Dia 24 de junho 2018: ‘40 anos’ de sacerdote. O que dizer? Certamente, por quanto possa escrever, jamais conseguiria manifestar, na verdade, o que significa isso. Por quê? Porque é muito grande esse mistério sacerdotal que vivi até hoje, e as palavras não conseguem dizer tudo. Mas, de qualquer forma, vou tentar dizer algo, embora sucintamente, que possa revelar o que é para mim esse sacerdócio. Posso dizer com toda a certeza que esse mistério sacerdotal se revelou de maneira plena nos meus momentos de humilhação.
E foram muitos esses momentos! Não há tristezas que possam compara-los. A minha melhor realização sacerdotal foi quando consegui imitar Jesus nos sofrimentos e na dor. Quando me senti abandonado, sobretudo por aqueles que fizeram a mesma opção vocacional, os meus confrades. Por todos aqueles que não acreditaram na minha vivência sacerdotal e se limitaram a fofocar sobre minha conduta opcional, denigrando-me. Quando me senti caluniado e desprezado, foi aí que me senti ainda mais padre e testemunha de Jesus Cristo.
Naquelas noites, dias e momentos de solidão, cheias de trevas, foi aí que glorifiquei a presença do meu Deus. Aí senti a sua presença e o conforto preenchendo-me de força e coragem para levar em frente a missão que me conferiu. Essa caminhada de sacerdote-missionário foi sempre acompanhada daquela frase que o monge cartuxo, Tarcisio, me disse quando era ainda jovem estudante de teologia: “Lembra-te, Claudio, que a tua vocação é muito mais difícil que a minha, de monge de clausura, porque você tem que viver não somente a dimensão contemplativa, mas também a dimensão ativa da pastoral! Duas vocações no mesmo tempo.”
Em 40 anos, sempre me esforcei a comungar dessas duas vocações, que foram um verdadeiro desafio. Confesso que nem sempre consegui. Mas ‘Aquele’ que me chamou aos 11 anos de idade nunca me abandonou e me levantou das minhas quedas, mantendo-me firme na construção do Seu Reino entre nós. Quantas vezes, inúmeras!, se fez presente àquela primeira chamada, ainda garoto, com os olhos fixos nos que mais precisam, necessitam de uma realidade bem diferente de que o mundo oferece.
A preocupação de promover as pessoas atesta com toda força o meu seguimento de Jesus Cristo. Essa doação para fazer felizes os outros me permitiu a não dar atenção às calunias, às ciladas e mentiras que surgiram ao longo da minha trajetória missionária sacerdotal. Reconheço também que, às vezes, eu vendi uma imagem que nuncarespondeu, na verdade, à realidade daquilo que sou: a arrogância, aquele que sabe tudo, não faz parte do meu repertório cultural. Na medida em que passam os anos, sinto o quanto não conheço e o quanto gostaria de conhecer, em particular a Palavra de Deus para que se torne cada vez encarnada nos meus últimos anos de vida.
Nunca me preocupei em ter para mim bens materiais, mas, sim, tudo o que consegui foi para favorecer os outros. Tentei ser um sacerdote que se preocupa em salvar almas e não patrimônios materiais, porque tenho a plena consciência de que o dia que meu Senhor me chamar quero me apresentar como um seu filho que fez de tudo para viver a sua vontade. Tentações inúmeras aconteceram nesses 40 anos de sacerdote para me desviar do caminho e da missão que Deus me chamou. Mas reconheço, além disso, as alegrias dos dias de sol resplandecente na minha caminhada sacerdotal.
Ver a transformação de vidas apagadas pelo mundo. Quantas histórias lindas que me permitiram superar os vendavais da minha vida. Recordo, por exemplo, que uma jovem mulher que convivia com outra mulher me procurou e me contou a sua vida e o porquê dessa sua opção de vida e a dramaticidade da sua vida. Somente por tê-la ouvida e dada a devida atenção ela me agradeceu muito. Foi-se embora resserenada. Passaram-se uns tempos e a mãe dessa mulher, totalmente feliz e agradecida, veio me dizer que a filha que tinha fugido de casa voltou totalmente mudada. Quantas lindas histórias de Vida poderia escrever.
Assim sendo, quero resumir o sentido dos meus 40 anos de sacerdote com a imagem do cego Bartimeu do evangelista Marcos. Naquele tempo, Jesus estava saindo de Jericó com os seus discípulos e uma multidão de pessoas; e quando o cego Bartimeu ouviu que era Jesus que estava passando começou a gritar clamando por Jesus. Porém, as pessoas mandaram-no calar, mas ele com mais força ainda gritava por Jesus. Ao ouvir isso, Jesus se deteve com ele escutando-o e logo em seguida milagrando-o. Eu, na minha vida sacerdotal-missionária, nunca tentei calar as pessoas que mais precisavam, mas, sim, sempre me esforcei para que essas pessoas prejudicadas, lesadas na vida pudessem chegar a Deus para ter uma resposta de mudança de Vida que ninguém é capaz de dar. Sou grato a Deus por tudo!
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, doutor em teologia, mestrado em missiologia e comunicação.
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