quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

A VIDA QUE TENTAMOS PRESERVAR

Uma criança luta entre a vida e a morte. Não consegue nem mais chorar, somente os seus olhos estão estarrecidos, levantando as mãozinhas para o alto. Essa imagem triste e desoladora é a realidade de uma humanidade que vive em constante perigo. Às vezes, temos essa consciência, mas na maioria das vezes somos inconscientes. Não é somente a covid-19, mas inúmeras situações de perigo que enfrentamos diariamente. A partir de uma situação pessoal à comunitária, da própria cidade ao próprio país, das nações ao planeta inteiro, estamos em constante perigo de vida.

Lembro-me de um jovem que me disse alguns anos atrás: “De noite, deitado na cama, eu fico olhando o teto do quarto e, no entanto, a companheira dorme tranquilamente!” Uma perfeita imagem de maneira diferente para enfrentar a realidade. Tem gente que se desespera, entra em pânico e tem outra que não está nem aí, ou não se importa com nada. A nossa humanidade está dividida ao enfrentar a história. E essa divisão gera sempre mais separações. Com isto, é evidente que enfraquece a convivência humana, levando-a a contraposições de desconfiança, de inimizade, de hostilidades e ódios.

Essa situação leva os povos a se enfraquecerem e a não terem a capacidade de se unir para combater tudo aquilo que ameaça a vida da humanidade. Então, eu me pergunto: “Se a gente não consegue discernir as pessoas como irmãos, que tem o mesmo percurso histórico de vida, como podemos nos unir para caminhar juntos e enfrentar juntos o que a vida nos reserva?” A verdadeira pandemia é também essa calamidade de vivermos como inimigos, separados na construção da vida. Não sabemos ir além dos nossos pontos de vista para compreender a realidade.

Aliás, fazemos dessa maneira de compreensão unívoca o absoluto e, portanto, não conseguimos mais ver os outros pontos de vista das outras pessoas. Fazemos das nossas ideologias algo de absoluto, totalitário, fechando assim as portas das convivências fraternas. Creio que para superar tudo isso precisamos partir mais que das ideias das pessoas. São elas que nos interpelam para construir uma humanidade que saiba enfrentar juntos as ameaças da vida. Saber derrotar as pandemias faz parte da vida da humanidade.

É bom reafirmar: temos uma certeza, as pandemias, as ameaças, chegarão mais ainda, porém, o problema é derrotá-las. Como? Isto depende de nós. Se sabemos discernir as realidades a partir das pessoas e não das ideias. Devemos ser mais realistas para discernir a

vida dos outros. Não podemos viver despreocupados, viver no sono da vida, e tanto menos traumatizar a nossa conduta de vida, a nossa convivência. É a sabedoria de andarmos juntos que podemos ter a capacidade de sairmos esperançosos e vitoriosos de vida. E essa caminhada fraterna se constrói na humildade e no serviço, despojados de qualquer desejo ambicioso de títulos e de poder.

Precisamos ter a capacidade de nos revestir de São Francisco para reforçar a nossa condição de servidores. Nem com sono nem traumatizados: continuar a nossa vida.


Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote e doutor em teologia / Belém-PA.




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