A exploração foi feita em ritmo feroz. A exuberância da floresta vista desde o mar deixava ver a copa das árvores que durante uma certa época do ano produziam flores amarelas. A beleza da árvore foi a sua perdição. De longe os exploradores identificavam o pau brasil e contatavam os índios para o derrubasse. Algumas árvores eram tão grandes que o tronco vermelho chegava a 30 metros de altura. No primeiro século que portugueses e franceses se dedicaram a explorar o pau brasil derrubavam uma média de 50 árvores por dia, cerca de dois milhões de paus brasil foram cortados, picados, desgalhados e embarcados para a Europa, via Portugal ou França. Era a riqueza que os navegadores podiam colher, uma vez que não encontraram nem ouro, nem prata, nem qualquer outro mineral que fizesse fortunas. Cada navio levava cerca de 5 mil toras por viagem e em um único depósito haviam 100 mil estocadas aguardando transporte. Foi iniciada uma jornada que levou a árvore à beira da extinção, tal a quantidade de madeira extraída. Assim a posse do Brasil se deu sob o signo do ataque desavergonhado na natureza e sem que alguém se dispusesse a pôr um paradeiro na árvore que os índios chamavam de ibirapitanga.
Ao mesmo tempo que a Mata Atlântica perdia sua rainha, ela era considerada um estorvo para se implantar uma economia baseada na agricultura tropical. Com a instalação da indústria da cana de açúcar, especialmente na Bahia e Pernambuco, a floresta foi derrubada, incendiada e, aos trancos e barrancos, transformadas em áreas de plantação. Um método que se usa ainda hoje no Brasil em áreas do cerrado e da floresta amazônica, agora liderado pela soja e pelo gado. Era uma política de terra arrasada, sem qualquer cuidado e guiada pela ânsia de conseguir produtos de exportação com bons preços no mercado mundial. Parte da floresta litorânea foi deixada em paz por causa o relevo acidentado e mais dificultoso para a instalação dos latifúndios. Nem mesmo a expansão do café poupou a Mata Atlântica, foi derrubada ao longo de todo o vale do rio Paraíba do Sul, desde o Rio de Janeiro em direção a São Paulo. Em busca de terras mais férteis o café derrubou a cobertura florestal do chamado oeste paulista produtor do que ficou conhecido na época do império e da república velha de ouro verde. Sem o ouro e a prata pilhados dos povos do Peru e da Bolívia, reservados para os espanhóis, a produção agrícola sustentou a jovem nação por, pelo menos, quatro séculos.
O que restou da Mata Atlântica sofre novas e impiedosas investidas. Com a aproximação das grandes cidades, caçadores, palmiteiros, catadores de samambaias e bromélias, xaxim, descobriram que eles valiam dinheiro. Lenha para aciaria, para fornos à carvão, e arranjos que tem bons preços nas floriculturas da moda. Os animas são vendidos, contrabandeados, ou simplesmente mortos ou pela arma de fogo ou pelos pneus das poderosas SUVs quatro por quatro. Por que não passar por cima de uma jararaca que está estendida na estrada, ou atropelar um veado que escapou dos cães das propriedades de veraneio? A mais recente ameaça é a invasão das áreas protegidas, algumas de mananciais das grandes cidades e implantar loteamentos clandestinos. Todos têm o direito de ter uma chacrinha e para isso o face book dá uma grande ajuda. Invasores e loteadores inescrupulosos picam os terrenos em pequenas propriedades e vendem com documentação. Geralmente um compromisso de compra e venda que os incautos acham que é uma escritura. Pouco resta da Mata Atlântica que continua sofrendo a pressão das grandes cidades que estão a menos de 100 quilômetros do mar. É preciso que os que têm consciência ajudem a preservar o que resta, pressionem o Estado para primeiro educar e depois combater os atuais depredadores.
Fonte: Heródoto Barbeiro / Record News-SP.
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