domingo, 20 de dezembro de 2015

EU - Outras Poesias - Poemas Esquecidos / Augusto dos Anjos

VOLÚPIA IMORTAL

Augusto dos Anjos
Cuidas que o genesíaco prazer,
Fome do átomo e eurítmico transporte
De tôdas as moléculas, aborte
Na hora em que a nossa carne apodrecer?!

Não! Essa luz radial, em que arde o Ser,
Para a perpetuação da Espécie forte,
Tràgicamente, ainda depois da morte,
Dentro dos ossos, continua a arder!

Surdos destarte a apóstrofes e brados,
Os nossos esqueletos descarnados,
Em convulsivas contorções sensuais,

Haurindo o gás sulfídrico das covas,
Com essa volúpia das ossadas novas
Hão de ainda se apertar cada vez mais!


O FIM DAS COISAS

Augusto dos Anjos
Pode o homem bruto, adstrcto à ciência grave,
Arrancar, num triunfo surpreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!

Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
Sôfrego, o solo sáxeo; e, na ânsia ardente
De perscrutar o íntimo do orbe, invente
A lâmpada aflogística de Davy!

Em vão! Contra o poder creador do Sonho
O fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio...

E quando, ao cabo do último milênio,
A humanidade vai pesar seu gênio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!

Fonte: Do Livro EU - Outras Poesias/ Poemas Esquecidos - Augusto dos Anjos



Nenhum comentário:

Postar um comentário