sábado, 7 de janeiro de 2017

Augusto dos Anjos - O MAR

O mar é triste como um cemitério;
Augusto dos Anjos
Cada rocha é uma eterna sepultura
Banhada pela imácula brancura
De ondas chorando num alvor etéreo.

Ah! dessas vagas no bramir funêro
Jamais vibrou a sinfonia pura
Do amor; lá, só descansa, dentre a escura
Treva do oceano, a voz do meu psaltério!

Quando a cândida espuma dessas vagas,
Bambando a fria solidão das fragas,
Onde a quebrar-se tão fugaz se esfuma,

Reflecte a luz do sol que já não arde,
Treme na treva a púrpura da tarde,
Chora a Saudade envôlta nesta espuma!

         Pau d'Arco, 1902.
     ( O Comércio, 26/II/1902),

Fonte: Do Livro EU -  Augusto dos Anjos


Nenhum comentário:

Postar um comentário