão cheias de nacionalismos como impedir que o petróleo seja explorado pelas multi nacionais, carinhosamente chamadas de sete irmãs. Sempre olhou com desconfiança para o gigante do norte, uma constante ameaça do desenvolvimento industrial e comercial do país. Seus acólitos o chamavam de pai dos pobres e um dos slogans de suas campanhas era o “deixa o homem trabalhar.” A mídia oposicionista é rotulada de golpista, atrelada a burguesia que por sua vez faz alianças com o imperialismo retratado pelos grandes bancos e rentistas.
Diante da figura emblemática que tenta chegar novamente ao poder os outros candidatos se apequenam. Mesmo assim, um deles, saído das fileiras de um poderoso partido político, inicia sua campanha e promete mudar os rumos do país com forte bancada no congresso. Até mesmo os aliados da mesma poderosa legenda avaliam que ele não tem nenhuma chance, ainda que se apresente como alguém ligado à austeridade econômica, e a recuperação das contas em frangalhos do governo federal. Sem nenhum carisma, é muito difícil alguém chegar lá uma vez que boa parte da população espera o aparecimento do salvador da pátria. Um homem com opinião, capaz de convencer a todos do que propõe, enfrentar os grupos econômicos fortíssimos, especialmente os ligados a agricultura. É um político de direita ainda que nunca aceita essa qualificação, mesmo quando defende uma economia liberal de mercado. Os compromissos, sejam quais forem, divulgados pelos partidos, nanicos ou não, são apenas motivos para intermináveis discussões, encontros furtivos e desmentidos constante na mídia. Ainda assim o candidato insonso, inodoro e desconhecido da maior parte do eleitorado não desiste. Afirma e confirma que, na convenção do seu partido, vai manter a candidatura que deverá inflar com o decorrer da campanha eleitoral. Uma questão de tempo, afinal uma eleição é uma maratona e não uma corrida de cem metros rasos com Usain Bolt á frente.
Os próceres partidários chegam a conclusão que o melhor mesmo era abandoná-lo no meio do deserto das urnas e apoiar o líder popular que todos querem. Garantem assim uma boquinha na hora da distribuição do poder, representado por um ministério de grande orçamento e de preferência com a porteira fechada. Os apaniguados de toda sorte estão com seus empregos garantidos. Nada disso impediu que Cristiano Machado, mantivesse sua candidatura apresentada pelo Partido Social Democrático, um aglomerado de direita. Contudo está em andamento uma traição política, como tantas outras que ocorreram no período republicano e nem por isso o mundo acabou. A liderança do PSD abraça com todas as forças o candidato Getúlio Vargas. Ele almeja voltar ao poder com o seu Partido Trabalhista Brasileiro, e o apoio das esquerdas que perseguiu tão duramente quando foi ditador até 1945. O cenário está pronto, as traições urdidas, a campanha nas ruas e inicia-se o processo de cristianização. Longe de ser a conversão realizada pelos jesuítas com os índios na época colonial, é uma nova etapa da história política do Brasil. O ex- ditador ganhou a eleição e a prática da cristianização política se tornou um instrumento para ser usado toda vez que um candidato insistir em concorrer sem o que se entende pelo apoio da maioria.
Fonte: Jornalista Heródoto Barbeiro / Record News-SP.
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