sexta-feira, 5 de novembro de 2021

COLUNA DO HERÓDOTO - Presidente dançante

Sua maior diversão como militar é dançar com as garotas mais animadas do baile. O seu uniforme é o principal cartão de visitas nas festas. O destino do jovem é ficar na capital e lá conquistar um lugar ao sol. É originário do interior do estado e de uma família da baixa classe média, e conclui que as oportunidades de subir na vida se concentram na grande cidade. Aparentemente, nada tem que possa dizer que um dia vai se dedicar à política. Não tem cacife para isso, mas as coisas podem mudar com o tempo e quem sabe conquistar uma vaga como deputado. As transformações políticas com a implantação de uma ditadura abrem condições para uma nova leva de políticos que almejam os votos. O jovem, agora ex-militar, alista-se em um partido político conservador, ligado especialmente aos grandes proprietários de terras e começa sua carreira política. Para amigos jura que nunca teve a intenção de se juntar aos políticos mais conservadores e dominantes do Brasil. Com a volta da democracia e das eleições para presidência da república tudo pode acontecer, até mesmo a vitória de alguém desconhecido do eleitorado fora do seu estado natal. 

A eleição presidencial é o primeiro teste para as forças políticas do país, desgastadas com o debate político que se segue com a saída do titular e a posse do vice-presidente da república. O clima se torna intensamente insustentável diante da separação dos dois maiores partidos que repartiram a presidência durante quatro anos. Não há mais possibilidade de acordo. Uns chamam os outros de traidores, golpistas, entreguistas, aliados ao capital internacional e por aí vai. O fortalecimento do aparato estatal, com criação de novas empresas sob o domínio do Estado é, pelo menos, um ponto de convergência entre as forças políticas consideradas conservadoras e as progressistas. Ou melhor, uma convivência pacífica entre partidários do capitalismo e do socialismo. Para fortalecer a chapa presidencial, opta por escolher um candidato a vice gaúcho. Uma conciliação entre um candidato do Sudeste e um vice do Sul. Uma força considerável levando-se em conta a concentração maior de eleitores nestas duas regiões do Brasil.

A campanha presidencial se transforma em um tabuleiro de xadrez, no qual os candidatos precisam demonstrar agilidade e traquejo político para atrair mais aliados e eleitores. Já não se fala mais de uma candidatura de “união nacional”. A origem do vice assusta parte da burguesia nacional temente de uma onda crescente de estatização da economia e da influência dos sindicatos. Juscelino Kubitschek de Oliveira banca a escolha do ex-ministro do trabalho de Getúlio Vargas, João Goulart. Este também é estancieiro gaúcho. A campanha tem como mote “cinco anos em cinco” e a transferência da capital brasileira do Rio de Janeiro para Brasília. A “capital da esperança” como gosta JK de se referir a ela. O governo se mostra conciliador, anistia a todos, especialmente aos militares, atrai o capital internacional para investir na indústria automobilística e ressuscita o slogan “governar é abrir estradas”. Por outro lado, rompe com o FMI que alerta para a gastança e a inflação à vista. Brasília quebra o caixa do governo. Mas JK é bom de marketing, continua um bom dançarino nas casas noturnas do Rio e amigo de boêmios cariocas, como escritores e artistas. Deixa-se fotografar em aviões e carros e ganha o titulo de Presidente Bossa Nova, música de autoria de Juca Chaves. Passa as chaves do cofre federal para o sucessor Jânio Quadros. O cofre está vazio.


Fonte: Jornalista Heródoto Barbeiro / Record News-SP -
(Postagem realizada na cidade de São José do Rio Preto - SP).






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