sexta-feira, 23 de junho de 2017

FELIZ É A PESSOA QUE ESPERA NO SENHOR

Os bispos, padres, diáconos, religiosos, religiosas, assessores, leigos e leigas, reunidos em Belém do Pará, (de 14 a 16 de novembro de 2016), no II Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, enviaram esta Carta-Compromisso para todos os fiéis: “Estamos vivendo um momento difícil da história do Brasil e da humanidade. A crise econômica, as pragas da guerra, da corrupção e da violência e o fenômeno das migrações forçadas são consequências de uma crise bem mais profunda, caraterizada pela perda de valores referenciais, tais como: a vida e dignidade humanas, o direito a existência das diferentes espécies vegetais e animais que sofrem a incontrolável destruição do maravilhoso jardim da criação, ainda visível em muitos recantos desta verde Amazônia...” A esperança para uma nova realidade vem de Deus e, por isso, queremos rezar o salmo 39.

“Esperei no Senhor com toda a confiança. Ele se inclinou para mim, ouviu meus brados. Tirou-me de uma fossa mortal, de um charco de lodo; assentou-me os pés numa rocha, firmou os meus passos; pôs-me nos lábios um novo cântico, um hino à glória de nosso Deus. Muitos verão essas coisas e prestarão homenagem a Deus, e confiarão no Senhor. Feliz o homem que pôs sua esperança no Senhor, e não segue os idólatras nem os apóstatas. Senhor, meu Deus, são maravilhosas as vossas inumeráveis obras e ninguém vos assemelha nos desígnios para conosco. Eu quisera anunciá-los e divulgá-los, mas são mais do que se pode contar. Não vos comprazeis em nenhum sacrifício, em nenhuma oferenda, mas me abristes os ouvidos: não desejais holocausto nem vítima de expiação. Então eu disse: Eis que eu venho. No rolo do livro está escrito de mim: fazer vossa vontade, meu Deus, é o que me agrada, porque vossa lei está no íntimo de meu coração. Anunciei a justiça na grande assembleia, não cerrei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis. Não escondi vossa justiça no coração, mas proclamei alto vossa fidelidade e vossa salvação. Não ocultei a vossa bondade nem a vossa fidelidade à grande assembleia. E vós, Senhor, não me recuseis vossas misericórdias; protejam-me sempre vossa graça e vossa fidelidade, porque males sem conta me cercaram. Minhas faltas me pesaram, a ponto de não aguentar vê-las; mais numerosas que os cabelos de minha cabeça. Sinto-me desfalecer. Comprazei-vos, Senhor, em me livrar. Depressa, Senhor, vinde em meu auxílio. Sejam confundidos e humilhados os que procuram arrebatar-me a vida. Recuem e corem de vergonha os que se comprazem com meus males. Fiquem atônitos, cheios de confusão, os que me dizem: Bem feito! Bem feito! Ao contrário, exultem e se alegrem em vós todos os que vos procuram; digam sem cessar aqueles que desejam vosso auxílio: Glória ao Senhor. Quanto a mim, sou pobre e desvalido, mas
o Senhor vela por mim. Sois meu protetor e libertador: ó meu Deus, não tardeis.”

Este salmo nos leva a pôr toda a confiança no Senhor. E este ensaio nos leva a apresentar, na assembleia litúrgica, um hino de agradecimento às súplicas. Interessante notar essa expressão “me abristes os ouvidos”. Trata-se de uma simbologia barroca para expressar uma profunda ação cumprida por Deus na consciência do seu fiel. O ouvido é o símbolo da obediência. De fato, em hebraico ‘escutar’ e ‘obedecer’ se expressam com o mesmo verbo. Também naquele tempo o escravo tinha uma orelha perfurada para lembrar visualmente a sua dependência do patrão. Essa motivação é selada com a imagem da Torá, isto é, da Palavra de Deus que revela a sua Lei e a vontade de Deus, e que o fiel a recebe com muita fé e transparência. Isto lhe agrada infinitamente.

Enfim, é interessante notar a simbologia da solidez da rocha, que é Deus, que se opõe ao charco de lodo, que representa o símbolo da morte, da danação. Nesse sentido, o salmista confia no Senhor de preserva-lo dessa morte. É o Deus da vida. Perante essa experiência de libertação da morte o fiel canta um hino único e perfeito, que o mesmo Deus lhe ensinou. E por fim, o símbolo dos passos marca o novo caminho da existência do fiel, iluminado pelo amor de Deus.

Concluindo: o cume do mal é a morte que pela intervenção de Deus, perdeu a consistência que, sem esta intervenção, podia nos dominar. "O Mal não tem um direito e um poder sobre a criatura de Deus, não pode dominar a criação”.
Se somos movidos pelo conhecimento e pela confissão da fé cristã, isto é, se nós olhamos para trás, para a ressurreição de Jesus Cristo, o mal é o passado, é a ameaça, o perigo, as ruínas do passado, é o não ser antigo que obscurece e devasta a criação de Deus, mas em Jesus Cristo é superado, porque, na sua morte, ele teve o seu vencimento, que foi destruído com o cumprimento da vontade positiva de Deus que implica também o fim daquilo que Deus não quer.

Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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