As pessoas têm o direito de pensar e enxergar a vida além daquilo que enxergam e entendem. De fato, como compreender a preciosidade da nossa vida se não tivermos esperança de futuro infinito e belo? E quem nos pode proporcionar essa esperança da maravilha da nossa vida? Um belo dia, um senhor famoso, um grande intelectual, me disse: “Padre Claudio, eu tenho inveja do senhor!” Mas eu repliquei: “Como? O senhor tem tudo, não lhe falta nada e além do mais é reconhecido internacionalmente pela sua grande arte e pensamento!” Porém, ele retrucou: “Sim, eu tenho tanta fama, mas não tenho fé. No entanto, você, padre Claudio, tem fé”. Percebi que essa pessoa tão rica em todos os sentidos humanos reclamava da falta da experiência de Deus na sua vida. Não conseguia viver essa dimensão de fé em Deus. Quantas pessoas todos os dias manifestam esse desejo, mas não conseguem viver a experiência de Deus? É verdade também que muitas outras pessoas dão um grande testemunho de fé, e aqui quero lembrar a filha de Deus, Paula Novellino, que faleceu quarta feira, 04.01.2017. Uma mulher de muita fé. Eu agradeço a Deus pela sua vida que nunca se acaba. Dito isso, podemos dizer claramente que a nossa vida tem cada vez mais sentido e importância, na medida em que fizermos a experiência de Deus na nossa história. O salmo 41 das Sagradas Escrituras nos convida a colocar no centro da nossa vida essa experiência de fé no Senhor. Leia atentamente:
“Como a corça anseia pelas águas vivas, assim minha alma suspira por vós, ó meu Deus.
Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei contemplar a face de Deus?
Minhas lágrimas se converteram em alimento dia e noite, enquanto me repetem sem cessar: Teu Deus, onde está?
Lembro-me, e esta recordação me parte a alma, como ia entre a turba, e os conduzia à casa de Deus, entre gritos de júbilo e louvor de uma multidão em festa.
Por que te deprimes, ó minha alma, e te inquietas dentro de mim? Espera em Deus, porque ainda hei de louvá-lo: ele é minha salvação e meu Deus. Desfalece-me a alma dentro de mim; por isso penso em vós do longínquo país do Jordão, perto do Hermon e do monte Misar.
Uma vaga traz outra no fragor das águas revoltas, todos os vagalhões de vossas torrentes passaram sobre mim.
Conceda-me o Senhor de dia a sua graça; e de noite eu cantarei, louvarei ao Deus de minha vida.
Digo a Deus: Ó meu rochedo, por que me esqueceis? Por que ando eu triste, sob a opressão do inimigo?
Sinto quebrarem-se-me os ossos, quando, em seus insultos, meus adversários me repetem todos os dias: Teu Deus, onde está ele?
Por que te deprimes, ó minha alma, e te inquietas dentro de mim? Espera em Deus, porque ainda hei de louvá-lo: ele é minha salvação e meu Deus.”
O salmo nos revela aqui a saudade do fiel do Templo e de Deus. Sim, porque o autor declara como foi bom estar em Sião no passado e agora lamenta estar longe de tudo isso, em exilio. Exilado numa terra estrangeira. Como nós hoje quando estamos longe da própria terra natal, dos familiares, perdemos o entusiasmo e espontaneidade da vida. Sentimo-nos isolados e sós. E o salmista nos paragona a uma corça que anseia pelas águas vivas que refletem o drama de estar longe de Deus, do seu Templo. Longe da sua identificação religiosa e vivência natal. O suplicante vive cheio de saudade, que torna o seu presente bastante sofrido e, ao mesmo tempo, alimenta a esperança de um retorno às suas origens. As lembranças do passado, das suas manifestações religiosas, o tornam inquieto e triste. E as águas que se revoltam e passam por cima da pessoa, biblicamente falando, significam que gera caos, isto é, produz morte. Para compreender melhor tudo isso, quero acrescentar umas palavras do papa Francisco:
"Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o evangelho! Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta fora para procurar e encontrar. Decididamente, pensemos a pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais afastados, daqueles que habitualmente não frequentam a paróquia. Também eles são convidados para a Mesa do Senhor." A respeito disso, o papa nos propõe um propósito para alimentar tudo isso. “Difundir, sustentar e valorizar os Exercícios Espirituais, pois os homens e as mulheres de hoje têm sede de encontrar Deus e conhecê-lo e não só de ouvir falar”. Portanto, Deus não é simplesmente uma proposta de vida, mas é a nossa vida. É Ele a nossa fonte de vida. Por isso, somos sedentos Dele, nunca cansaremos de atingir da sua fonte.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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