A coisa já desandou faz tempo quando a gente se percebe pisando em ovos para não despertar o mal humor do outro, quando a gente se encantoa, fala menos, mente, evita certos assuntos, toma muito cuidado para não invadir espaços, quando a gente tem que se moldar ou esquecer de si mesmo para evitar conflitos.
Acho que é um sinal de que algo precisa mudar quando a gente se vê fazendo malabarismo com as boas vibrações, quando a gente evita conversar sobre assuntos difíceis, quando a vida começa a parecer um jogo de palitos, e a gente tem que viver tendo cuidado para mover as peças e não fazer tudo estremecer.
É difícil ter clareza, e mais difícil ainda é perceber que se quer romper essa paz frágil, inventada. Mas, se a vida anda assim, talvez seja mesmo o momento de pisar e quebrar os ovos, tocar nos assuntos trabalhosos, enfrentar a canseira da alma para olhar a fundo uma história que a rotina parece querer te impedir de esmiuçar. E a preguiça e o comodismo parecem querer proteger.
É bom ter olhos para perceber que não está tudo bem quando depois de tanto desgaste, distancia, individualidade, tudo termina em pizza e a pizza alivia aquela noite, mas não o resto da vida. É interessante ter coragem de se expressar, de impor limites, mesmo para a dor, mesmo para a solidão, mesmo para esses excessos de cuidados que já não tapam buracos. É bom parar e olhar, falar, começar a mudar.
Porque é por querer evitar um estresse maior que a gente o fatia e distribui pelos dias.
É por querer evitar que a bomba exploda de uma vez que a gente abre diariamente a válvula de escape, mas ela não se desmaterializa.
É por medo da ideia de solidão, que a gente acaba vivendo o pior tipo delas: a solidão a dois.
É por excesso de proteção e compaixão pelo outro que a gente atrasa o seu desenvolvimento existencial.
É por falta de energia para enfrentar um drama e dar uma guinada, que a gente acaba adoecendo em conta gotas.
E é por evitar entrar na dança da vida de alma aberta que a gente acaba evitando a própria vida.
Porque o que ela quer da gente é coragem e abertura para sermos em plenitude a nossa melhor versão.
Fonte: Por CLARA BACCARIN - (www.osegredo.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário